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Política

Aras amplia influência e engata busca por um terceiro mandato na PGR

Estadão Conteudo

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Enquanto tenta ser reconduzido para um terceiro mandato, o procurador-geral da República, Augusto Aras, aumentou sua influência no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A manutenção de Aras no cargo é articulada pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) - a ideia é também defendida por petistas próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Por serem órgãos capazes de controlar e punir integrantes do Ministério Público e do Judiciário, o CNMP e o CNJ são sempre motivo de interesse para políticos. Há, ainda, mais interesse agora porque os órgãos abriram duas inéditas devassas em todas as investigações e procedimentos realizados na Operação Lava Jato em Curitiba, em Porto Alegre e no Rio. Aras foi procurado, mas não se manifestou.

A investigação sobre a Lava Jato no CNJ foi também turbinada, no mês passado, com o compartilhamento de mensagens trocadas pelos procuradores e obtidas pelo hacker Walter Delgatti, preso na Operação Spoofing. Políticos veem essas investigações do CNMP e do CNJ como oportunidades de "limpar a biografia".

Recondução

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Nesse cenário, Aras conseguiu articular no CNMP a aprovação de conselheiros simpáticos a seus posicionamentos. O grupo foi chancelado em sabatina da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na terça-feira passada. Se passarem no plenário da Casa, serão reconduzidos a novos mandatos de dois anos, a partir de 14 de dezembro: Ângelo Fabiano Farias (do Ministério Público do Trabalho), Jaime Cassio Miranda (do Ministério Público Militar), Paulo Cezar dos Passos (do Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e Antônio Edílio Magalhães (do Ministério Público Federal). Também avançou na CCJ a renovação do mandato de Moacyr Rey Filho (do Ministério Público do Distrito Federal), a partir de 13 de setembro.

Além desses cinco conselheiros, Aras também conseguiu a aprovação na CCJ de dois novos conselheiros do seu arco de alianças nos Ministérios Públicos estaduais. São eles: Fernando Comin (do Ministério Público de Santa Catarina) e Ivana Cei (do Ministério Público do Amapá).

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Em quatro anos de mandato como procurador-geral da República e, consequentemente, como presidente do CNMP, Aras viabilizou punições a procuradores da Lava Jato em Curitiba, como Deltan Dallagnol e Diogo Castor de Mattos. Também obteve a pena de demissão, convertida depois em suspensão por 30 dias, do coordenador da operação no Rio, Eduardo El-Hage.

Aliado

Em outra frente, Aras conseguiu antecipar a nomeação para um novo mandato no CNJ do promotor João Paulo Shoucair, do Ministério Público da Bahia, seu antigo aliado e ex-assessor em investigações criminais importantes como a Operação Faroeste.

O mandato de Shoucair no conselho só venceria em 20 de junho de 2024, porque ele tomou posse em junho de 2022. Juristas avaliam que essa nomeação antecipada viola o regimento interno do CNJ, que impõe que indicações sejam feitas a até 60 dias do término do mandato de cada conselheiro, e só depois de uma convocação pelo presidente do CNJ.

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Com ajuda do Conselho Nacional dos Procuradores Gerais do Ministério Público (CNPG), Aras agiu para que fosse articulada uma eleição antecipada na qual Shoucair foi o mais votado para a vaga reservada aos Ministérios Públicos Estaduais no CNJ. Com a eleição, Aras nomeou Shoucair para um novo mandato, válido entre 21 de junho de 2024 e 20 de junho de 2026. Ele também foi aprovado na CCJ do Senado na terça-feira.

A recondução de Shoucair antes do tempo gerou incômodo entre integrantes do Ministério Público Estadual, que consideraram "de fachada" o pedido de Aras para que os procuradores-gerais de Justiça dos Estados indicassem nomes para formar a lista tríplice que passa pela análise do chefe do Ministério Público. Shoucair foi o mais votado da lista, porém causou estranhamento na categoria o fato de Aras ter feito a sua indicação ao Senado apenas duas horas após o fim da votação, sendo que o regulamento da eleição organizada pelo Conselho Nacional de Procuradores Gerais prevê cinco dias para os concorrentes mais votados encaminharem seus currículos para análise.

Lista

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Além de Aras, outros quatro nomes estão na disputa pela indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia do Ministério Público. A categoria definiu uma lista tríplice e se organiza para apresentá-la a Lula, em encontro que ainda não tem data para ocorrer, de acordo com a Secretaria de Comunicação da Presidência. O presidente, porém, não é obrigado a escolher um nome entre os votados pelos pares do Ministério Público.

Os indicativos, inclusive, são de que ele não seguirá a lista tríplice da classe. Em março deste ano, Lula declarou durante uma entrevista que a escolha será pessoal. Na segunda-feira passada, o líder Jaques Wagner afirmou que "não tem lista para a PGR, a decisão é do presidente Lula".

Ele também elogiou Aras, sinalizando que há possibilidade de recondução ao cargo. "Prestou importante serviço ao Brasil", disse o senador. Na véspera, no domingo, o procurador-geral foi às redes sociais dizer que agiu para "desestruturar as bases do lavajatismo".

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O flerte entre Aras e o governo, no entanto, não começou nesta semana. Durante o julgamento da ação declaratória de inconstitucionalidade da Lei das Estatais, o procurador-geral mudou de posição para defender que membros de partidos políticos possam assumir cargos de chefias em empresas públicas - o que atende a um interesse do governo.

A Constituição coloca como critérios para ocupar a cadeira mais alta do Ministério Público Federal apenas a idade mínima de 35 anos e o ingresso na carreira. Cumpridos os dois requisitos, o presidente pode escolher qualquer membro do MPF para o cargo.

A lista tríplice, tradicionalmente organizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), é uma reivindicação da categoria, que enxerga nela um caminho mais justo.

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