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Saúde

Resposta para a cura do câncer pode estar no nosso processo evolutivo, afirmam estudiosos

As estatísticas apontam para uma projeção alarmante: duas em três pessoas nascidas hoje podem vir a desenvolver câncer, segundo cientistas britânicos do Câncer Research UK

Redação Folha Vitória
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Foto: Divulgação
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano passado registaram-se em todo o mundo cerca de 18 milhões de novos casos de câncer e 9,6 milhões de pessoas ainda devem morrer por causa dele. 

Diversos especialistas apontam que o câncer já pode ser considerado uma epidemia mundial e por isto estudiosos de áreas multidisciplinares tem unido esforços em busca de respostas. O filósofo Fabiano de Abreu e a arqueóloga Joana Freitas buscam entender a proliferação da doença através do processo evolutivo da humanidade, já que a escalada de casos da doença é recente. Há pouco tempo atrás o câncer era pouco documentado, a quantidade de doentes detetados tendo o câncer sido a causa de morte, assim como também a doença era poucas vezes referida na literatura médica.

“O câncer hoje faz parte do nosso cotidiano. A doença é comentada à mesa durante o almoço quando olhamos para o que comemos, quando cozinhamos e devido a tantos casos de pessoas conhecidas que enfrentam ou enfrentaram a doença. Aprofundando as minhas concepções sobre a doença e seus motivos, levei em frente uma pesquisa baseada nos dados já confirmados, em estudos que fiz em sites confiáveis na internet e também com o apoio da arqueóloga Joana Freitas, para que chegássemos a uma teoria que, embora pareça um pouco óbvia, precisava de aprofundamento”, revela Fabiano de Abreu.

Evolução x Adaptação

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De acordo com a teoria formulada por Fabiano e Joana, o câncer se deve a uma defasagem entre a evolução material, vivencial e a adaptação genética: “o ser humano está a mudar os seus comportamentos e hábitos, com especial foco nos hábitos alimentares e rotina de vida, de uma forma tão repentina que, se comparado com o tempo que o ser humano necessita para evoluir geneticamente para fazer face a uma mudança, não há uma sintonia evolutiva. Nossa adaptação genética não alcança a acelerada evolução que proporcionamos em nossa vida. Nosso organismo precisa de um tempo para adaptar-se às mudanças e esta adaptação, que é passada também geneticamente através das gerações, não teve o tempo hábil para adquirir algumas dessas nuances e, por isso, sofremos suas consequências”, ponderam.

Ao olhar para o processo evolutivo, sob a ótica da arqueologia e da biologia, os estudiosos traçam uma linha do tempo em que se confere que há um descompasso entre as mudanças comportamentais e o tempo cronológico decorrido: “nos últimos dez mil anos, o ser humano evoluiu e desenvolveu novos costumes de forma repentina, se comparado ao panorama evolutivo geral. Precisamos de milhares de anos para evoluir e adaptarmo-nos às novas situações como consequência dos costumes. Contudo, em dez mil anos criamos tantas mudanças, tantas situações em que a adaptação seria necessária e isso está causando uma confusão em nosso organismo. Não podemos esquecer que dez mil anos são como se fossem segundos no panorama global da história evolutiva humana e que para cada alteração é necessário mais tempo do que isso”.

Histórico do câncer através do tempo

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O primeiro aparecimento de um caso de câncer, com o surgimento de um tumor, data de 4000 anos antes da Era Comum, mas foi a partir da Grécia Antiga, na escola de medicina de Hipócrates, que o câncer foi definido como um tumor duro que poderia voltar, mesmo depois de retirado.

No entanto, somente no século XVIII, com os estudos do anatomista Giovanni Battista, somados aos conhecimentos do médico francês Marie François Xavier, que o câncer passou a ser entendido como é hoje. Os casos de câncer documentados eram em muito menor número que na atualidade.

Principais factores apontados pelos estudiosos para o surgimento do câncer

Como explicar o aumento estrondoso dos casos de câncer em todo o mundo? Para isso, Fabiano de Abreu e Joana Freitas formularam uma teoria que procura explicar a causa não apenas da proliferação da doença como epidemia global, mas também em especificidade do indivíduo, considerando o órgão ou parte do corpo afetada.

