Bombeira do ES é criticada por amamentar bebê em treino de crossfit

Ao compartilhar nas redes sociais o momento em que amamentava o filho de apenas 1 ano, sentada em meio ao box do crossfit onde se exercita regularmente, Gabriela Andrade, que é capitão do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo, não imaginava que seria alvo de uma série de críticas. 

Até porque, trata-se de uma rotina na vida dela, já que sempre foi adepta da prática de esportes e da amamentação de livre demanda, desde o seu primeiro filho, que atualmente tem 4 anos. 

Nos comentários, além de desinformação sobre a amamentação, houve até quem dissesse que amamentar naquele local era desrespeitoso e que a mãe deveria procurar outros ambientes (mais adequados) para alimentar o filho.

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A publicação já somava 1.233 comentários até o fim da manhã desta segunda-feira (18). Entre eles, alguns chamam a atenção:

"Custa jogar um paninho por cima?",
"Podia ir ao banheiro amamentar",
"Não podia ir para um canto onde pudesse estar mais à vontade e assim também poder deixar os outros à vontade também?"
"vale tudo pela mendigação de likes",

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"só higienizar antes, tudo certo", "levar criança para a academia, sem um pingo de noção, bom senso e respeito pelos alunos",

"Essa mulher não poderia dar uma pausa na academia e priorizar o bebê?",
"Não pode amamentar com o leite quente", entre outros.

Em meio às críticas, Gabriela também recebeu elogios e palavras de incentivo: "O que não pode é deixar de amar, o que não pode é deixar o bebê com fome", "você está feliz e saudável, seu bebê está feliz, com você, sendo amamentado", "não existe cena mais linda que uma mãe amamentado a sua cria", entre centenas de outros.

O Folha Vitória ouviu uma especialista no assunto. Afinal, será que há mesmo restrições quando falamos em amamentação? 

O fato é que cenas assim fazem parte do cotidiano e sempre geram questionamentos e afirmações como: "amamentar com leite quente faz mal para o bebê" ou "é preciso tomar banho antes de amamentar?".

Amamentação x manual de instrução

Segundo a pediatra Racire Sampaio Silva, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Soespe, Gabriela "literalmente, não fez nada de errado. Inclusive, não há contraindicação em praticar atividade física e amamentar. Não existe nenhuma evidência de que amamentar durante o exercício faça mal para o bebê, enfatiza".

A médica falou ainda que o leite tem a temperatura corporal. "Essa história do leite quente, o leite tem a temperatura do corpo, independentemente de fazer exercício. Vale lembrar que, tanto não muda a temperatura, que ela transpira durante a atividade física, mantendo, portanto, a temperatura dentro da normalidade".

Quando questionada a respeito da história de tomar banho antes de dar o peito, a pediatra explica: 

"Todo organismo humano tem bactérias que fazem parte da microbiota normal da pele e elas não são prejudiciais ao bebê. Durante o período de amamentação, o bebê é colonizado pela microbiota da pele da mãe. É tudo muito perfeito. Não tem nada disso de estar sujo. Banho, de modo geral, acontece uma vez ao dia. Não há necessidade de lavar o peito para amamentar. A mãe está com muito calor? Quer tomar 2, 3 banhos, ok! Mas, nesse caso, só porque quer se refrescar."

Além disso, Racire enfatiza a importância da amamentação na vida e na relação da mãe com o bebê. 

"O leite materno é um alimento vivo. Tanto que se a mãe está com filho doente, o leite se adequa com as necessidades do bebê."

E mais! Destaca que não existe manual de instrução ou métodos exatos para amamentar. 

"Como, quando e onde isso deve acontecer depende apenas da mãe e do bebê. Ninguém tem nada com isso", afirma.

MITOS E VERDADES DA AMAMENTAÇÃO

A médica falou sobre alguns dos principais mitos e verdades em torno do aleitamento materno. Veja abaixo:

* "A criança que mama no peito precisa beber água"
É mito! O leite é perfeitamente completo e já tem muita água.

* "Amamentar pelo menos até 2 anos de idade"
Verdade! É o recomendado e preconizado pela Organização Mundial da Saúde. Mesmo com a introdução alimentar.

* "O leite é importante para as transformações do bebê"
Verdade! Inclusive, no período do nascimento de dentes, no combate as doenças ocasionais (funciona como uma vacina).

