Marta sai do MDB, descarta vice de Meirelles e reeleição
Sondada pelo MDB e por representantes do Palácio do Planalto para ser candidata a vice-presidente da República na chapa do ex-ministro Henrique Meirelles, a senadora Marta Suplicy anunciou na sexta-feira, 3, que está, na prática, abandonando a vida político-parlamentar. Está se desfiliando do MDB, não aceita ser vice, nem mesmo vai disputar a reeleição para o Senado por São Paulo, conforme antecipou na sexta o estadao.com.br.
"A vida parlamentar está restrita ao corporativismo, ao retrocesso, enquanto a vida da sociedade civil está pulsando. Eu posso contribuir muito mais para a política na sociedade civil do que no Parlamento", disse Marta ao jornal O Estado de S. Paulo em seu apartamento funcional em Brasília. Ela afirmou que jamais deixará de fazer política, mas agora em "outras trincheiras".
Entre seus planos, está atuar em ONGs e outras instituições, revisitar seus nove livros publicados, escrever novos, talvez encarar um projeto novo na televisão e viajar sem a premência de voltar correndo a Brasília para votações em plenário, sessões de comissões, reuniões partidárias.
Marta, de 73 anos, também antecipou ao jornal O Estado de S. Paulo uma "Carta aos Paulistas" em que agradece os mais de 8 milhões de votos que a levaram ao Senado, em 2010, mas faz duras críticas aos partidos, "fragilizados, acuados e sem norte político" e "não conseguem mais dar resposta à crise de credibilidade que se abateu sobre eles".
Ela também criticou o Congresso, "que se tornou refém de uma agenda atrasada dos costumes da sociedade", e disse que o "toma lá dá cá" com o Executivo "afronta todos os padrões de dignidade e honradez da sociedade".
Apesar de estar na sexta na capital e de estar sendo sondada para a vice de Meirelles, Marta não compareceu, na quinta-feira, à convenção que lançou o ex-ministro da Fazenda à Presidência da República. Ela, porém, não sai "atirando" nem no MDB nem no presidente Michel Temer, com quem diz ter boas relações.
Quanto à candidatura de Meirelles, foi cáustica: "Tem uma carreira admirável no mundo privado, mas sua candidatura não passa de um sonho de menino rico. Não creio que vá empolgar as massas, até porque nunca o vi falando do social". E quem fala do social na campanha? Mais uma vez, Marta foi crítica: "Marina (Silva, da Rede) fala coisas corretas, mas não consegue encaminhar, acaba sempre no abstrato. São ideias e palavras bonitas, só".
Na opinião da senadora, Geraldo Alckmin (PSDB) tem boas chances, mas não terá vida fácil: "É um homem de bem, com administrações pouco ousadas, e seu grande desafio, se ganhar, é não ficar refém dos compromissos que seus coligados não escondem e repetem todos os dias pelos jornais".
Para ela, Ciro Gomes (PDT) "é o mais preparado, com mais ousadia para as reformas e para enfrentar o toma lá dá cá, mas talvez não queira ser presidente, porque ele se sabota". "Como psicanalista, vejo isso claramente."
As críticas mais duras, porém, vão para o líder nas pesquisas sem o ex-presidente Lula, o deputado Jair Bolsonaro (PSL): "A vitória dele, na qual não acredito, seria um atraso enorme para o Brasil em todos os níveis. É uma pessoa que exibe despreparo, não tem estatura nem conhecimento para ser presidente da República".
Além de questionar as qualificações de Bolsonaro, Marta condena as posições dele sobre os temas aos quais ela dedica toda sua vida pública prioritariamente: "Quando ele abre a boca, é para desrespeitar as mulheres, a democracia, os direitos humanos e as minorias". Apesar de não anunciar quem será seu candidato no primeiro turno, a senadora já tem uma certeza: "Se Bolsonaro for para o segundo turno, seremos todos contra ele."
Lula
Após 33 anos no PT, Marta encerra a carreira partidária no MDB. Ela diz que Lula "fez muita coisa boa pelo País, mas se enveredou pelos atos pelos quais foi condenado pelo desejo de manter o poder". E quem será o candidato do PT? "É fazer adivinhação. Quem se prepara é o Fernando Haddad, mas quem é mais querido e tem afinidade com Lula é Jacques Wagner".
Ela, que votou a favor do impeachment, diz que o governo de Dilma Rousseff "foi um desastre para o Brasil".
Quanto ao presidente Michel Temer: "Era a expectativa de reformas e de recuperação. Ele começou a fazer e isso tem que ser reconhecido, mas as denúncias enfraqueceram muito o governo e ele ficou refém do Congresso". Também faz questão de frisar: "Comigo, ele sempre se portou muito bem."
De todos os cargos de sua longa trajetória, porém, ela destaca um sem titubear: a Prefeitura de São Paulo, que ocupou entre 2001 e 2004. "Porque você pode fazer diferença na vida das pessoas. E eu fiz." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.