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ENTREVISTA

"O acesso limitado a alimentos nutritivos é um problema global, alerta nutricionista"

Na entrevista especial deste domingo (30), Ariane Dias, nutricionista, Mestre em Ciências e Tecnologia de Alimentos pela Ufes, fala sobre o que significa comer bem e os maiores desafios em torno de uma alimentação saudável

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
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Foto: Arte Folha Vitória/Reprodução Arquivo Pessoal
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Fazer escolhas alimentares que proporcionem saúde e bem-estar. Saber o que comer para manter o corpo e o organismo funcionando adequadamente. 

Em meio ao chamado "terrorismo nutricional", fenômeno que vem atingindo pessoas de todas as idades e classes sociais, talvez o tema "comer bem" nunca tenha sido tão debatido e difundido.

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Dietas restritivas, práticas e discursos que promovem o medo excessivo em relação aos alimentos, dietas ou ingredientes específicos, e muitas vezes, sem base científica sólida, têm provocado grande desinformação. Então, diante de tantos mitos como saber o que é certo e o que errado?

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Como escolher alimentos nutritivos e balanceados, independentemente do custo?Será que as dietas extremamente restritivas são a chave para uma alimentação saudável? E a moda dos produtos "diet" e "light"? 

Serão mesmo sempre mais saudáveis? Pular refeições ajuda a perder peso? São muitos os questionamentos. Para entender todo esse cenário, a reportagem especial deste domingo (30), conversou com a nutricionista Ariane Dias.

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Ariane tem graduação em Nutrição e Mestrado em Ciências e Tecnologia de Alimentos pela UFES, além de graduação em Biologia pelo IFES. Leciona disciplinas na área de Técnica Dietética, Tecnologia dos Alimentos, Nutrição e Dietética, Nutrição Clínica e Dietoterapia. 

É apaixonada pela nutrição e pela realização de pesquisas relacionadas à saúde humana e atualmente é coordenadora do curso de Graduação em Nutrição na Estácio de Sá.

1. O que significa comer bem?

Ariane Dias, Nutricionista - Comer bem significa adotar uma alimentação equilibrada e variada que forneça todos os nutrientes necessários para bom estado de saúde, realização das funções vitais e o bom funcionamento do organismo, como o crescimento, o desenvolvimento e a qualidade de vida. 

Isso envolve consumir uma ampla gama de alimentos em proporções adequadas, incluindo frutas, legumes, verduras, grãos integrais, alimentos ricos em fibras, água e proteínas magras. 

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma dieta equilibrada ajuda a proteger contra a desnutrição em todas as suas formas, bem como contra doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais e câncer.

2. O que é uma alimentação saudável?

Uma alimentação saudável é aquela que atende às necessidades nutricionais do corpo, que promove saúde, deve ser baseada em práticas alimentares com escolhas adequadas, considerando os aspectos comportamentais e afetivos relacionados ao significado social e cultural dos alimentos. 

A escolha de consumo de alimentos deve ser baseada em alimentos in natura ou minimamente processados, como frutas, verduras, legumes, carnes, ovos, feijões, arroz e tubérculos, e evitar alimentos ultraprocessados “industrializados”, ricos em açúcar, sal e gorduras não saudáveis.

3. É preciso ter cuidado com as nossas escolhas alimentares?

Sim, é fundamental ter cuidado com as escolhas alimentares, pois a alimentação está diretamente relacionada à saúde e ao bem-estar. 

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Escolhas inadequadas, e excessos alimentares podem levar ao desenvolvimento de doenças crônicas, como obesidade, hipertensão, diabetes e dislipidemias. Estudos mostram que dietas ricas em alimentos ultraprocessados estão associadas a um aumento no risco de doenças crônicas não transmissíveis.

4. Promover educação sobre o tema é importante? Nas escolas, faculdades…

Sem dúvida, a promoção da educação nutricional é crucial. Introduzir conceitos de alimentação saudável desde a infância ajuda a formar hábitos alimentares positivos que perduram por toda a vida. 

A educação nutricional nas escolas, faculdades pode melhorar o conhecimento e as atitudes em relação à alimentação, levando a escolhas alimentares mais saudáveis.

5. Quais os principais entraves quando falamos em proporcionar uma alimentação balanceada para toda a população?

Os principais entraves incluem o alto custo de alimentos saudáveis, a falta de acesso a esses alimentos, pois a insegurança alimentar é um problema sério no Brasil. A desigualdade social e econômica também desempenha um papel significativo, limitando o acesso de grupos vulneráveis a uma alimentação balanceada. 

