PF no ES terá especialista na luta contra o tráfico internacional de drogas
Novo superintendente do órgão no Estado, Eugênio Ricas, trará para a equipe nome de destaque na repressão às quadrilhas de traficantes no exterior e promete conter a chegada de armas pesadas ao ES
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A Polícia Federal no Espírito Santo vai ter um delegado especialista em combate ao tráfico internacional de drogas. É o que está nos planos do novo superintendente da força de segurança no Estado, o delegado Eugênio Ricas, e que foi revelado com exclusividade para o Folha Vitória.
"Estou levando comigo o delegado Ivo Roberto Costa da Silva, que trabalhou na fronteira entre os Estados Unidos e o México, na cidade de El Paso. É um profissional qualificado com experiência em combate às quadrilhas internacionais de drogas. É a grande novidade para a superintendência, pois ele será o delegado do núcleo de repressão ao crime organizado no Estado. Será o '03' da Polícia Federal no Estado", revelou.
Ricas foi nomeado na última semana o novo superintendente Regional de Polícia Federal do Espírito Santo. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União de sexta-feira (16), pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Antes, estava desde 2018 atuando como adido da Polícia Federal, espécie de embaixador, em Washington, nos Estados Unidos.
Além deste nome na equipe, com o histórico de ter passado pela pasta de Controle e Transparência como secretário estadual, Ricas acredita que terá mais conhecimento para conduzir o trabalho da Polícia Federal no combate à corrupção que, no seu entender, é um dos piores crimes e que também estará na mira da organização.
"Iremos continuar nosso trabalho de combate ao crime mas tamb´´em para descapitalizar essas quadrilhas, deixá-las sem recursos financeiros. Corruptos em geral, ponham as suas barbas de molho, porque estaremos atentos e iremos agir!", avisou.
Outro assunto no radar da Federal será o bloqueio da chegada criminosa de armamento pesado, que alimenta as quadrilhas de traficantes atuantes no Espírito Santo.
"É o que contribuiu para a violência e a guerrilha que estamos observando, principalmente na Região Metropolitana. São grupos cada vez mais fortemente armados e que promovem guerrilhas, disputando o poder em relação ao campo de alcance do tráfico de drogas. É nosso papel fazer a apreensão dessas armas e investigar para que esse fluxo desse tipo de armamento pare de chegar ao Espírito Santo", planeja.
A posse do novo superintendente está prevista para 3 de agosto.
Confira a entrevista:
A sua gestão à frente da regional capixaba irá destacar alguma vertente do serviço da Polícia Federal no Espírito Santo?
Acredito que a Polícia Federal não pode se afastar da sua maior vocação que é o combate a toda e qualquer corrupção. Será um pilar da Polícia Federal no Espírito Santo. Outro pilar será o combate ao tráfico de armas e narcotráfico de drogas e entorpecentes.
Temos acompanhado a quantidade de tiroteios entre os inúmeros grupos criminosos que atuam principalmente na Região Metropolitana do Estado, gerando pânico e mortes, assustando as pessoas e as comunidades. Esses criminosos fazem tática de guerrilha, estão em disputa de território, querem poder. E temos notado que esses grupos estão de posse de armamento cada vez mais pesado, de enorme letalidade.
A Polícia Federal vai intensificar e fazer um trabalho de apreensão dessas armas, bem como de investigação para desbaratar e conter a chegada dessas armas no Espírito Santo.
A partir de sua experiência nos Estados Unidos, o que você trará para a superintendência capixaba?
Tudo o que aprendi e vivenciei nos últimos três anos nos Estados Unidos eu vou usar pra incrementar, para melhorar ainda mais o trabalho e o cotidiano da Polícia Federal no Espírito Santo. Estou levando comigo o delegado Ivo Roberto Costa da Silva, que trabalhou na fronteira entre os Estados Unidos e o México, na cidade de El Paso. É um profissional qualificado com experiência de campo em matéria de investigação e combate à quadrilhas internacionais de drogas.
É a grande novidade para a superintendência, pois ele será o delegado do núcleo de repressão ao crime organizado no Estado. Será o "03" da Polícia Federal no Estado. O que funcionava nos Estados Unidos iremos utilizar aqui também.
Qual os grandes desafios enfrentados pela Polícia Federal no Espírito Santo?
Nunca esqueça disso: a corrupção. Ela é um dos piores crimes da sociedade e precisa ser combatido tanto quanto os outros.
