Jaleco médico é transmissor de bactérias resistentes, mas crucial para evitar contaminação pessoal
Os locais com mais bactérias localizadas foram o bolso, onde o risco de contaminação era de 51%, e na região do abdômen, com 43%
Uma pesquisa realizada pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) constatou que é possível encontrar nos jalecos usados por profissionais da saúde diversas bactérias nocivas para a saúde. Os locais com mais bactérias localizadas foram o bolso, onde o risco de contaminação era de 51%, e na região do abdômen, com 43%.
Uma segunda pesquisa realizada, desta vez, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), detectou a presença de bactérias em 95,8% dos jalecos médicos analisados. Dentre elas, estava a bactéria Staphylococcus aureus, principal responsável pelas infecções hospitalares.
O jaleco é classificado pela Organização Mundial da saúde (OMS) como Equipamento de Proteção Individual (EPI). A peça é uma importante barreira protetora contra os micro-organismos que ficam expostos no dia a dia de trabalho dos profissionais de saúde.
A dentista Ana Paula Quinteiro Moro aponta que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) considera a questão dos jalecos crucial para a saúde pública: “a Norma Regulamentadora número 32 da Anvisa, que trata da segurança e da saúde no trabalho em serviços de saúde, estabelece que os trabalhadores não devem deixar o local de trabalho com os equipamentos de proteção individual e as vestimentas utilizadas em suas atividades laborais. Isso porque os jalecos, assim como máscaras, luvas, gorros e aventais, podem transportar germes, bactérias, vírus e fungos, sendo um grave risco para a saúde pública. Por isso em alguns estados e cidades brasileiras há leis que proíbem uso dos jalecos fora do ambiente de trabalho”.
A médica dentista levanta os principais motivos para os estudos terem apontado taxas tão elevadas de contaminação: estes índices podem estar relacionados ao contato direto com os pacientes, aliado ao fato de os micro-organismos conseguirem permanecer entre 10 e 98 dias em tecidos como algodão e poliéster. Estudos da UFRJ, do instituto de microbiologia, revelam que alguns tipos de bactérias se mantêm por até dois meses no jaleco e, pelos menos, 90% delas resistem no tecido durante 12 horas.
Logo os próprios estudos confirmam que os jalecos são transmissores potenciais de organismos multirresistentes. Tudo isso aponta para uma necessidade de maior investimento em programas de educação permanente voltados para os aspectos de biossegurança, inclusive nos cursos acadêmicos da área de saúde.
Para a doutora, o ideal seria que cada local de trabalho fosse responsável por recolher, descontaminar e lavar os jalecos para garantir a sua higienização correta: "no entanto, como nem todo hospital ou clínica tem lavanderia, é necessário separar o jaleco do restante das peças do vestuário em casa. Todos esses cuidados são importantes para não contaminar as demais roupas”.
Dicas para otimizar o uso do jaleco dentro das normas de segurança adequadas:
- Use o jaleco somente nas áreas de trabalho;
- Retire o jaleco para ir ao refeitório, banheiro, áreas administrativas do local de trabalho e áreas externas;
-Os jalecos nunca devem ser colocados no armário onde são guardados objetos pessoais;
-Não guarde as vestimentas usadas junto com as limpas;
-Escolha jalecos que sejam do seu tamanho, nem grande ou pequeno demais;
-Use sempre jaleco de manga longa e nunca a suba para ventilação ou conforto para proteger os braços;
-Compre jalecos com os punhos justos com elástico para evitar que a manga entre em contato com contaminantes.
-Além dos jalecos, o uso de máscaras, luvas, gorros, aventais e roupas específicas para o centro cirúrgico deve ser controlado de forma eficaz e segura.