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A prevalência de alimentos ultraprocessados mais baratos e convenientes, e a falta de conhecimento sobre nutrição baseada em evidência científica são grandes desafios.

Além disso, a falta de tempo e estilo de vida “moderno” pode dificultar a disponibilidade de tempo para se dedicar à alimentação e à saúde. Para quem não tem muita prática, costume de cozinhar ou disponibilidade (falta de tempo), o momento do preparo das refeições pode ser um desafio. 

É válido destacar que há muitas informações sobre alimentação e saúde nas redes sociais sendo disseminadas, mas poucas são de fontes confiáveis.

6. Qual o cenário atual? Desnutrição, pouco acesso aos alimentos fundamentais para garantir a saúde?

O cenário atual é caracterizado por uma coexistência paradoxal de desnutrição e obesidade. A Organização Mundial da Saúde, sempre traz dados reais sobre milhões de pessoas que ainda sofrem de desnutrição, enquanto a obesidade também está em ascensão, inclusive em países em desenvolvimento. 

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O acesso limitado a alimentos nutritivos e acessíveis é um problema global, exacerbado por fatores econômicos, sociais e ambientais. No Brasil, temos vivenciado esta realidade.

7. O que pode ser feito para mudar? É importante a cooperação entre todas as esferas atuantes na sociedade?

Para promover uma mudança efetiva, é necessária a cooperação entre as esferas do governo, setor privado, organizações não governamentais, instituições de saúde e a comunidade. 

A implementação de Políticas públicas que incentivem a produção e o consumo de alimentos saudáveis, programas de educação nutricional, e iniciativas para tornar alimentos saudáveis mais acessíveis e econômicos são essenciais. 

A colaboração e ações promovidas entre todas as esferas da sociedade pode criar um ambiente mais favorável para escolhas alimentares saudáveis. 

Iniciativas que promovam a conexão entre consumidores e produtores locais, como programas de incentivo ao consumo de alimentos da agricultura familiar e a criação de mercados locais, são essenciais para facilitar o acesso a alimentos saudáveis e nutritivos para toda a população.

8. Por que a obesidade, atualmente, é considerada uma epidemia?

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A obesidade é considerada uma epidemia devido a sua prevalência e ao seu rápido aumento no cenário global e suas graves consequências para a saúde pública. 

O excesso de peso é um dos fatores mais relevantes para outras doenças, como o diabetes e a hipertensão, por exemplo.

Este aumento é caracterizado e impulsionado por mudanças no padrão alimentar, como uma alimentação pouco equilibrada, com maior consumo de alimentos ultraprocessados e calóricos, sedentarismo e uma diminuição na atividade física devido ao estilo de vida moderno e correria do dia a dia da vida das pessoas.

9. É possível economizar e comer bem? Ou, comer bem sem gastar muito?

Sim, é possível comer bem sem gastar muito. Para isso, torna-se necessário organização e planejamento das refeições, disciplina, pesquisa de mercado, comprar alimentos da estação (sazonais, os quais são mais baratos), aproveitar ofertas e promoções, e reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, pode ajudar a economizar. 

Apoiar a agricultura familiar e comprar em feiras locais não só contribui para uma alimentação mais saudável e econômica, mas também fortalece a economia local, promove a sustentabilidade e reduz custos. Além disso, cozinhar em casa e evitar desperdícios são estratégias eficazes para manter uma alimentação saudável e econômica.

10. Como fazer isso, na prática?

Afirmo que para comer bem sem gastar muito é fundamental se organizar. Aqui segue algumas dicas que podem ajudar:

• Planejamento: Planeje as refeições da semana, faça uma lista de compras e evite comprar itens desnecessários.

• Compras inteligentes: Prefira mercados locais e feiras, que muitas vezes oferecem produtos frescos a preços melhores.

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• Aproveitamento integral: Utilize todas as partes dos alimentos, como talos e cascas, que são nutritivos e podem ser incorporados em diversas receitas.

• Cozinhar em casa: Preparar as refeições em casa permite controlar os ingredientes e reduzir o custo por refeição.

• Congelar alimentos: Congele porções extras de refeições caseiras para evitar desperdício e ter opções rápidas e saudáveis em dias mais corridos.

Estas estratégias não só ajudam a manter uma alimentação saudável como também são sustentáveis economicamente.

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