Iremos continuar nosso trabalho de combate ao crime mas tamb´´em para descapitalizar essas quadrilhas, deixá-las sem recursos financeiros, iremos estar atentos a esses movimentos de corrupção.
Portanto, pessoas que desviam recursos públicos, aqueles que atuam na esfera privada e que tentam também alcançar vantagens ilícitas em tratos escusos na esfera pública, enfim, corruptos em geral, que ponham as suas barbas de molho porque estaremos atentos e iremos agir.
Toda experiência em uma gestão vai agregando por apresentar cenários desafiadores. Também fui secretário de Justiça na esfera estadual, o que me deu também mais repertório. O trabalho no Controle e Transparência, à primeira vista, pode parecer burocrático, mas é extremamente complexo, pois ali você está desafiado a prevenir a situação que pode gerar uma conduta ilícita e o consequente desvio de recurso público.
O que vivi no Controle e Transparência me qualificou para conhecer o que é realmente uma gestão eficiente e antenada com a boa prática de administração dos recursos públicos. Unindo isto ao que também vivi como secretário de Justiça é um grande ganho. Que só vai enriquecer o meu trabalho no combate ao crime. Estar desse lado, de combater o crime, de ser ativo na repressão à corrupção é o que me move agora. Me sinto muito estimulado e bem amparado pelo que vivi nessas outras funções.
Na última década, o trabalho da Polícia Federal de combate à corrupção esteve frequentemente associado ao universo político. Até que ponto é possível atuar nas apurações de crimes de parlamentares e gestores públicos sem cair no risco de se levantar bandeiras ou apoiar um ou outro partido em detrimento dos demais?
Essa alegação sempre vai acontecer, de que o trabalho de combate ao crime feito pela Polícia Federal beneficiou um determinado partido político. Mas, quando a gente revisa a história, vamos perceber que a Polícia Federal atuou indiscriminadamente nos últimos dez anos em todos os níveis e casos, de forma independente, e que incomodou quem deveria incomodar, ou seja, quem estava cometendo crimes no universo político. Chegou inclusive no meio empresarial. O recado foi bem claro: se você andar na linha, seja lá quem você for, político ou empresário, não há o que temer da Polícia Federal.
Ainda neste contexto, acha que a Operação Lava-Jato acabou se politizando?
Não. Não acho que houve politização. Essa operação foi um marco para história do Brasil. Foi a maior do mundo em combate à corrupção, tanto em duração de tempo quanto em resultados. Foram R$ 4 bilhões devolvidos aos cofres públicos. Pode ter acontecido alguns equívocos. Mas não posso afirmar, não sei se houve pois não trabalhei diretamente nela. E quanto à politização, a operação atingiu partidos políticos de todas as vertentes.
Na gestão do presidente Bolsonaro, a Polícia Federal enfrentou, em alguns momentos, a interferência do presidente, o que acarretou início de crises institucionais. Como lidar com esse tipo de situação? A Polícia Federal, na sua opinião, está fortalecida em matéria de independência em seus trabalhos?
Meu trabalho nunca sofreu nenhum tipo de interferência e acredito que assim continuará sendo. A Polícia Federal é, antes de tudo, uma instituição de Estado e não de um governo. Acredito que o trabalho dela está bem amparado e segue normalmente, independentemente de quem esteja ocupando o poder.
Perfil do novo chefe da Polícia Federal do ES
Eugênio Ricas é delegado de Polícia Federal, e ocupou o cargo de adido federal da Polícia Federal em Washington nos Estados Unidos nos últimos três anos
Tem 45 anos, é casado e tem dois filhos (um menino de 8 anos e uma menina de dois). Nascido em Belo Horizonte (MG), afirma que é capixaba de coração.
Formado em Direito pela PUC/MG em 1999, começou sua carreira na Polícia Federal como delegado em 2003 tendo atuado nos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e no Distrito Federal. Tem mestrado em Gestão Pública pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Atuando na Polícia Federal, em 2006, esteve à frente da "Operação Esfinge", responsável pela prisão de 17 pessoas acusadas de operação fiscal, entre elas o advogado tributarista Beline José Salles Ramos.
Cedido pela União ao governo estadual, Ricas foi secretário da Justiça de 2013 a 2016 e de 2016 até novembro de 2017 foi secretário de Controle e Transparência.