* "Amamentar, de madrugada, após 6 meses é importante"
Mito! Não faz bem para a mãe e nem para o bebê. Imagine só aquela mamãe que já retornou ao ritmo de trabalho normal. Mãe mais cansada costuma ficar mais esgotada. Além disso, existe a secreção de GH (hormônio do crescimento, secretado de maneira geral, durante a madrugada) do bebê que está em período de crescimento, é fundamental precisa fazer uma hipoglicemia normal.

E se a criança chorar de madrugada, Racire é categórica ao afirmar que é preciso um trabalho em equipe, onde toda a família se adeque a situação. "A criança chora de madrugada, a família se adequa, o pai ajuda, porque se trata de um mau costume. E mau costume a gente tira."

Escolher amamentar ou não

A especialista pondera também que a amamentação está diretamente ligada a uma escolha da mãe e, portanto, não se trata de uma obrigação.

"A mãe tem o direito de não amamentar. A amamentação é uma proposta que se faz para a mãe diante toda essa maravilha que é o leite materno".

Para Racire, o fundamental é sempre buscar o equilíbrio, a empatia e o respeito as decisões.  

Bombeira: "Sempre fiz questão de amamentar"

Gabriela conta que sempre teve dois grandes sonhos antes de se tornar mãe. Um, trazer os filhos ao mundo em partos normais e outro poder amamentá-los pelo maior período possível e por livre demanda.

Quando está em casa, amamenta o filho de acordo com as necessidades dele e inclusive de madrugada. Para ela, os frutos para a saúde do filho no futuro estão em primeiro lugar.

"Eu sempre tive esse sonho de ser alimento, sabe, para o meu filho. Isso é uma realização muito grande. Nossa, eu sinto, assim, um prazer inenarrável no momento que estou amamentando. Mesmo cansando bastante a gente, às vezes a gente fica no trabalho, mas chega em casa e é tão gostosinho ver ele se alimentando de mim. Ah, sem palavras", define.

Gestações tranquilas e saudáveis

Gabriela contou como foram as gestações de Theo, 4 anos, e Matheus, de 1 ano. Inclusive, fez questão de praticar exercícios até pouco antes dos partos. Na época em que estava grávida do caçula, compartilhava os treinos, o que gerou, também, vários julgamentos e opiniões.

 "Minhas 2 gestações foram muito tranquilas. Eu fiz atividade física durante os 9 meses, inclusive o meu segundo parto, eu fiz atividade física um dia antes de parir eu estava fazendo 'murph'. Então, as gestações em si foram muito tranquilas, foram muito saudáveis, não tive nenhuma intercorrência, até por isso que eu fui incentivada até pelas minhas obstetras a praticar atividade física durante toda a gestação", lembra.

Apesar de ter se preparado para o parto normal, Theo, 4 anos, nasceu por meio de uma cesariana. A realização do que ela define como "grande sonho" aconteceu há um ano, com a chegada de Matheus. 

Compartilhando a realidade x críticas

Desde que começou a compartilhar o seu dia a dia em uma de suas redes sociais, Gabriela viu muita coisa mudar. Apesar de nunca ter planejado ser uma "influencer", percebeu que as coisas foram acontecendo naturalmente. 

"Meu engajamento foi crescendo muito e, automaticamente, o meu número de haters (termo em inglês usado nas redes sociais para odiadores), de pessoas sempre atacando, criticando", contou.

A adaptação, no começo, conta que foi difícil, mas com o tempo ficou mais tranquila e afirma "tirar de letra". 

"Eu estou muito bem resolvida sobre as minhas escolhas. Sei exatamente o que quero para a minha vida, o que quero para os meus filhos e sou muito bem orientada por profissionais qualificados, que me passam muita segurança. Recebo (as críticas) numa boa".

Gabriela destaca que aprendeu a absorver as informações que considera importantes e agregadoras e a descartar todas as que tenham como único objetivo diminuí-la.

Sobre a maternidade, deixa um conselho para as mamães de plantão: 

"Procurem bons profissionais para guiar vocês nessa jornada chamada maternidade, que não é nada fácil. Eu tenho certeza que, se vocês escolherem bons profissionais, eles vão passar segurança para que façam a melhor escolha para vocês e para seus filhos. E se você sentir que é melhor amamentar em público, faça isso. Agora, se você sentir que tem vontade, que seu filho quer e você vai dar, faça também. Eu sempre segui meu coração e sempre guiado por bons profissionais", conclui.

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