Xenotransplantes: "Estamos vivenciando um marco histórico", afirma cirurgião
Na entrevista especial deste domingo (16), Alberto Stein, médico especializado em transplante hepático e cirurgião robótico, fala sobre a importância da tecnologia e os gargalos em torno da doação de órgãos
Por mais óbvia que possa parecer, a frase "não há transplante sem doador", precisa ser amplamente reforçada. E isso, porque o maior gargalo a ser superado, quando se fala em conscientização a respeito da doação de órgãos, ainda é a negativa familiar.
Segundo dados do Registro Brasileiro de transplantes publicado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, o Espírito Santo realizou de janeiro a março de 2024 26 transplantes de Rim, 16 de Fígado e 3 de coração.
>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Entre no nosso canal do Telegram!
Números, considerados por especialistas, melhores quando comparados com o mesmo período do ano passado. Ainda assim, há muito o que ser superado. Apesar da ampla divulgação e esclarecimentos, existem inúmeras dúvidas em torno do assunto.
Na entrevista deste domingo, vamos esclarecer as principais delas. Para isso, a reportagem conversou com o médico especializado em Transplante Hepático e Cirurgião Robótico, Alberto Stein. Em pauta, tecnologia, cirurgia robótica e os xenotransplantes.
1. O que é transplante de órgãos e tecidos?
Alberto Stein - Transplante é quando substituímos um órgão ou tecido que entrou em falência irrecuperável por um novo, para reestabelecer as funções realizadas pelo órgão ou tecido doentes.
2. Quando se faz necessário?
Quando o órgão ou tecido entra em falência irrecuperável das suas funções (exemplo o Rim para de funcionar necessitando de Hemodiálise, o coração para de bombear o sangue adequadamente causando insuficiência cardíaca), não passível de tratamento outro a não ser a troca por um novo órgão, caso contrário o risco de morte é elevado.
LEIA MAIS: Tecnologia e novas gerações: "Questões de saúde mental não precisam ser escondidas"
3. Quais tipos de transplantes existem?
Existem Transplante de doador com morte cerebral (o mais comum no Brasil) onde pode ser doados os pulmões, coração, rins, fígado, intestino, pâncreas, ossos, córneas e tecidos.
E existe o doador vivo, onde pode ser doado em vida: um dos rins, parte do fígado, parte do intestino (muito utilizado no Brasil para Transplante de fígado em crianças abaixo de 5 anos e para Transplante de rins.
4. Tecnologia, inovação têm caminhado a passos largos proporcionando técnicas cada vez mais modernas e seguras?
O transplante de órgãos se consolidou como tratamento no final da década de 80 início dos anos 90 quando os cientistas aprenderam a controlar a rejeição com uso dos novos imunossupressores usados até hoje.
Desde então os transplantes salvaram dezenas de milhares de pessoas da morte. Recentemente estamos vivenciando novamente um marco histórico, o Xenotransplante, ou seja, a utilização de órgãos não humanos, no caso órgãos de porco modificados geneticamente, com resultados bem animadores e promissores, mas que ainda necessitam de dados mais maduros para se traduzirem em rotina mundial.
5. Procedimentos robóticos chegaram para ficar? Fale um pouco sobre eles e a importância para a medicina
A cirurgia robótica já é uma realidade, já realizamos diversas cirurgias com auxílio da robótica.
Quanto aos transplantes, podem ser utilizados para a remoção do rim do doador, de parte do fígado de um doador vivo, melhorando a precisão da cirurgia, com menor dor, menor sangramento, pequenos cortes, acelerando a recuperação dos pacientes. E já se realiza, ainda em poucos centros do mundo, todo transplante por robótica.
6. Como o Espírito Santo se apresenta nesse cenário?
Dados do Registro Brasileiro de transplantes publicado pela ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) de janeiro a março desse ano o ES realizou 26 transplantes de Rim, 16 de Fígado, 3 de coração, números melhores no mesmo período de 2023.
Ainda não realizamos transplante de pulmão, de Pâncreas e de intestino no estado.
7. De fato, o Brasil tem o maior sistema público de transplantes do mundo?
Exatamente, mais de 90-95% dos transplantes no Brasil são financiados pelo SUS, podendo ser realizados em Hospitais do próprio SUS ou em hospitais Privados, ou filantrópicos cadastrados e auditados pelos seus resultados. Costumo dizer que o programa de Transplante brasileiro é o Brasil que dá certo.
8. Quais os maiores gargalos/desafios a serem superados quando falamos em transplante e doação de ógãos?
Doadores. Não há transplante sem Doador. Ainda perdemos Doadores pela negativa da família.
Segundo dados da ABTO de janeiro a março desse ano, dos 73 potenciais Doadores do ES apenas 23 foram efetivados e puderam ser Doadores sendo que 24% desses foram negados pela família. Campanhas de incentivo a doação de órgãos, conscientização da população são fundamentais.
Morte encefálica
Apesar da ampla divulgação e esclarecimentos, ainda existem alguns mitos e muitas dúvidas em torno do assunto. Vamos aqui tentar esclarecer alguns deles:
1. Um paciente em morte encefálica tem chance de voltar a viver?
Não, o diagnóstico de morte encefálica é irreversível. O Brasil tem um dos protocolos mais rigoroso no diagnóstico de morte encefálica do mundo.
2. A doação de órgãos deixa o corpo deformado?
Não, após a cirurgia para retirada dos órgãos o corpo é adequadamente preparado para o sepultamento.
3. Quantas vidas um único doador pode salvar?
Cada doador pode salvar até 8 vidas.
LEIA TAMBÉM: Vai ao supermercado? Aprenda a montar uma lista de compras saudáveis