Xixi na cama após os cinco anos pode ser um distúrbio hereditário
São vários os fatores que auxiliam o diagnóstico da enurese, mas pais que sofreram durante a infância podem ter filhos com o mesmo transtorno
A perda de urina involuntária durante a noite acomete 15% das crianças acima dos cinco anos de idade. O transtorno que é denominado enurese, popularmente conhecido como xixi na cama, acontece pela imaturidade do sistema urinário e tem com um dos principais fatores de risco, a genética.
José Murilo B. Netto, urologista pediátrico e chefe da disciplina de Urologia na Universidade Federal de Juiz de Fora, explica que a enurese é multifuncional, ou seja, são vários os fatores internos e externos que podem ser responsáveis pela perda involuntária da urina. "Ao contrário do que muitos imaginam, as questões genéticas são grandes evidências. "Se um dos pais foi enurético, a chance do filho ser é de 44%. Quando pai e mãe foram enuréticos, as chances sobem para 77%", ressalta.
Os distúrbios miccionais, muitas vezes, não são diagnosticados nas consultas rotineiras ao pediatra. É importante que os pais ou cuidadores observem os sinais para o que o diagnóstico seja dado feito com mais precisão e o tratamento iniciado o quanto antes. "O amadurecimento do sistema urinário faz parte da fase de desenvolvimento infantil, por este motivo, a atenção precisa ser redobrada quando os episódios de escapes noturnos acontecem frequentemente após os cinco anos de idade", alerta o especialista.
Um dos maiores equívocos da sociedade é relacionar o xixi na cama com preguiça ou "birra" infantil. Comparações com outras crianças, ou até mesmo entre os irmãos, é outro erro que precisa ser evitado, uma vez que o crescimento é individual e o amadurecimento do sistema urinário não é diferente. "Além da genética e questões emocionais, fatores fisiológicos como bexiga pequena ou hiperativa para a idade, problemas estruturais no trato urinário, deficiência de secreção de vasopressina noturna - substância que diminui a produção de urina noturna - e problemas de sono que podem ocasionar dificuldades ao acordar, são também relacionados a enurese", explica o urologista pediatra.
Pesquisa
Um estudo feito no grupo de pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) observou que pais que foram punidos por causa da enurese quando eram crianças tendem a repetir esse comportamento punitivo com os filhos. De maneira geral, eles podem ajudar no tratamento dando apoio à criança, ajudando-as a compreender os sintomas, não punindo, procurando atendimento médico especializado, com profissional apto para lidar com enurese, aderindo e seguindo as instruções do tratamento proposto. No caso daqueles que já tiveram enurese, passar a experiência, de forma positiva, a seus filhos e, mostrar, que assim como eles, as crianças também ficarão curadas é outro fator motivacional para a cessão dos sintomas.
A enurese pode ser tratada com orientações comportamentais e, em alguns casos, com medicamentos. "A parte fundamental do tratamento é a compreensão familiar. Evitar a punição, repreensões ou até mesmo sentimento de culpa e frustração", completa José Murillo B. Netto.