ANJ discute o futuro da mídia em tempos de 'fake news'
Executivos de jornais e do mercado publicitário se reuniram nesta quinta-feira, 30, em São Paulo, para debater o futuro da mídia impressa e o papel no combate à desinformação e às chamadas fake news. Promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), o evento ofereceu ao público desafios e sugestões para a produção de conteúdo qualificado, com checagem em tempo real das informações, como forma a combater os cada vez mais frequentes ataques à imprensa no Brasil e no mundo.
Para o presidente Marcelo Rech, reeleito para mais dois anos ao lado da diretoria atual - que tem o diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, como um dos vice-presidentes - confiança é um bem crescente e escasso em uma sociedade inundada por ondas de desinformação, mas é exatamente o produto emanado das rotativas e das telas de celular e computador associadas aos jornais.
"No mundo da comunicação somos como a medicina séria e responsável que se contrapõe ao charlatanismo e as supostas curas milagrosas", disse Rech, em relação ao papel da mídia formal hoje na abertura do evento.
Para o CEO da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA), Vincent Peyrègne, confiança é a nossa nova moeda do jornalismo. "Nosso público anseia por isso e a boa nova é que estamos preparados para oferecê-la", disse. "A checagem dos dados é a pedra angular da confiança", completou.
Representantes do mercado publicitário, Luiz Lara e Igor Puga ressaltaram que a busca da confiança e da audiência, também desafio hoje para os jornais impressos, passa por um trabalho de reforço das marcas e da criação de novos canais com o leitor, que agora é ainda ouvinte e telespectador.
Diretor executivo de marca e marketing do Banco Santander, Puga acredita que um dos caminhos a trilhar pelos jornais é investir em conteúdos em vídeo para atrair um novo público, novos anunciantes e, ao mesmo tempo, maior credibilidade.
Presidente da Lew Lara/TBWA, Lara ressaltou que é preciso reafirmar o papel da imprensa tradicional, colocada em xeque em todo o mundo, mas cada vez mais presente na vida das pessoas. "A sociedade se reconhece no jornal. Ele não perdeu a relevância. Pelo contrário, porque seu conteúdo está em todos os locais. Viralizou . Está nas hashtags, no Facebook, no Whatsapp."
Diretor de Jornalismo do Grupo Estado, João Caminoto seguiu na mesma linha, destacando, com um olhar positivo, como o jornalismo é entregue hoje ao público, seja por meio do papel, do celular, da rádio ou da TV. "Acho que nunca estivemos numa situação tão privilegiada para oferecer às nossas audiências as informações necessárias para tomarem suas decisões neste período crucial em nosso País", afirmou.
Para Caminoto, o "jornalismo nunca esteve tão forte" e preparado para exercer seu papel junto à sociedade.
Eleições
As estratégias de alguns dos principais jornais do País para a cobertura eleitoral também foram tratadas durante o evento. Além de Caminoto, participaram também do debate os editores responsáveis da Folha de S.Paulo, Sérgio Dávila; do O Globo, Alan Gripp; e do Grupo RBS, Marta Gleich.
Nos discursos de todos, o comprometimento em criar mecanismos internos para checar informações disseminadas nas mídias sociais e esclarecer o eleitorado sobre o que é ou não verdadeiro, o que vale ou não a pena.
Ao fim do evento foram homenageados os jornalistas Otavio Frias Filho, diretor de redação da Folha de S.Paulo, e Alberto Dines, criador do Observatório da Imprensa, mortos neste ano.
Francisco Mesquita Neto encerrou o encontro entregando o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2018 ao presidente da WAN-IFRA, Michael Golden. "É fundamental para os cidadãos e as sociedades que o jornalismo prossiga na sua missão. O jornalismo independente e sem restrições é o melhor que temos para entender a realidade que nos cerca e para formar nossa visão de mundo, disse Mesquita Neto.
Golden, em seu discurso, lembrou que a imprensa americana, em especial, está sob ataque e pelo próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e ressaltou que, apesar das desconfianças levantadas e disseminadas a respeito da imprensa por políticos, os cidadãos devem sempre ser informados.