"Câncer não é uma sentença", diz paciente que luta contra a doença há 16 anos
Após passar por 19 cirurgias e vários tratamentos, Elizabeth Fernandes ajuda pessoas com tumores a encarar a doença de forma mais positiva
Uma batalha de 16 anos e uma lista extensa de vitórias. É assim que a assistente social Elizabeth Maria Fernandes encara o diagnóstico de câncer que recebeu em 2005. A cada conquista, ela acumulava força e coragem para ajudar outras pessoas a lutarem contra a doença de uma forma mais positiva.
Na época, notou o surgimento de um pequeno caroço no seio esquerdo, fez uma mamografia, que não flagrou nenhum tumor. A lesão aumentou de tamanho e ela passou a sentir dor. Foi quando procurou um mastologista, que solicitou um ultrassom. O exame constatou um câncer de mama em estágio avançado.
O nódulo foi removido com biópsia cirúrgica. Dias depois, ela foi submetida a mastectomia radical da mama esquerda com reconstrução imediata e passou por sessões de quimioterapia. O tratamento deu resultado e a assistente social conseguiu se recuperar.
Em 2014, no entanto, a doença voltou, desta vez no esterno, osso que se situa na frente do tórax e que protege o coração juntamente com as costelas. Para conseguir fazer a biópsia pelas costas, Elizabeth teve o pulmão esquerdo paralisado.
O procedimento deu certo, embora o tumor não tenha sido removido de forma cirúrgica. Ela precisou ficar na UTI por uns dias, seguiu em tratamento posteriormente e se recuperou. Dois anos depois, Elizabeth teve uma nova recaída, desta vez no pulmão esquerdo, que necessitou de um novo tratamento.
Em 2018 foi necessária a realização de uma nova quimioterapia para reduzir as lesões, que voltaram a se manifestar na mama esquerda, esterno e pulmão esquerdo.
No ano de 2019, Elizabeth voltou a sentir dores e foi submetida a 20 sessões de tratamento no Instituto de Radioterapia Vitória (IRV), com o objetivo de reduzir o desconforto que ela sentia.
“A radioterapia reduz o tumor e diminui o processo inflamatório que vem junto. Um dos primeiros efeitos que aparece nesta situação quando tem invasão do osso é diminuir a intensidade da dor”, explica o médico Nivaldo Kiister, especialista em radioterapia do IRV.pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_04
Pensamento positivo nos tratamentos
Elizabeth tem consciência de que recaídas podem ocorrer e se mantém vigilante, porém com pensamento positivo. Desde 2020, ela tem feito quimioterapia e afirma que vai vencer a doença mais uma vez.
Mesmo com pandemia, a assistente social não deixou de cumprir todas as etapas do tratamento, que já dura oito meses, nem contraiu a Covid-19.
“A medicina modernizou. Em 2005 não tinha as medicações que eu tomo agora. Mesmo tendo um câncer com metástase, consigo viver bem, com qualidade de vida, com alegria. É isso que procuro transmitir no meu Instagram: "é possível. Porque muita gente acha que está morta! Que tem metástase e já morreu. A gente tem que vencer para viver. A vida é o nosso maior bem”, diz Elizabeth.
Nesta sexta-feira (02), a assistente social conversou com a reportagem TV Vitória/RecordTV. Veja abaixo a entrevista na íntegra:
Elizabeth tem na filha Amanda, de 20 anos, a força necessária para enfrentar um dia de cada vez. É ela que a ajuda a tirar fotos, a gravar vídeos e a postar no perfil do Instagram.
“Minha filha tinha 4 anos quando descobri o primeiro tumor. Aos 7 anos, ela já fazia curativo em mim. Ela é minha companheira e me ajuda muito neste trabalho que faço na internet e que está ajudando tantas pessoas. Recebo muitas mensagens de pessoas que se dizem inspiradas pela minha forma de ver a vida, que passam a ter mais esperança. E quando deixo de publicar vídeo novo, recebo cobranças”, conta Elizabeth, cujo Instagram é o @elizabethfernandes01.
Como ocorre a metástase
O oncologista especialista em radioterapia Nivaldo Kiister explica que o câncer metastático requer vigilância constante do paciente, pois a doença pode voltar.
“Metástase ou doença metastática é o câncer que deixou seu local inicial e apareceu uma raiz numa outra parte do corpo. É preciso estar sempre atento, principalmente quando se trata de câncer de mama. Geralmente, consideramos o paciente curado após cinco anos, na maioria dos tumores. Mas nos casos de tumor de mama e melanoma, não podemos usar esse critério. Tenho uma paciente em que a doença apareceu 25 anos depois”, explicou.
Entenda o que é a quimioterapia
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, a aqimioterapia é um tratamento que utiliza medicamentos para destruir as células doentes que formam um tumor.
Estes medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes do corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e impedindo, também, que elas se espalhem pelo corpo.
Para muitos, o tratamento é uma possibilidade de cura da doença, para outros, oferece mais qualidade e tempo de vida. "A quimioterapia é uma medicação, que na maioria dos casos é feita de forma venosa, então é um soro na veia, mas tem também as terapias orais, com medicamentos", disse a oncologista Carolina Conopca.
"A gente tem várias fases do tratamento do câncer, muitas vezes a gente faz junto com o tratamento cirúrgico ou com radioterapia. Então podemos fazer antes ou depois da cirurgia, depende da avaliação". A médica completou explicando como funciona o tratamento.
