Vidigal teria abastecido o carro quase 30 vezes no mesmo dia na Serra, aponta auditoria
Auditoria do Instituto OPS apontou que, em 2019, o então deputado federal apresentou notas fiscais de abastecimento com suspeita de irregularidades
A operação Tanque Furado, do Instituto OPS - especializado na fiscalização de gastos parlamentares, - apontou que o prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), apresentou notas fiscais de abastecimento de veículos com suspeita de irregularidades quando era deputado federal. Segundo relatório da operação, o deputado chegou a fazer diversos abastecimentos em um único dia.
O destaque vai para o dia 27 de janeiro de 2019, quando foram realizados 27 abastecimentos em um posto da rodovia ES 010, em Manguinhos, na Serra. Os valores variam entre R$ 10 e R$ 217,46, totalizando R$ 1.017,95. Uma semana antes, no dia 20 de janeiro, foram 25 abastecimentos, totalizando R$ 1.007.
Em fevereiro do mesmo ano, os abastecimentos suspeitos continuam. Só nos primeiros 15 dias do mês foram 63, totalizando R$ 3.570. Chama atenção o dia 13 de fevereiro, com 17 abastecimentos, totalizando R$ 1.187,44. O nome de Sérgio Vidigal é o único, dentre os parlamentares capixabas, a constar no relatório.
As auditorias da ONG ocorreram em 1.863 notas fiscais com despesas de combustíveis e lubrificantes, em valores a partir de R$ 1 mil, emitidas entre 2019 e 2020. No total, 104 deputados federais são citados.
A "farra" com o dinheiro público chama a atenção: centenas de abastecimentos em um só dia, enorme quantidade de litros de combustíveis em uma só “mangueirada”, abastecimento em favor de empresas e de pessoas estranhas aos gabinetes e até abastecimentos “sob medida” para cravar o limite mensal da cota.
Os gastos dos parlamentares com combustíveis são ressarcidos pela Casa de Leis. Os deputados capixabas possuem uma cota de R$ 37.423,91 para custear combustíveis e lubrificantes, divulgação da atividade parlamentar, compra de passagens, aluguel de veículos, dentre outros.
Segundo consta no site da Câmara dos Deputados, Vidigal gastou com combustível em janeiro de 2019 R$ 4.833,85, sendo a maior parte, R$ 4.241,90, no mesmo posto citado acima, que fica na ES 010, na Serra. Em fevereiro do mesmo ano, gastou R$ 4.616,83, sendo R$ 4.213,10 também nesse mesmo local.
O que diz Sérgio Vidigal
"Em relação à auditoria, ressalta que desconhece tal fato e repudia tais irregularidades. Além disso, se coloca à disposição para apuração e demais esclarecimentos em relação aos questionamentos. Vale lembrar que, enquanto deputado federal, Sérgio Vidigal prezou pela redução das despesas, por exemplo, a redução de 21% nos gastos de combustíveis entre 2019 e 2020", informou nota enviada pela Prefeitura da Serra.pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_04
Transparência Capixaba
"Há indícios claros de irregularidades. Isso poderia ser evitado se a própria Câmara tivesse uma auditoria interna como esse instituto fez. Se uma organização da sociedade civil consegue fazer esse tipo de investigação, uma instituição pública importante como a Câmara Federal também deveria ser capaz de fazer. Agora é preciso que o prefeito explique porque um recurso público foi utilizado dessa forma, com esse indício claro de irregularidade. E apurada a falha, obviamente ressarcir os cofres públicos e sofrer as sanções previstas em lei", afirmou Rodrigo Rossoni, secretário-geral da ONG Transparência Capixaba.
OPS (Observatório Político e Socioambiental)
O OPS é um instituto sem fins lucrativos e independente que tem por finalidade auxiliar a sociedade civil na fiscalização de gastos públicos. Trata-se de uma rede de colaboradores voluntários localizados em várias regiões do país que ajuda no levantamento de informações nas auditorias realizadas em vários estados.
O Instituto é liderado por Lúcio Big, fundador do Observatório, que ano passado ganhou um prêmio internacional criado pela ONU de reconhecimento a ações de combate à corrupção. Ele está à frente de um grupo com mais de 200 colaboradores de todos os estados do Brasil. O instituto denuncia às autoridades gastos irregulares, e, desde 2013, já recuperou mais de R$ 6 milhões para os cofres públicos.