Para aliados de Dilma, carta pode reverter julgamento; governistas acham inócua
Na carta, lida por ela no Palácio do Alvorada, Dilma defende a realização de um plebiscito a fim de antecipar as eleições presidenciais de 2018
Brasília - Aliados da presidente Dilma Rousseff no Senado afirmaram que a carta divulgada nesta terça-feira, 16, pela petista poderá reverter o resultado do julgamento dela pela Casa, previsto para começar na próxima semana. Adversários de Dilma, contudo, consideraram que a manifestação da presidente é fora de tempo e não terá efeito prático para impedir a condenação da petista por crime de responsabilidade.
Na carta, lida por ela no Palácio do Alvorada, Dilma defende a realização de um plebiscito a fim de antecipar as eleições presidenciais de 2018, caso permaneça à frente do comando do País. Ela pediu aos senadores que não façam a injustiça de condená-la por um crime que diz não ter cometido e destacou que seu afastamento definitivo "seria um inequívoco golpe seguido de eleição indireta".
Para o líder da oposição no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), a divulgação da carta, ao se comprometer com um plebiscito, foi um acerto e que a população precisa ser consultada sobre os rumos do País. "Não jogamos a toalha, temos uma semana de batalha aqui", destacou.
Lindbergh não considerou a carta - divulgada a poucos dias do início do julgamento final - fora de tempo. Segundo ele, o presidente em exercício, Michel Temer, está sendo vítima de uma chantagem explícita do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por ter deflagrado em dezembro do ano passado o pedido de impedimento de Dilma e que está prestes a ter o mandato parlamentar cassado. Há o receio do governo de que Cunha, uma vez cassado e preso, possa implicar Temer. Se o presidente em exercício virar efetivo, ele também não poderia responder sobre fatos estranhos ao mandato dele.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirmou que a carta indica que Dilma ainda poderia ter capacidade de governar o País, em caso de absolvição dela e da realização de consulta popular. "Sem dúvida, após um plebiscito que definisse a continuidade do governo dela, ela passaria a ter mais legitimidade suplementar para estabelecer boa relação com Congresso", disse.
Até minutos antes do início do pronunciamento de Dilma no Alvorada, aliados da presidente afastada no Senado não tinham recebido a íntegra da carta, medida que os irritou. Coube à senadora Fátima Bezerra (PT-RN), tão logo recebeu o inteiro teor e durante o pronunciamento da petista, lê-la em plenário e pedir para incluí-la nos registros da Casa.
Os governistas, por sua vez, preferiram desqualificar a carta e considerá-la inócua para reverter a condenação de Dilma. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), chamou a missiva de um "ato de desespero político". "Depois de ter virado as costas para o Congresso Nacional e a sociedade, ela quer agora dialogar? É uma medida intempestiva, fora do timing", avaliou ele, ao considerar que a presidente afastada não é inocente.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que a carta demonstra que Dilma está "completamente desconectada" com a realidade brasileira. "Ela trata do momento de crise que o País enfrenta como se não fosse ela a responsável por tudo isso", criticou. O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), considerou o gesto de Dilma "pura apelação".
"É inconstitucional e derrotista. Quando a Câmara dos Deputados aprovou a autorização da abertura do processo de afastamento, Dilma poderia ter anunciado essa proposta de plebiscito com compromisso de renúncia imediata. Aí, sim, haveria sinceridade por parte dela. Agora, com o impeachment praticamente aprovado, essa proposta soa apelação e não tem base constitucional. Parece atitude de quem, derrotada, joga evidentemente no 'quanto pior, melhor'", afirmou Agripino.