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Para os estudiosos que formularam esta teoria embasada no processo evolutivo, o câncer está ligado não só a questão da adaptação genética alimentar mas também as mudanças no mundo com esta evolução tecnológica acelerada: "O câncer em um âmbito geral, é a consequência da não adaptação temporal às mudanças. Tudo está relacionado ao facto de estarmos de forma muito rápida tentando mudar a natureza evolutiva. E assim também a cura se torna mais difícil pois, a doença, não é ocasionando por um vírus, nem uma bactéria, nem um ser hospedeiro. Não é uma influência externa e sim interna”.

PULMÃO

Com 1,2 milhão de novos casos a cada ano, esse é o tipo de câncer mais comum e também o que mais mata no mundo.

Um câncer como consequência do cigarro e da poluição, todos mecanismos de uma nova era criada por nós em que não conseguimos adaptar-nos.

MAMAS

É o tipo de câncer que mais mata mulheres. No mundo todo surgem cerca de 1 milhão de casos anualmente.

Ele está relacionado ou com a falta de filhos ou a maternidade tardia. A prova disso é que a maioria dos casos são em mulheres acima de 30 anos e que não tiveram filhos ou tiveram filhos tardiamente.

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O corpo feminino foi projetado para ter filhos e desde a pré história até a idade medieval as mulheres tinham filhos cedo. O organismo ainda não adaptou-se aos novos costumes e por isso as consequências.

COLO-RETAL

Esse câncer, que atinge a região do intestino grosso e do reto, é o terceiro tipo mais comum no mundo, com 940 mil novos casos por ano.

Ele está relacionado com a alimentação e o país com o maior número de casos, é o que consome mais comida industrializada: os Estados Unidos.

Está relacionado à obesidade e ao sedentarismo. Não éramos obesos há mais de dez mil anos atrás e também não éramos sedentários. Nossa alimentação era o resultado da alimentação necessária para termos evoluídos até então.

FÍGADO

Quinto colocado em incidência (com 560 mil novos casos anuais), é o terceiro que mais mata. Geralmente está associado ao alcoolismo, já que nunca consumimos tanto álcool na história da humanidade e à hepatite B e C.

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No entanto a doença também pode ser provocada pelo consumo de grãos mal armazenados, nos quais crescem fungos que produzem toxinas cancerígenas.

Também está relacionado com a industrialização dos alimentos.

MELANOMA

O melanoma é um câncer pouco incidente se comparado aos demais tipos. São cerca de 130 mil novos casos por ano, o que corresponde a só 5% de todos os casos de câncer de pele do mundo.

Os povos após os descobrimentos (século 16) migraram para regiões que sua pele não estava adaptada. Caucasianos e pessoas de pele clara são as que mais sofrem da doença e principalmente as que se assentam em regiões que não são nativas, principalmente lugares mais quentes.

Qual poderia ser uma cura para o câncer?

Segundo a teoria dos dois estudiosos, a resposta para a cura do câncer pode estar em tentar seguir padrões alimentares e comportamentais baseados nos exemplos de civilizações anteriores à epidemia da doença. Logo adotar hábitos que remetem a períodos antes da revolução industrial pode ajudar a reduzir a incidência da doença: “o câncer é uma doença que se propaga com a modernidade. Os nossos hábitos que se estabeleceram gradualmente desde que nos tornamos populações sedentárias tiveram grande impacto neste aumento da doença. O nosso modo de vida fez com que vivêssemos mais tempo, o que também é um factor que contribui para o aumento de casos mas, a par desta situação temos outras complicações”, afirmam.

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Fabiano de Abreu aponta alguns dos pontos negativos advindos da modernidade: “como seres sedentários já não nos movimentamos tanto como nossos ancestrais. Hoje ingerimos uma quantidade astronômica de comida processada, o consumo de bebidas alcoólicas aumentou exponencialmente, o consumo de tabaco e associados igualmente e tudo isto tem seu preço. Preferimos os meios urbanos para habitar com todos os riscos que acarretam sobretudo em relação a poluição, a nossa reprodução é cada vez mais tardia e os nossos ciclos ativos e de repouso já não se dão de acordo com o ciclo dia/noite. A modernidade tem um preço e pode estar a matar-nos aos poucos”.

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