Veja o que já sabemos sobre a cepa indiana do coronavírus e como pode afetar o ES
Primeiro caso de infecção da cepa foi confirmado nesta quinta-feira, 20, no Maranhão; No Espírito Santo, um indiano hospedado em um hotel de Camburi, na Capital, está sendo monitorado
Desde o último dia 20, a variante indiana no coroanavírus tornou-se uma preocupação real dos brasileiros. O primeiro caso de coronavírus pela variante B.1.617, identificada originalmente na Índia, foi registrado no Maranhão.
A cepa foi detectada inicialmente em um passageiro indiano de 54 anos que embarcou na África do Sul, e mais tarde confirmada em outras 13 pessoas a bordo do navio MV Shandong da Zhi.
Nesta sexta-feira (28), o Espírito Santo acendeu o sinal de alerta para a nova cepa do vírus. Um indiano que estava hospedado num hotel na orla de Camburi, em Vitória, testou positivo para covid-19. Ele apresentou sintomas e a Vigilância Sanitária interditou o hotel no início da tarde.
Impacto da nova cepa no Espirito Santo
No dia 23 de maio, o governo do Espírito Santo foi notificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sobre a circulação, em território capixaba, de um cidadão indiano que viajou no mesmo voo que uma pessoa que havia testado positivo para a variante indiana do novo coronavírus.
Na ocasião, o secretário estadual de saúde, Nésio Fernandes, se pronunciou sobre o assunto e reforçou que a circulação de uma nova cepa do vírus é uma ameaça para os capixabas.
"A incorporação da variante indiana no país incrementará uma ameaça maior à capacidade do Estado de poder enfrentar e resistir, de maneira adequada, a pandemia", frisou o secretário, que destacou a importância de se manter as medidas de prevenção à doença.
"Por isso o alerta a todos para poder cumprir, com muita disciplina, as medidas de distanciamento, do uso de máscaras, do lavar das mãos. E, diante de qualquer sintoma, procurar o serviço de saúde para fazer a testagem de antígeno ou de RT-PCR, e, se apresentar positividade, investigar todos os contatos também".
O que você precisa saber sobre a variante indiana
Classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como "de preocupação global", a variante indiana contribuiu para o último colapso de covid na Índia, associada ao relaxamento das medidas de contenção do vírus e a festivais religiosos.
Mas seu comportamento no Brasil pode depender de fatores que vão do aumento de testagens ao isolamento da população.
O que é uma variante de preocupação?
De acordo com a OMS, "variantes de preocupação" têm mudanças fenotípicas ou um genoma com mutações que causam alterações nos aminoácidos.
Elas também precisam causar aumento na transmissão local do vírus ou serem identificadas em vários países, além de estarem associadas a uma "mudança prejudicial" da epidemia; à "piora ou mudança na apresentação de um quadro clínico; e à diminuição na efetividade da "saúde pública, das medidas sociais ou dos tratamentos, testes e vacinas disponíveis".
Quais são as outras variantes de preocupação?
Até o momento, a OMS já classificou como "variantes de preocupação" outras três cepas além da indiana: a B.1.1.7, identificada inicialmente no Reino Unido; a B.1.351, da África do Sul; e a P1, de Manaus.
Como surgem as variantes do coronavírus?
Gabriel Maisonnave Arisi, professor na Escola Paulista de Medicina (Unifesp), explicou aqui que as mutações surgem no momento em que o vírus está se replicando em outro organismo. Nesse momento, pode haver erros e alterações no material genético do vírus. Muitas mutações deixam-no inviável, mas algumas conferem vantagem a eles.
Quando isso acontece, o vírus passa a ser muito mais viável. As mutações são mais comuns em locais com alta taxa de circulação do vírus.
Como identificar uma nova cepa do vírus?
É preciso fazer o sequenciamento do genoma completo do vírus.
As variantes são mais perigosas?
Rodrigo Stabeli explica que a "variante indiana" pode ser "mais adaptada ao ser humano, mas não podemos dizer que ela é mais letal".
"Não sabemos qual será o comportamento dela. O que determina a transmissão por aqui é a população, que tem se movimentado mais", afirma.
Que medidas de vigilância são necessárias para conter a nova variante?
Testar mais, sequenciar mais e controlar a entrada de viajantes no Brasil, independentemente do país de origem. De acordo com Lorena Barberia, professora do departamento de Ciência Política da Universidade São Paulo (USP) e membro do Observatório Covid-BR, esses são os três eixos principais de combate às novas cepas.
"Não é que seja muito simples isolar e proibir as viagens da Índia, porque isso não vai resolver. A cepa já está em vários países", aponta. "A gente pode estar com essa variante já circulando, porque não temos uma amostra representativa de casos no território brasileiro. O que temos são iniciativas nos Estados, mas estratégias diferentes de pesquisa."
Lorena cita que alguns países, como a Argentina, têm testado todos os viajantes que apresentam sintomas e sequenciado o vírus quando o teste retorna positivo. Já na Inglaterra, turistas são obrigados a fazerem uma quarentena compulsória de 14 dias antes de terem permissão para circular pelo País.
A variante oferece mais risco à população brasileira?
De acordo com Lorena, o problema da pandemia no Brasil não está apenas nessa variante, mas na falta de uma estratégia coordenada nacionalmente para a testagem, sequenciamento e identificação do vírus.
"É como estar em uma casa escura, cheia de buracos, e estarmos convencidos que só existe um, mas o problema é pior. O foco não pode ser achar o buraco, mas sim ligar a luz", explica.
"A variante é preocupante, mas o nível de vidas que estamos perdendo sem mudar a estratégia é mais ainda", aponta. Para Rodrigo Stabeli, diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em São Paulo, o que determina o risco da variante é o comportamento da população.
"Não é exatamente a cepa que é devastadora e sim o comportamento humano. Se ela é mais adaptável, então o ser humano vai ser mais suscetível. Mas ainda não podemos dizer que que vai matar ou transmitir mais", afirma Stabeli.pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_07
Por que a variante matou tantas pessoas na Índia?
Apesar de a Organização Mundial da Saúde ter afirmado que algumas informações indicam "uma transmissibilidade acentuada" da cepa e classificado-a como "variante preocupante em nível global", o próprio comportamento dos indianos contribuiu para sua transmissão. No início de abril, cerca de 2 milhões de pessoas se aglomeraram para o Kumbh Mela, tradicional festival hindu às beiras do rio Ganges.
"Estamos acompanhando a Índia pela OMS e percebemos que o grande surto lá foi depois dessa grande movimentação de festas religiosas que aconteceram lá", aponta Stabeli.
A população deve alterar hábitos ou medidas de proteção?
"O que aprendemos nesse tempo é que independentemente da variante, o vírus é transmitido principalmente pela inalação de pequenas partículas no ar. Então, a prevenção não muda", explica Vitor Mori, membro do Observatório Covid-19 BR.
Ele elenca as três principais medidas de proteção contra o coronavírus para serem adotadas também para a prevenção da nova variante: preferência por espaços ao ar livre e bem ventilados, com ventilação cruzada e sem muita gente; uso de máscara, garantindo que ela esteja bem ajustada ao rosto, sem vazamento nas laterais; e distanciamento físico.
* Com informações do Estadão Conteúdo