Criança de 9 anos que matou animais é psicopata? Especialistas explicam o que pode ser caso
Após o ocorrido, a criança, de apenas 9 anos de idade, admitiu ser o responsável e afirmou que não era a primeira vez que machucava animais
No último domingo (13), um caso chocante ocorreu em Nova Fátima, Paraná. Uma criança de apenas 9 anos invadiu uma fazendinha hospital veterinário e matou 23 animais, entre eles 20 coelhos e três porquinhos-da-índia. O incidente rapidamente viralizou nas redes sociais, levantando questões sobre a origem de comportamentos violentos na infância e a relação com possíveis transtornos mentais, como a psicopatia.
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A proprietária do estabelecimento informou que o menino já havia visitado o local no dia da inauguração e que, no dia do ataque, permaneceu por 40 minutos antes de cometer os maus-tratos. Após o ocorrido, ele admitiu ser o responsável e afirmou que não era a primeira vez que machucava animais. Apesar da gravidade do ato, a polícia registrou o caso sem implicações criminais, já que, por ter apenas 9 anos, a criança é inimputável — ou seja, não pode ser responsabilizada criminalmente. A ocorrência foi encaminhada ao Conselho Tutelar.
Diante do ocorrido, surge a pergunta: atos violentos na infância podem ser sinais de psicopatia?
De acordo com o Pós PhD em neurociências, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, esse tipo de comportamento em uma criança é um forte indicativo de que algo está errado e pode sinalizar psicopatia ou outros transtornos de comportamento. No entanto, ele ressalta que apenas esses sinais não são suficientes para um diagnóstico definitivo. "Esse tipo de comportamento durante a infância pode ser um grande sinal de alerta, mas não o suficiente para definir um diagnóstico. Somente um profissional de saúde pode avaliar e determinar a situação, além de indicar os cuidados adequados para cada caso", afirma o especialista.
Dr. Fabiano, que também é autor de um estudo publicado na revista científica Ibero-Americana de Humanidades Ciências e Educação sobre o serial killer Jeffrey Dahmer, explica que a psicopatia tem raízes em disfunções cerebrais que impactam diretamente a empatia e o controle de impulsos. "Um exemplo dentro da psicopatia ou comportamentos violentos está na disfunção da ocitocina, relacionada à empatia, assim como no excesso de dopamina, que propõe comportamentos de risco e inconsequentes", explica ele.
O que acontece no cérebro de uma pessoa com psicopatia?
Segundo o Dr. Fabiano, a psicopatia é caracterizada por alterações em processos cerebrais fundamentais para o convívio social, especialmente no que diz respeito à empatia e ao controle de impulsos. A ocitocina, conhecida como o "hormônio do amor", tem um papel central na nossa capacidade de nos conectar emocionalmente com outras pessoas. Em indivíduos com traços psicopáticos, a sensibilidade à ocitocina pode ser comprometida, tornando-os menos empáticos e mais indiferentes ao sofrimento alheio.
“A ocitocina, neurotransmissor relacionado à empatia, pode ter a sua sensibilidade reduzida em indivíduos com traços psicopáticos, o que dificulta a construção de conexões sociais”, explica Dr. Fabiano.
Além disso, o excesso de dopamina no cérebro de psicopatas contribui para sua impulsividade e sua busca constante por situações de risco. Dopamina é o neurotransmissor ligado ao prazer e à recompensa, e quando liberada em excesso, pode induzir comportamentos imprudentes, desrespeito pelas consequências e dificuldade em aprender com erros passados.
“Já o excesso de dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e recompensa, contribui para a impulsividade e busca por riscos, características presentes em alguns casos”, complementa o neurocientista.
Fatores genéticos e sociais
Apesar de a psicopatia ser comumente associada a fatores biológicos, como a estrutura e o funcionamento cerebral, ela não pode ser vista de forma isolada. A genética desempenha um papel importante, mas o ambiente em que a criança cresce e os fatores sociais também influenciam seu comportamento. Traumas na infância, negligência parental, abuso físico ou emocional, exposição à violência e a ausência de laços afetivos seguros podem colaborar para o desenvolvimento de traços psicopáticos.
“Mas além das disfunções cerebrais, a psicopatia também é influenciada por fatores como a genética, o ambiente, a estrutura cerebral e alguns fatores sociais”, pontua Dr. Fabiano. Em outras palavras, não se trata apenas de uma questão de biologia, mas sim de um complexo conjunto de influências que afetam o desenvolvimento psicológico e comportamental de um indivíduo.pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_06
O que deve ser feito em casos como esse?
Quando uma criança manifesta comportamentos violentos, como o caso de matar animais, é imprescindível que ela receba acompanhamento psicológico ou psiquiátrico o mais rápido possível. Embora crianças não possam ser diagnosticadas formalmente com psicopatia — pois o transtorno de personalidade antissocial só pode ser identificado após os 18 anos —, elas podem apresentar traços que, se não forem tratados, podem evoluir para transtornos de comportamento mais graves na vida adulta.
O Conselho Tutelar é o órgão responsável por zelar pelos direitos da criança e do adolescente, e sua atuação em casos como esse é fundamental para garantir que a criança receba o suporte necessário, seja por meio de terapia ou outros tipos de intervenção social. A assistência psicossocial é essencial tanto para a criança quanto para sua família, já que o ambiente doméstico pode ter grande influência no comportamento infantil.
Psicopatia infantil: um diagnóstico precoce é possível?
Embora seja prematuro falar de psicopatia em uma criança tão jovem, há um consenso entre os especialistas de que intervenções precoces podem fazer uma diferença significativa no desenvolvimento emocional e social da criança. Traços como crueldade com animais, falta de remorso, mentiras frequentes e comportamentos manipuladores são sinais que precisam ser observados de perto.
A psicopatia infantil, muitas vezes associada a um diagnóstico de transtorno de conduta, pode ser tratada com intervenções psicológicas e psiquiátricas, que incluem terapia comportamental, educação parental e, em alguns casos, medicação para ajudar a controlar impulsos.
O caso do menino de 9 anos que matou 23 animais em Nova Fátima serve como um triste lembrete de que comportamentos violentos na infância não devem ser ignorados. Embora esses atos não sejam suficientes para um diagnóstico de psicopatia, eles são sinais de alerta que indicam a necessidade de uma intervenção profissional.
Como explicou o Dr. Fabiano de Abreu, é fundamental que esses comportamentos sejam avaliados por profissionais de saúde para determinar a melhor abordagem terapêutica e preventiva. Somente assim será possível garantir que a criança receba o suporte necessário para seu desenvolvimento saudável, evitando que problemas comportamentais se agravem na adolescência e vida adulta.