Tumulto em avião: psicóloga alerta para a importância do "não" para as crianças
Vídeo de mãe criticando passageira que não quis ceder o lugar na janela para seu filho viralizou e levanta questões sobre os limites para as crianças
Estudiosos da área da educação e psicologia são unânimes ao afirmar que o "não" e a frustração são elementos indispensáveis tanto no processo de construção quanto no de formação de uma criança emocionalmente equilibrada e preparada para os desafios que vão surgindo ao longo da vida adulta.
Posto isso, o vídeo de um desentendimento entre a mãe de uma criança e uma mulher dentro de um avião que viralizou nas redes sociais vem desencadeando debates e muita polêmica.
Nele, uma mãe filma uma passageira sentada ao lado da janela dentro do avião e faz críticas pelo fato da mulher não ceder o lugar para o filho que chorava.
Segundo a mãe, o motivo seria porque a criança estava com medo e o modo de acalmá-la seria viajar na poltrona ao lado da janela.
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Nos últimos anos, o debate sobre o impacto da educação nas novas gerações seguiram um novo rumo, principalmente no que diz respeito à gestão da frustração e ao papel do "não" na formação de crianças.
Segundo Kamila Vilela de Souza, orientadora parental em Disciplina Positiva, especialista em TEA e desenvolvimento infantil, mestre e doutoranda em Psicologia Institucional, lidar com a negativa de alguma situação ou alguma coisa pode se tornar uma das mais importantes experiências na formação da resiliência, autonomia e habilidades sociais de uma criança.
"Quando o adulto superprotege uma criança, ele tira dela possibilidades de experimentar, de ficar frustrada, de gerar recursos para lidar com essa emoção. As crianças que não se frustram não adquirem as ferramentas necessárias para a vida", explica Kamila Vilela.
Mas o que é a frustração? A psicóloga define como uma reação que se sente quando um indivíduo quer ou espera por algo que não acontece.
De acordo com Kamila Vilela, é um sentimento importante no desenvolvimento infantil, já que colabora com o desenvolvimento de importantes habilidades.
"Deixar as crianças viverem a frustração, não é deixá-las na frieza e abandono afetivo, mas é a construção de um caminho potente para o ensino da inteligência emocional. Esse caminho deve ser de respeito, validação, companhia e atenção", pontua.
Não dar para ter tudo na vida
A psicóloga alerta ainda para o fato de que "a vida frustra" - e mais, trata-se de uma verdade bastante dolorosa.
"É importante segurança e conexão para que o cérebro saia do sistema de alarme (sim, a frustração estimula a produção de hormônios de estresse). Choro se acolhe, estratégias são ensinadas e exemplos são refletidos", afirma.
Veja alguns outros pontos importantes abordados pela psicóloga:
1) Quais as formas de dizer não para uma criança? Ou somente o “não” já é bastante?
No momento da raiva, é essencial que o adulto da situação se mantenha calmo para que possa co-regular essa criança. Busque se conectar com a criança e, só depois, ajudá-la a refletir sobre melhores estratégias para agir de uma próxima vez.
Muitos pais têm medo de dizer “não” para os filhos por inúmeros motivos, como por exemplo: não querem causar raiva ou tristeza nos filhos, querem agradar a todo momento, acreditam que eles devem ter tudo o que desejam para que sejam felizes, querem que os filhos tenham mais do que eles receberam quando eram crianças, etc. Mas, na verdade o “não” é uma importante e essencial demonstração de amor e cuidado.
2) Qual conselho você deixa para os pais que não sabem dizer "não" para os filhos?
Na infância, é importante que as regras sejam claras e consistentes, e o “não” seja consciente e não negociado conforme o humor ou cansaço dos pais. É importante ser coerente, firme e gentil.
Uma educação permissiva pode trazer várias consequências no desenvolvimento, como baixa autoestima, problemas de comportamento, impulsividade, irresponsabilidade e incapacidade para resolver problemas.
Assim, como uma educação autoritária, pode trazer como consequência tendência à mentira, medo, submissão e dificuldade na autorregulação, etc.
VEJA O VÍDEO DA CONFUSÃO NO AVIÃO: