Mulher que enviou 65 mil mensagens para homem pode sofrer de Transtorno Borderline, diz psicóloga capixaba
Jacqueline Ades ficou conhecida após ser presa por enviar 65 mil mensagens para um homem que conheceu em um site de paquera
Uma mulher foi presa após ter sido acusada de enviar 65 mil mensagens de texto para um homem da cidade de Phoenix, nos Estados Unidos. Eles se conheceram em julho de 2017, por um site de paquera. De acordo com a psicóloga capixaba Mariana Grassi Maciel Garcia, ela pode sofrer do Transtorno de Personalidade Borderline.
"Nesse caso, nota-se um transtorno de personalidade, que causa um círculo vicioso de expectativas negativas e profecias autorrealizáveis. A mulher quer ter o parceiro como um objeto de desejo apenas dela, no qual ele não pode abandoná-la, pois se isso acontecer, ela atentará contra a vida dele e dela mesma. Para essa mulher, é melhor vê-lo morto do que vê-lo em um relacionamento amoroso com outra pessoa".
O Transtorno de Personalidade Borderline é uma condição mental grave e complexa. "Embora não exista a possibilidade de fecharmos um diagnóstico conclusivo nesse caso, as pessoas acometidas pelo transtorno Borderline tendem a ter relacionamentos intensos e frustrantes, cheios de grandes expectativas, que se degeneram em brigas ferozes e desapontamentos terríveis".
O medo do abandono pode ser uma das causas do transtorno. "Com medo do abandono, essas pessoas acabam afastando o objeto de desejo com exigências irreais, raiva implacável e expectativas (que acabam se concretizando) de que serão rejeitadas. Essa mulher exigiu do parceiro (com o qual ela saiu pouquíssimas vezes e ainda nem mantinha um relacionamento estável) que ele lhe prometesse amor eterno, que ficasse só com ela e que a assumisse como num matrimônio", ressaltou a psicóloga.
Nesses casos, de acordo com a psicóloga, a frustração pode acabar se transformando em raiva. "Toda a raiva externalizada nas mensagens enviadas, porque suas expectativas não foram correspondidas, fez com que o parceiro a deixasse antes mesmo de começar um possível relacionamento. Pessoas com este transtorno tendem a encarar essas perdas reais ou imaginárias com tentativas de tirar a própria vida ou automutilação. Além disso, costumam ter repetidos relacionamentos destrutivos, assim como baixa autoestima, podendo exibir agressividade e comportamento sexual impulsivo".
Esses sites oferecem uma boa opção para quem quer constituir um relacionamento ou apenas ter com quem estar em determinada situação, mas de acordo com a profissional, é preciso estar sempre em alerta. "É necessário prestar atenção e verificar a idoneidade da pessoa com a qual está mantendo esse relacionamento virtual antes de marcar encontros pessoais. É necessário buscar informações sobre o indivíduo nas redes sociais, cadastro de bancos e policiais, além de fazer o máximo de perguntas possíveis sobre a vida pessoal e relacionamento familiar, verificando a possível contradição das respostas".
Ficar de olho e marcar os encontros em locais movimentados também é de extrema importância. "Após observar esses dados, procure marcar o primeiro encontro em locais públicos, como shoppings, praças, bares e restaurantes, para evitar ficar completamente sozinho (a) com alguém que não confia e conhece".
Em toda situação que esteja ligada a relacionamentos ou encontros casuais, é importante atenção de ambas as partes. "É sempre muito importante verificar a história de vida e as atitudes do parceiro (a) com o qual deseja manter um caso amoroso, a fim de evitar o início de um relacionamento abusivo e destrutivo", finalizou.
Relembre a história
Identificada como Jacqueline Ades, a mulher conhecida por ser presa após enviar 65 mil mensagens para um homem que conheceu em um site de paquera, tem 31 anos. Durante coletiva transmitida pela KPHO, afiliada da rede CBS, ela justificou a atitude: "Eu o amo." A mulher também contou que os dois tiveram três encontros.
A polícia disse que após se conhecerem, Jacqueline começou a enviar milhares de textos, invadiu a casa do homem e foi até o trabalho dele, alegando ser a esposa. Ela foi presa após as mensagens ficarem mais agressivas. Jacqueline foi acusada por assédio, antissemitismo e ameaça de morte. "Não tente me deixar... Eu vou matá-lo. Não quero ser uma assassina. Senti que tinha encontrado a minha alma gêmea e que nos casaríamos e tudo ficaria bem", disse a moça na ocasião.
Ela contou que nunca teve a intenção de machucar ou ferir o homem e não o culpou pela prisão. Questionada sobre o motivo de ter enviado tantas mensagens, Jacqueline respondeu: "Porque todo mundo só quer levar. Mas se você apenas der e não parar de dar, de repente receberá muito. Sou uma pessoa que descobriu o amor".
Ao classificarem as 65 mil mensagens de texto como ameaçadoras e não amorosas, Jacqueline explicou que, "quando você encontra amor, nem tudo é perfeito". E disse que ficaria presa se o amado assim desejasse: "Se (ele) quiser que eu vá para a cadeia, eu deveria ir para a cadeia".
Transtorno de Personalidade Borderline
Enquanto boa parte da humanidade teme a rejeição, um borderline simplesmente tem algo parecido com a sensação de morte ao ser — ao simplesmente se imaginar — rejeitado ou abandonado. E isso não acontece apenas nos relacionamentos amorosos, mas, sim, em qualquer nível de envolvimento, seja familiar, de amizade ou mesmo no trabalho.
Entre os sintomas do transtorno, que costumam aparecer na adolescência ou na fase adulta, estão também sentimentos negativos frequentes — que são quase sempre confundidos com depressão —, baixa autoestima, autoimagem distorcida, comportamento imprudente, flutuações de humor e explosões de raiva difíceis de controlar, mas de curta duração.
O tratamento com remédios, aliás, busca ajudar especialmente nestas duas últimas manifestações. Há casos, por exemplo, em que o psiquiatra escolhe um medicamento que foca na estabilização do humor, outros em que a estratégia é controlar os momentos de ira do paciente.
Uma pesquisa realizada pelo Portal R7 em 2015 aponta um dado impressionante: mais de 50% dos borderlines sofreram abusos quando crianças. A grande maioria relatou casos de abuso sexual, mas há também os abusos morais e negligências emocionais.