Haddad minimiza papel de Lula na transferência de votos
Para Haddad, o crescimento nas pesquisas eleitores não se deve apenas à indicação do ex-presidente Lula
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, minimizou o papel do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na transferência de votos para sua candidatura e afirmou que não dar indulto ao petista, preso e condenado na Lava Jato, é sua palavra final. Em entrevista ao Jornal da Globo, da TV Globo, exibida na madrugada desta quinta-feira, 20, Haddad declarou que Lula não se iguala a um "cacique regional" nas decisões do partido, mas admitiu que o ex-presidente é quem mais "encarna" o projeto do PT no País.
Para Haddad, o crescimento nas pesquisas eleitores não se deve apenas à indicação do ex-presidente Lula. "É isso também, mas, se fosse só isso, haveria transferência para todo lugar onde ele apoia, não funciona tão automaticamente", comentou o presidenciável. Haddad declarou que Lula não pode ser igualado ao velho modelo das políticas regionais em que um "cacique" manda e desmanda no partido. "Não é verdade porque os caciques regionais não consultam ninguém, eles tomam decisão num jantar do PSDB", disse o presidenciável.
Haddad insistiu que, se eleito, não dará indulto a Lula e, questionado, respondeu que essa é sua palavra final. O petista relatou que recebeu uma carta do ex-presidente em que ele se diz "indignado" com o assunto ter voltado à tona.
Ao falar sobre corrupção, Haddad não quis responder se julgava justas as condenações contra José Dirceu, André Vargas e Antonio Palocci. Citando o caso do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o candidato disse apenas que a pena imposta ao petista foi "desequilibrada" e que membros de outros partidos, como José Serra (PSDB), tiveram investigações arquivadas. "Parece haver, em alguns casos específicos, dois pesos e duas medidas", afirmou Haddad.
O presidenciável do PT atacou o governo Michel Temer dizendo que a administração do emedebista "afrouxou" os mecanismos de controle e combate à corrupção. Ele prometeu, se eleito, fortalecer as instituições responsáveis por investigações no Brasil.
Venezuela. Na entrevista, Haddad contrariou um posicionamento do PT ao falar que a Venezuela não vive um processo de normalidade e que o clima no país vizinho é de "conflagração". Na última eleição de Nicolás Maduro, a direção nacional do PT chegou a dizer que o processo era um "exemplo de democracia". "A Venezuela não vive um processo de normalidade", comentou o presidenciável. "O clima ali é de conflagração. Inequívoco isso."
Economia. Após fazer acenos ao mercado financeiro e ensaiar um discurso mais próximo ao centro, Haddad voltou a criticar o teto de gastos implantado no governo Temer. Para o petista, a medida vai "colapsar" os serviços públicos no País.
Ele reforçou sua promessa de elevar impostos para bancos que cobram juros mais altos do que a média de mercado e reduzir para aqueles que cobram alíquotas menores. Haddad disse que o risco de instituições segurarem o crédito em resposta a essa regra pode ser diminuído com atuação nos depósitos compulsórios. Ele pontuou que os bancos públicos estariam sujeitos às mesmas regras das instituições privadas.
Ainda na economia, Haddad afirmou que colocou a proposta de limpar nomes endividados no programa de governo do PT antes mesmo que o candidato Ciro Gomes (PDT) apresentasse uma proposta semelhante sobre o tema. Depois que o pedetista adotou o projeto como sua principal bandeira, Haddad alterou seu plano de governo para detalhar a medida. Ele ainda disse que a promessa de Ciro não resolve o problema estrutural de juros altos. "Vai tirar as pessoas do SPC e elas vão voltar depois de um ano porque o problema estrutural não terá sido resolvido. Nossa proposta é de uma reforma bancária", apontou.