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Política

O 'Cavalo' Brasil à espera de um ginete

Estadão Conteudo

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Um cavalo. O Brasil é um cavalo que precisa de um ginete com luvas de seda, cintura de borracha e pernas de ferro. A comparação do País com um animal foi feita na quinta-feira passada, em palestra em Catanduva, interior paulista, pelo general reformado Antônio Hamilton Martins Mourão, de 65 anos, candidato a vice na chapa do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

Mourão gosta de fazer essa associação em palestras da campanha eleitoral quando ataca o tamanho do Estado brasileiro, critica a crise política e econômica e exalta o potencial de desenvolvimento nacional.

"Gosto muito desse animal", afirmou Mourão na semana passada, quando fez campanha também em Botucatu, Bauru e São José do Rio Preto e falou para plateias com até 800 militantes e simpatizantes do bolsonarismo. O Estado acompanhou a cruzada paulista de Mourão na quarta e na Quinta-feira.

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Sempre protegido por policiais federais, que barram a aproximação de curiosos e jornalistas, ele viajou em um comboio montado por uma SUV na frente e outro carro atrás, todos com vidros escuros, além das escoltas de PMs locais em carros e motos.

Tido por interlocutores como gentil e educado, Mourão só teve um breve contato com a imprensa na manhã do primeiro dia da viagem, pouco antes do início do evento em Bauru, na Faculdade de Direito da cidade. Foi quando estourou a polêmica da CPMF, após declarações do economista Paulo Guedes sobre tributos. Abordado pelo Estado num corredor, quando saía de uma produtora de TV de aliados, falou rapidamente do caso e criticou a criação de imposto.

"Temos uma carga tributária boçal. Criar imposto é um tiro no pé", disse, antes de ser levado por assessores para o carro principal da comitiva, no qual viajou no banco traseiro ao lado do candidato a deputado federal Levy Fidelix (PRTB) e a filha dele, Livia, candidata à Assembleia de São Paulo. "Trouxe ele aqui porque aqui é de confiança", afirmou o pastor Luiz Carlos Valle, candidato do PSL a deputado federal.

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No interior paulista, que chamou de "fundão do País", Mourão passou então a evitar contato com jornalistas e negou pedidos de entrevista. Mantido isolado por assessores, mostrava-se acessível somente a poucos apoiadores selecionados por bolsonaristas para fotos e vídeos. A preferência era sempre para militantes escolhidos pela campanha, que gravavam selfies para as redes sociais.

Em São José do Rio Preto, a cerca de 230 quilômetros, Mourão foi recebido por entusiasmados seguidores. O empresário do setor hoteleiro Sérgio Dória, um dos privilegiados com acesso à sala exclusiva, teve de esperar do lado de fora até ser autorizado a se aproximar do general.

Na saída, contou que levou um pedido ao candidato. "Uma mensagem dele para a região do Maranhão, que hoje é um reduto petista. Temos de reverter isso lá", afirmou Dória. Quando o militar reformado entrou na sala da palestra, usando um acesso lateral e exclusivo, o hino brasileiro foi cantado em pé. João Onório, de 35 anos, funcionário público, de Votuporanga, a cerca de 80 quilômetros, exibia, orgulhoso, tatuagem ainda fresca de Bolsonaro no braço direito.

'Balcão de negócios'

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Afastado das funções no Exército no ano passado, após quase meio século nos quartéis e tendo comandado tropas no Amazonas e no Rio Grande do Sul, Mourão tem um histórico de retórica rebelde que terminou por abatê-lo na carreira quando, ainda fardado, falou demais e forçou o "amigo" comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, a dispensá-lo da Secretaria de Economia e Finanças do Exército.

O caso: indignado com a crise nacional, Mourão soltou os cachorros no chefe da coisa toda, ou seja, no presidente da República, Michel Temer, nada menos do que o Comandante em Chefe das Forças Armadas. No Clube do Exército, em Brasília, ainda fardado, disse que Temer operava com um "balcão de negócios". Foi a gota d'água e Villas Bôas desceu-lhe "a borduna", como já disse o próprio Mourão, reconhecendo o erro com bom humor.

Candidato pela mão do padrinho partidário, Levy Fidelix, velho conhecedor dos caminhos da política nanica brasileira, dono do PRTB, ao qual aderiu o general reformado para formar a coligação com o PSL, Mourão parece mover-se em campo minado. "Eu não sou um político, estou político", afirmou em uma das palestras para, a seguir, descer o porrete na Constituição "que tem mais de 100 emendas e deve ser reformada".

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Ele gosta de avisar que a comparação do Brasil com um cavalo se deve a uma característica muito pessoal. "Sou um amante da arte equestre", confessou em Catanduva. O alvo é o Estado pesado e caro, que ele vê como "um animal capaz de saltar 1m80, mas que está sendo montado por um ginete de 180 quilos, de mão pesada e pernas frouxas". "Temos de desamarrar esse animal maravilhoso", diz. "O governo tem de dar a ordem e as senhoras e senhores, o progresso".

Resta saber se o jeito Mourão de ser vingará nas urnas para levar ao Planalto um ginete, também amante dos equinos, que, aliás, é conhecido pelo apelido de "Cavalo". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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