"Nos casos de tumores sólidos iniciais, fazemos a cirurgia e usamos a quimio como adjuvante, para ajudar no tratamento e evitar que esse câncer volte ou espalhe. Isso nos casos em que tentamos cura. Um outro caso é o dos pacientes que não têm mais chance de cura. Nesses casos a gente usa a quimioterapia para controlar a doença, evitar que avance ou se espalhe para outros órgãos", pontuou.
Veja no infográfico abaixo os principais sintomas causados pela quimioterapia:
Cuidados paliativos
Apesar de fundamental, o tratamento causa alguns efeitos colaterais indesejados, e por isso não é indicado para todos os pacientes oncológicos. No caso de pacientes em fase terminal, a quimioterapia traz um sofrimento que poderia ser evitado.
"O paciente que já está em um estágio mais avançado, em cuidado paliativo como a gente chama, é preciso avaliar a tolerância dele ao tratamento, o benfício que esse tratamento realmente vai trazer ao paciente. Se realmente vai ter alguma chance dele responder, de estabilizar essa doença", explicou.
Ainda segundo a especialista, a maior dificuldade dos pacientes é aceitar que aquela é a hora de parar. "É cultural, as pessoas querem tentar tudo a todo custo. Tanto na cultura médica quanto nas culturas familiares, você explicar que não vai mais tratar o câncer é muito difícil", disse.
"Deixar de tratar o paciente a gente nunca deixa. A gente dá um suporte, para não deixar o paciente sentir dor, ter vômito, enjoo, ansiedade, depressão que é muito comum nessa fase", destacou a oncologista.
Esse é o caso de quase metade dos brasileiros.
"Suspender o tratamento oncológico muitas vezes têm orientação, a tolerância desse paciente muitas vezes não é mais adequada e a resposta do tumor naquela fase pode não ser mais adequada. Mas desvilcular essa necessidade de tratar o câncer é ainda um assunto muito complexo no nosso país", reforçou.
Veja no vídeo abaixo a explicação da médica pneumologista e paliativista, Waleska Cintra, sobre como funcionam os tratamentos paliativos para pacientes oncoló´gicos:
Tire suas dúvidas sobre a rotina de pacientes oncológicos
É necessário mudar a rotina diária durante o tratamento?
De acordo com especialitas, o paciente pode manter as atividades de trabalho normais, devendo comunicar ao médico qualquer reação do tratamento.
Sono: é importante dormir bem e repousar, principalmente após receber a aplicação. Isso porque um corpo descansado responde melhor ao tratamento e ajuda a reduzir os efeitos desagradáveis que ele pode causar.
Outros medicamentos: o paciente deve informar ao médico se possui outro problema de saúde e se toma outros remédios.
Bebidas alcoólicas: são permitidas, desde que ingeridas em pequenas quantidades. É proibido tomar bebidas alcoólicas poucos dias antes ou poucos dias após receber a aplicação da quimioterapia; e quando o paciente estiver tomando antibióticos, tranqüilizantes ou remédios para dormir.
Queda dos cabelos: caso ocorra, é importante saber que o cabelo voltará a crescer quando acabar o tratamento ou até mesmo antes. Para contornar esse desconforto, podem ser usados bonés, perucas, lenços etc.
Menstruação: as mulheres que menstruam podem apresentar algumas alterações no ciclo menstrual o fluxo de sangue do período pode aumentar, diminuir ou parar completamente. Se isto acontecer, o médico responsável deve ser comunicado. No entanto, após o término do tratamento, o ciclo menstrual retornará ao normal.
Tratamento dentário: só deve ser feito mediante autorização do médico.
Atividades sexuais: a quimioterapia não interfere nem prejudica as relações sexuais, que podem ser mantidas normalmente. Vale ressaltar que a gravidez deve ser evitada durante o tratamento.
Por isso, homens e mulheres devem usar preservativo (camisinha) em todas as relações sexuais, e as mulheres também devem usar pílulas anticoncepcionais se o médico prescrever.
Veja os cuidados especiais para o paciente em tratamento de quimioterapia
- Ao fazer a barba, ter cuidado para não se cortar
- Evitar retirar cutículas e ter cuidado ao cortar as unhas
- Em caso de ressecamento da pele ou descamação, passar hidratante que não contenha álcool
- Não usar desodorantes que contenham álcool
Sobre medicamentos:
Alguns medicamentos, quando administrados fora da veia, podem causar lesões do tipo queimaduras, que, quando não tratadas, podem causar algumas complicações.
Podem surgir dores, queimação, inchaço, vermelhidão no braço e outros sintomas, que podem ser sentidos durante a injeção ou algum tempo depois. Caso isso aconteça, a equipe médica deve ser avisada.
Em casa, o paciente pode tomar algumas medidas:
- Lavar o braço com água e sabão;
- Mergulhar o braço em água gelada durante 20 minutos, várias vezes ao dia, até que desapareça a vermelhidão;
- Manter o braço elevado o maior tempo possível.
Situações o paciente em tratamento quimioterápico deve procurar o médico
O paciente deve retornar ao hospital imediatamente em caso de:
- Febre por mais de duas horas, principalmente igual ou acima de 38°C;
- Manchas ou placas avermelhadas no corpo;
- Sensação de dor ou ardência ao urinar;
- Dor em qualquer parte do corpo inexistente antes do tratamento;
- Sangramentos que demoram a estancar;
- Falta de ar ou dificuldade de respirar;
- Diarreia por mais de dois dias.
A cada retorno, é importante que o enfermeiro ou médico sejam informados sobre tudo o que o paciente sentiu depois que recebeu a quimioterapia.