Pesquisa aponta que perda de peso não é determinante na melhoria da qualidade de vida de mulheres obesas
Pesquisa utilizou referenciais teóricos que defendem que pessoas obesas podem ser saudáveis independentemente do peso corporal
As intervenções tradicionais para o cuidado da obesidade costumam relacionar a saúde com a perda de peso. Para atingir este objetivo, elas propõem dietas e atividades físicas extenuantes. No entanto, um estudo realizado na Faculdade de Saúde Pública da USP demonstrou que a perda de peso não é determinante para obter melhoras na capacidade física, na proteção cardiovascular e na qualidade de vida.
Os pesquisadores acompanharam 58 mulheres obesas durante sete meses em uma intervenção que procurou dar estímulos à prática de atividades físicas prazerosas, sem prescrever dietas. As mulheres que participaram da pesquisa não tiveram redução de peso. O que poderia ser um fator desmotivante, porém, não as impediu de se tornarem mais ativas. As 58 mulheres foram divididas em dois grupos: o grupo intervenção e o grupo controle.
A intervenção
Os pesquisadores propuseram ao grupo intervenção uma abordagem de cuidados semelhante à HAES, porém com um programa de atividades mais intenso. As mulheres deste grupo passaram por aconselhamento nutricional e atividades físicas variadas – desde dança até lutas. Elas participaram, ainda, de uma série de cinco oficinas filosóficas conduzidas por um professor com formação em filosofia e educação física, que levou temas como o desejo e a moralização da saúde para debater com as participantes.
Além de não prescrever dieta, a intervenção não contou com nenhum tipo de restrição calórica. Em vez disso, a nutricionista Mariana e seus colegas de estudo estimularam as voluntárias a comer com base nos sinais de fome, planejar a alimentação e se engajarem em experiências culinárias. Nos últimos dois casos, a motivação foi um relato frequente entre as voluntárias no início da intervenção. Muitas diziam que não planejavam as refeições do dia, não levavam listas ao mercado e não gostavam de cozinhar. Outro ponto importante foi a relação entre comida e emoções.
Já o grupo controle participou de um ciclo de palestras. “A gente achou que não seria ético prescrever uma dieta a esse grupo, já que todo o nosso referencial teórico abordava os efeitos negativos das dietas. Então, a gente optou por fazer um grupo controle que também seguiria os princípios da abordagem HAES, mas seguindo os modelos das intervenções que a gente vê por aí, que são basicamente encontros em grupo com uma frequência definida, seja mensal ou bimensal”, explica Mariana.
No início da intervenção, os pesquisadores coletaram uma variedade de dados quantitativos. Mediram peso, altura, circunferência da cintura e do quadril das mulheres dos dois grupos. As voluntárias passaram por avaliações de condicionamento aeróbico, nível de atividade física e função muscular. Elas responderam a um questionário que procurava avaliar parâmetros de percepção de qualidade de vida e percepção sobre imagem corporal. Também foi avaliado o consumo alimentar das participantes. Por meio de entrevistas individuais e grupos focais, os especialistas coletaram dados qualitativos sobre as experiências dessas mulheres.
Todos esses dados foram comparados com novas medições ao final da intervenção. Não houve mudanças significativas no que diz respeito ao peso, IMC ou circunferência da cintura e do quadril. Porém, os outros dados apresentaram diferenças significativas.
Com informações da USP