Ciro Gomes: estou feliz que até o Alckmin está dizendo que País precisa mudar
O candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, listou quatro pontos a partir do qual pretende estruturar seu programa de governo. "O Brasil precisa mudar", afirmou no evento Coalizão pela Construção, que ouve hoje cinco candidatos à presidência. "Até o Geraldo Alckmin diz isso", alfinetou.
A energia para promover mudanças, disse ele, vem da constatação que há 13,7 milhões de desempregados no País. "São 32 milhões fora do mercado formal. Qual o sistema previdenciário possível de sustentar se você tem 32 milhões de brasileiros na informalidade?" A consequência desse quadro, disse ele, é a explosão da violência.
"De 1980 para cá, o Brasil cresce ridículos 2% ao ano. Não é problema de Manuel ou Chico, é estrutural", disse.
A primeira tarefa a ser enfrentada é o colapso do consumo. Ele frisou que há 63 milhões de brasileiros com problema de crédito. "Brasileiro não faz cálculo real do efeito dos juros se o valor da parcela cabe na sua renda", comentou. Com isso, é pouco notado o fato que os juros chegam a 480% no cartão de crédito e uma elevada concentração do sistema. "Nós permitimos no Brasil de forma irresponsável que 85% das operações financeiras se concentrem em cinco bancos, dois dos quais estatais", ressaltou. "Os americanos têm 5.000 bancos."
Segundo Ciro, o Brasil perdeu uma oportunidade de ouro de investir porque há 15 anos as taxas de juros mundiais são negativas. No entanto, o País segue liderando o ranking de juros no mundo. Ele citou o fato de o crédito direcionado custar 9% ao ano. Diante de uma inflação na casa dos 3%, é um juro real de 6%. Ele questionou que atividade propicia esse tipo de ganho. "Não há explicação técnica para a Selic estar como está se não o comportamento de cartel", afirmou.
O segundo ponto é lidar com o "pior nível de endividamento da história" enfrentado pelo setor empresarial. Segundo o candidato, são R$ 2 trilhões em créditos pendentes, dos quais R$ 600 bilhões caminham para se tornarem de recuperação duvidosa. "Com isso, o sistema financeiro se retrai. E o cartel não vai resolver."
O terceiro ponto é o "pior colapso fiscal da história", que reduziu drasticamente os investimentos e começa a afetar o custeio. "Temos 7.000 obras paradas", disse. "Por inadimplência do setor público e por abusos regulatórios, que no Brasil passaram de qualquer nível de razoabilidade."
Os abusos regulatórios colocam como tarefa "restaurar a funcionalidade do poder". O candidato explicou que esse é o sentido da afirmação feita por ele, que é necessário "devolver cada poder a sua caixinha". "A elite fica escandalizada quando digo que temos que devolver cada poder para sua caixinha", comentou.
Segundo avaliou, hoje os prefeitos temem tomar providências porque um "garoto do Ministério Público" quer dizer o que fazer, e como. "O Tribunal de Contas do Brasil tem mais engenheiro que os órgãos de execução; só para botar defeito no trabalho dos outros."
O quarto desafio é o desequilíbrio das contas com o estrangeiro. Segundo avaliou, o Brasil vive um quadro em que qualquer reação econômica faz explodir as importações, com repercussões sobre o câmbio.
A partir desses pontos, Ciro pretende organizar seu projeto nacional de desenvolvimento. "Qualquer bodeguinha no interior do Ceará tem planos, mas o Brasil não tem plano para nada", disse. "Nenhum brasileiro sabe qual é a nossa meta em saúde, educação....porque não há essa meta." Esse quadro decorre de uma visão que houve no País que o mercado poderia resolver todos os problemas. "Eu sei a importância da iniciativa privada na humanidade, mas nunca foi exigida da iniciativa privada a tarefa de prover desenvolvimento", disse.
O candidato justificou a falta de detalhamento das propostas. "Temos que ter pragmatismo para falar de coisas complexas em 20 minutos", disse. "Imagina em 33 segundos; é o que me restou."