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Política

TCU confirma inidoneidade de Queiroz Galvão e três empreiteiras na Lava Jato

A corte julgou que houve cartel na licitação da montagem eletromecânica da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro

Estadão Conteudo

Redação Folha Vitória
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Foto: Divugação
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Cinco anos após o início da Lava Jato, o plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) mandou cumprir uma punição que impede quatro empreiteiras investigadas na operação de firmarem contratos com a administração pública federal. A sanção de inidoneidade atinge pela primeira vez uma das maiores construtoras do País, a Queiroz Galvão, além da Techint Engenharia, UTC Engenharia e Empresa Brasileira de Engenharia S.A..

O TCU julgou que houve cartel na licitação da montagem eletromecânica da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro - caso que, na esfera criminal, também gerou punições.

O processo foi julgado originalmente em março de 2017, e a discussão na tarde desta quarta-feira, 20, foi dos recursos das empresas. Todos eles foram rejeitados. Neste tipo de processo, a decisão só ganha efeito após o julgamento dos recursos.

"Temos provas cabais dos fatos. As provas de conluio são robustas e contundentes", disse o relator, ministro Walton Alencar Rodrigues. Ele rejeitou um pedido de adiamento do julgamento feito pelo Ministério Público junto ao TCU durante a sessão.

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Uma particularidade da decisão é que a UTC foi punida apesar ter firmado com a Controladoria-Geral da União um acordo de leniência - espécie de colaboração premiada de empresas. A empresa argumentava que o acordo a impediria de ser declarada inidônea.

Para advogados da Queiroz Galvão e da Techint que falaram durante o julgamento, a punição é equivalente a uma "pena de morte" para as empresas.

A decisão foi tomada de forma unânime, com comentários de vários ministros sobre a importância da sanção.

Suspensão

Conforme o jornal O Estado de S. Paulo mostrou, o processo estava suspenso desde outubro por decisão do ministro Augusto Nardes, então relator, que resolveu, de maneira sigilosa e sem consultar os demais ministros, abrir uma discussão para uma possível cooperação entre empresas e o tribunal.

A procuradora-geral do Ministério Público junto ao TCU, Cristina Machado, havia respaldado a posição do ministro. Depois da reportagem, Nardes se declarou suspeito de atuar no caso, que voltou a andar sob nova relatoria, do ministro Walton Alencar Rodrigues.

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O relator e os ministros que participaram da discussão consideraram que a possibilidade de colaboração não é motivo para interromper o andamento do processo.

"Centenas de milhões são desviados dos cofres públicos em nome de empresas que trazem informações não verídicas ao processo", destacou o relator.

Ao explicar a sanção apesar do acordo de leniência, Walton Alencar disse que consultou o acordo firmado e não havia proibição no texto. Além disso, disse que a UTC Engenharia descumpriu um acordo firmado com o CADE e voltou a responder processos administrativos.

O ministro Bruno Dantas, que era o relator do processo antes da fase de recursos, seguiu Alencar e citou o voto como "absolutamente irretocável". Dantas também observou que não há impedimento para declarar inidônea a UTC Engenharia, apesar do acordo de leniência.

A posição da equipe de auditores do TCU foi pela confirmação da punição da Queiroz Galvão, da Techint e da Empresa Brasileira de Engenharia S.A., mas por preservar a UTC. A unidade técnica entendeu que a UTC Engenharia tinha acordo de leniência com a CGU e, diferentemente das outras, estaria colaborando.

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A defesa da UTC Engenharia disse que o processo tratou de fatos que constavam no acordo de leniência da empresa com a CGU e em um outro acordo firmado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).

"Não estamos discutindo sobrepreço ou superfaturamento, o assunto já foi resolvido por meio de acordos. O Estado brasileiro concordou com a remediação por ela oferecida, deu prazo para pagar multas. Todo um mecanismo para que empresas possam continuar suas atividades. Nessa linha, em nossa visão, não parece nem que seja o caso de sobrestamento, mas sim de extinção do presente feito em relação às colaboradoras", disse a defesa da UTC.

As empresas Queiroz Galvão e Techint destacaram que a existência de um processo discutindo cooperação com o tribunal deveria motivar o adiamento do julgamento.

A advogada da Queiroz Galvão, Bruna Wills, disse que o parecer da Secretaria de Recursos "encontra-se defasado e foi apenas nele que o relator pode se basear para proferir seus votos, já que os elementos de colaboração estão em outro projeto".

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"A empresa trouxe elementos novos robustos devidamente auditados, seguiu metodologia traçada pelo TCU, e vejam, não é minha palavra de advogada, é o parecer da Seinfraoperações que consta do processo apartado que considera como efetiva colaboração", argumenta.

Ela disse que, se o TCU declarasse a empresa inidônea, estaria aplicando uma "pena de morte" que impediria a própria de pagar o que deve aos cofres públicos. "Se o TCU declarar a inidoneidade, vai inviabilizar o ressarcimento ao erário, que é o maior interesse que buscamos aqui. A pena de morte está para pessoa física como a inidoneidade está para pessoa jurídica, e a pena de morte é inconstitucional no Brasil", disse o advogado Leonardo Bissoli.

No mérito, a Techint disse que não havia razão para a punição. "A inidoneidade é a pena de morte e peço que sempre permaneça a presunção da inocência. A Techint igualmente formulou um pedido de abertura de um diálogo. Não estamos falando de leniência, estamos falando do estabelecimento do maior vetor do setor público que é da consensualidade. Há abertura desse diálogo e nós também requeremos", disse o advogado Rui Camilo.

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Conforme o Estadão mostrou, a possibilidade de punição e a marcação do julgamento poucos dias a mudança de relator provocou uma corrida de advogados ao tribunal para apresentar memoriais e defender os recursos das empresas.

Na tarde desta terça, 19, um dos advogados da Queiroz Galvão, Felipe Cavalcanti - neto do ex-ministro do TCU José Jorge -, teve audiência com ministros.

O Estado ouviu de dois ministros, em caráter reservado, que José Jorge chegou a procurar integrantes da Corte para falar sobre processo da Queiroz Galvão.

Do lado da Techint, grupo empresarial italiano, o ex-ministro da Advocacia-Geral da União Luís Inácio Adams esteve no tribunal para audiências nesta terça. Adams não é advogado no caso, mas está fazendo uma consultoria jurídica.

Como no TCU os recursos têm efeito suspensivo, só após eles serem julgados é que começam a valer na prática. Antes disso, as empresas ficam livres para firmarem contrato com a administração pública federal.

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A Queiroz chegou a ser declarada vencedora de licitação em fevereiro para obras no Metrô de Salvador, nas quais há financiamento com recursos federais. Houve recurso de concorrentes e a licitação ainda não está concluída. Se a sanção do TCU começar a valer, isso pode causar dificuldades para a empresa garantir o contrato.

Além das quatro empresas, há outras três acusadas de participar da fraude a licitação em Angra 3, mas que não foram punidas em 2017 por terem acordos de leniência com o Ministério Público. A Odebrecht, a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez ainda não tiveram a situação analisada.

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