Tenho diabetes. Posso utilizar métodos contraceptivos?
Campanha busca desmitificar o uso do contraceptivo para mulheres com a doença e motivá-las a buscar orientação profissional durante a pandemia
Dados do estudo 'Nascer no Brasil: Inquérito sobre Parto e Nascimento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com uma amostra de 24 mil mulheres, de 191 municípios, indicam que 55% das brasileiras, que dão à luz não planejam a gravidez. De acordo com a ginecologista Thaís Ushikusa, esse dado é ainda mais alarmante entre a população de mulheres com diabetes, cerca de 2/3 desse público engravidam de forma não planejada.
De forma geral, uma gestação inesperada resulta em maiores taxas de depressão materna, baixo peso ao nascer do recém-nascido, baixas taxas de amamentação, além de complicações durante a gravidez. Para as mulheres com diabetes, as complicações são ainda mais presentes pela necessidade de um controle das taxas glicêmicas ainda mais assertivo.
"A mulher diabética ao engravidar e se a glicemia não estiver controlada, tem o dobro de chance de ter algum tipo de malformação do feto, maiores chances de ter pressão alta, complicações na própria doença, como a retinopatia- que em casos mais graves pode levar à cegueira. Além disso, o bebê pode nascer prematuro ou muito grande, chamado de bebê macrossomico", explicou a ginecologista.
De acordo com Thaís Ushikusa, um dos problemas para uma gravidez não planejada é o medo e o preconceito de utilizar métodos contraceptivos, como a falta de comunicação entre o endocrinologista e o ginecologista da paciente. "É preciso desmitificar o uso do contraceptivo para mulheres com diabetes e estimulá-las a se conscientizarem de forma segura em relação ao planejamento familiar, que é muito importante para uma gravidez saudável".
Fabiana Couto, fundadora do Movimento Diabética e da Campanha de Conscientização do Dia Mundial da Contracepção, explica que geralmente “as mulheres com diabetes são desencorajadas a utilizar o contraceptivo, pois o ginecologista pode ter receio de que o hormônio do medicamento possa interferir na saúde delas e levá-las a desenvolver as complicações do diabetes mais cedo".
Porém, Fabiana couto que também é psicanalista, orienta que é preciso informar que hoje existem opções de contraceptivos mais seguros para a mulher com diabetes e que possibilitam o planejamento familiar. "A primeira vez que eu fui na ginecologista ela me falou que eu nunca poderia utilizar contraceptivo. Eu estava iniciando a minha vida sexual e fiquei totalmente perdida", contou a psicanalista, portadora da doença.
Segundo Fabiana Couto, as mulheres precisam conhecer o seu próprio corpo e aceitar o tratamento. "No inicio eu não aceitei o meu e me coloquei em muitos riscos. Eu não media a glicemia na frequência necessária, negligenciava a aplicação da insulina, escondia a minha doença. A não aceitação foi o maior problema que tive, hoje falo abertamente sobre isso, porque sei que as pessoas não precisam ter vergonha por ter um problema de saúde. Hoje nós temos muitas opções para serem utilizadas de métodos contraceptivos. Por isso é importante buscar caminhos e apoio", alertou Fabiana Couto.pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_04
Tenho diabetes. Quais métodos utilizar?
A ginecologista Thaís Ushikusa conta que o diabetes aumenta o risco de patologias cardiovasculares. Por isso, o recomendado é que a mulher portadora da doença utilize um método que não aumente esse risco. Geralmente as pílulas, adesivos, anel vaginal ou injeção, possuem estrogênio, esse hormônio faz aumentar a pressão arterial, por isso não são indicados porque podem agravar as doenças do coração.
Contudo, a médica lembra que se a mulher não tem nenhuma complicação do diabetes e tem menos de 20 anos da doença, geralmente as portadoras do diabetes Tipo 2, podem usar qualquer um desses métodos. "Quando falamos de métodos mais indicados, é recomendado aqueles sem estrogênio, existem algumas pílulas que não possuem esse componente, além do DIU hormonal e os implantes. Nenhum desses aumentariam o risco cardiovascular e são indicados como métodos contraceptivos", disse a ginecologista, que orienta que o recomendando é que a paciente converse com o seu ginecologista e após a realização de exames, decidam pelo melhor método.