Procurador passará um ano nos EUA recebendo salário do Ministério Público do ES
Marcelo Zenkner foi escolhido para representar a Corregedoria Nacional do Ministério Público junto à vice-presidência de integridade do Banco Mundial
O titular da 26ª Promotoria de Justiça Cível de Vitória, Marcelo Barbosa de Castro Zenkner, deverá se afastar por um ano de seu cargo, a partir do próximo dia 5, para representar a Corregedoria Nacional do Ministério Público junto à vice-presidência de integridade do Banco Mundial, em Washington, Estados Unidos.
Com isso, além de o Ministério Público Estadual (MPES) ter que contratar um substituto para ocupar o posto de Zenkner durante o tempo em que ele estiver no exterior, o órgão ministerial ainda terá de manter os vencimentos do promotor nesse período.
A autorização para que Zenkner se ausente do país por um ano é de uma portaria assinada pelo presidente do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Rodrigo Janot, no dia 26 de junho.
Na tentativa de evitar que o MPES fique um ano sem um de seus procuradores, a procuradora-geral de Justiça, Elda Márcia Moraes Spedo, encaminhou, no último dia 10, uma representação à Procuradoria-Geral de Justiça (PGR) e ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
No documento, ela solicita a instauração de um Procedimento de Controle Administrativo (PCA), com pedido de liminar, para suspender as duas portarias - a que requisita Zenkner como integrante da Corregedoria Nacional do Ministério Público e a que o autoriza a passar um ano no exterior.
A procuradora alega que há um volume crescente das demandas em todas as promotorias do Estado e que o atual quadro de membros é insuficiente para dar conta dessas demandas. De acordo com o Relatório de Correição da Corregedoria do Ministério Público Estadual (MPES), a 26ª Promotoria de Justiça Cível de Vitória é a que acumula mais pendências entre as 35 Promotorias de Justiça, com 55% dos procedimentos extrajudiciais fora do prazo.
Além disso, Spedo destaca que o MPES não possui condições administrativas e orçamentárias de absorver o afastamento de um de seus membros por um ano e que não há possibilidade de nomeação de novos promotores de Justiça no momento. Segundo a procuradora, um promotor custa cerca de R$ 560 mil por ano para o Ministério Público Estadual.
Spedo lembra ainda que Zenkner foi liberado para estudar em Portugal, em 2011, e, por isso, ficou afastado dois anos e nove meses da função. Além disso, em 2015 ele assumiu o comando da Secretaria de Controle e Transparência do Estado (Secont) - cargo que exerceu de 1º de janeiro daquele ano a 1º de abril de 2016.
Caso fique mais um ano fora, Zenkner acumulará 45 meses fora do cargo de procurador, o que, segundo Elda Spedo, representaria um gasto de cerca de R$ 2,1 milhões somente em salários pagos a ele durante sua ausência. Considerando-se a necessidade de contratar um substituto para o procurador, o gasto é dobrado.
A procuradora-geral do MPES destaca também que, conforme a Resolução nº 031/2016, todos os afastamentos para cursos ou atividades similares de aperfeiçoamento estão suspensos no âmbito do MPES.
Apesar das alegações da procuradora, o Conselho Nacional do Ministério Público indeferiu a liminar solicitada por Spedo, alegando que o corregedor nacional do Ministério Público e o presidente do CNMP possuem autonomia para realizar as respectivas requisições - para que Zenkner exerça o cargo de membro auxiliar na Corregedoria Nacional e se afaste do país para missão junto ao Banco Mundial.
O jornal online Folha Vitória entrou em contato com a PGR, que, até o fechamento desta reportagem, não havia respondido à demanda.
O outro lado
Já Marcelo Zenkner encaminhou uma nota alegando que, em 20 anos como membro do Ministério Público, jamais deixou qualquer promotoria com trabalho atrasado. "Ao contrário, sempre procurei honrar a instituição promovendo um trabalho de excelência, algumas vezes colocando, inclusive, minha vida em risco", escreveu.
Ainda segundo Zenkner,
O procurador afirma também que, após passar 18 meses afastado do MPES, para exercer o cargo de secretário estadual de Controle e Transparência, encontrou a 26ª Promotoria de Justiça em situação caótica, com mais de 246 procedimentos em andamento, inclusive alguns desaparecidos, o que, segundo ele, foi devidamente comunicado à administração superior do Ministério Público.
"Continua a chefe de gabinete explicando que, 'Diante do enfrentamento de uma conjuntura totalmente adversa, enfatizamos a enorme dificuldade deste setor de aprovisionar a designação de membros para atendimento exclusivo às demandas da 26ª Promotoria de Justiça Cível de Vitória no transcurso do afastamento do douto Promotor de Justiça oficiante', escreveu o promotor.
Segundo Zenkner, a constatação do relatório da Corregedoria-Geral do Ministério Público sobre a existência de procedimentos em atraso, em outubro de 2016, se deu em razão de uma questão administrativa interna da Procuradoria-Geral de Justiça.
O promotor afirmou também que sua