Prisão de juízes: Alexandre Farina e Carlos Gutmann vão se apresentar nesta terça após liminares cassadas
Os magistrados chegaram a ficar preso entre o final de julho e o início de agosto por suspeita de venda de sentença, mas deixaram a prisão por meio de liminar
*Matéria atualizada após advogado de defesa de Carlos Alexandre Gutmann informar, no final da tarde desta terça-feira (28), que o juiz também iria se entregar.
Os juízes Alexandre Farina e Carlos Alexandre Gutmann vão se apresentar à polícia ainda nesta terça-feira (28) após terem as liminares que garantia as solturas cassadas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A assessoria de imprensa de Farina disse que o juiz se apresentará para o cumprimento da medida, em total respeito e acatamento à decisão tomada. A assessoria também informou que Farina está licenciado para tratamento médico, mas não deu detalhes sobre o assunto.
A defesa de Gutmann informou, no final da tarde desta terça-feira, que ele também irá se apresentar à polícia.
Os dois magistrados chegaram a ficar presos entre o final de julho e o início de agosto, mas deixaram a prisão após a Justiça deferir os pedidos de habeas corpus impetrados por suas respectivas defesas.
STJ determinou que juízes voltem para a prisão
No final da manhã desta segunda-feira, o STJ julgou o mérito dos habeas corpus que haviam sido apresentados pelas defesas dos dois juízes, no início de agosto.
Com a negativa em relação aos habeas corpus, foram cassadas as liminares anteriormente deferidas pela Corte, que na época possibilitaram que os magistrados deixassem a prisão.
Juízes foram afastados e tiveram prisão decretada em julho
Farina, que é diretor do Fórum da Serra, e Gutmann, titular da Vara da Fazenda Pública Estadual daquela comarca, tiveram a prisão preventiva decretada no dia 29 de julho, após votação dos desembargadores do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES).
Em seu voto, a relatora do caso no TJES, desembargadora Elisabeth Lordes, indicou a necessidade da prisão preventiva dos juízes. Segundo ela, os magistrados representavam riscos para o andamento das investigações.
A decisão foi tomada após solicitação feita pelo Ministério Público do Estado (MPES) para evitar que os magistrados interferissem na condução do processo instaurado contra eles, que investiga a suposta venda de sentença.
O pedido de abertura de inquérito contra os juízes e outras sete pessoas foi protocolado no dia 31 de maio deste ano pela procuradora-geral de Justiça, Luciana de Andrade.
O objetivo é apurar a suposta prática de corrupção passiva, corrupção ativa e exploração de prestígio. Por meio de fontes, o Folha Vitória teve acesso a todo conteúdo investigado pelo MPES, com cerca de 150 páginas, que traz os indícios de corrupção envolvendo magistrados, empresário e advogados.
Segundo as apurações do MPES, Alexandre Farina teria recebido propina para intermediar a venda de sentença em favor de uma imobiliária. A sentença foi proferida, em março de 2017, pelo juiz Carlos Alexandre Gutmann, que também teria recebido pagamento indevido para favorecer a empresa.
Além dos magistrados, o MPES apontou a participação de outros envolvidos, como o dono da imobiliária, que teria pagado propina para ser beneficiado no registro de um terreno.
Advogados da empresa também são investigados por envolvimento no caso, além do ex-policial civil Hilário Frasson, que recentemente foi condenado a 30 anos de prisão por encomendar o assassinato da ex-esposa, a médica Milena Gottardi — o crime, entretanto, não tem qualquer envolvimento com o esquema.
Entenda a participação dos juízes, empresário e advogados em esquema
Segundo o MPES, os diálogos revelaram que Farina interferiu em um julgamento envolvendo a empresa Cecato Negócios Imobiliários Ltda, que teve o registro de um terreno na Serra negado pelo Cartório de Registro Geral de Imóveis (2ª Zona da Serra).
Como em casos como este é necessária manifestação do Judiciário, o processo foi instaurado pela titular responsável pelo cartório. Em petição protocolada em setembro de 2016, o caso foi para o Juízo da Vara da Fazenda Pública Estadual, de Registro Público e Meio Ambiente da Serra.
Segundo as investigações do MPES, Farina negociou o recebimento de dinheiro com a intermediação de Hilário e de Davi Ferreira da Gama, ex-funcionário da Associação dos Magistrados do Espírito Santo (Amages).
Os dois últimos mantinham contato direto com o empresário Eudes Cecato e com os advogados que representavam a empresa favorecida (Cecato Negócios Imobiliários) Luiz Alberto Lima Martins e Alecio Jocimar Favaro.
Os diálogos entre Hilário Frasson e Alexandre Farina para a suposta venda da decisão judicial teriam começado em fevereiro de 2017, conforme apontou o Ministério Público do Estado.
Já a sentença foi prolatada no dia 3 de março daquele ano, pelo magistrado Carlos Alexandre Gutmann, em favor da Cecato.
"O juiz julgou improcedentes as exceções levantadas pela oficiala cartorária e determinando registro das escrituras públicas da empresa Cecato Negocios Imobiliários Ltda", apontou o órgão.
De acordo com os diálogos verificados pelo MPES, o pagamento de uma parte da propina teria ocorrido no dia 30 de março de 2017. Na ocasião, coube a Valmir Pandolfi pegar o dinheiro com Eudes Cecato e entregar para Hilário Frasson. No mesmo dia, Hilário teria repassado a quantia para o juiz Alexandre Farina.
Ainda segundo o MPES, mensagens posteriores indicaram que o empresário pagou integralmente o valor acordado.