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Polícia

'Ele me fez ajoelhar no milho de pipoca', diz jovem que denunciou o companheiro por agressão

Vítima conta que, em apenas quatro meses de relacionamento, foi agredida diversas vezes e até ameaçada de morte. Segundo a Sesp, 29 casos de feminicídio foram registrados somente este ano no Espírito Santo

Redação Folha Vitória
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Foto: TV Vitória
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"Ele me batia e depois pedia para eu agradecer a Deus que eu estava tendo o que eu merecia, que eu estava apanhando porque eu merecia." Essas são as palavras de uma jovem de 23 anos que relata ter sido agredida diversas vezes pelo companheiro.

Depois de apenas quatro meses de relacionamento, o homem, que até pouco tempo dizia que a amava, se mostrou, segundo ela, uma pessoa violenta. A jovem conta que se lembra com detalhes da primeira vez em que foi agredida pelo companheiro, que teria usado um facão.

"A primeira vez que ele me agrediu foi por conta de um medicamento que eu mandei para a filha dele e ele precisou e não estava lá. Ele me bateu, pediu para eu ajoelhar no milho de pipoca. Ele pegou o facão e falou para mim que me cortava toda, que eu só saía de lá morta. Eu pedi para fazer xixi, e ele falou para eu fazer na roupa. Eu tive que fazer xixi na roupa porque ele não deixou eu ir ao banheiro", lembrou.

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As agressões, no entanto, estavam apenas começando. A jovem conta que apanhou de várias outras formas e também foi castigada. "Eu tenho dois filhos para criar, eu tenho uma vida toda pela frente. Eu sei que Deus vai pôr uma pessoa na minha vida que realmente seja amor, porque isso não é amor. Eu vejo isso como doença. E o pior de tudo é ele tentar fazer eu me sentir culpada pelas agressões que ele me fez", desabafou.

Cansada e com medo de que as agressões piorassem, a jovem resolveu procurar a polícia nesta semana e denunciar o agressor. Ela conta que registrou um boletim de ocorrência contra o companheiro para não se tornar mais uma "estatística do feminicídio".

"Eu resolvi denunciar porque eu estou para pegar meus filhos para morar comigo, e eu não me sinto segura em levar eles para a casa onde eu estava, com o companheiro que eu estou. Porque ele foi capaz de fazer barbaridades comigo, as torturas que ele fazia", contou.

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Como a jovem procurou a polícia, a Justiça concedeu a ela uma medida protetiva de urgência. Segundo a delegada Michele Meira, a atitude dela é justamente o que os órgãos de segurança pública esperam que as mulheres que estão na mesma situação dela façam.

"Para a gente, é importante que a mulher vá à delegacia e faça a denúncia. Muitas delas vivem dentro de um relacionamento muitas vezes já problemático e às vezes acredita na mudança dessa pessoa com a qual ela convive, mudança essa que nunca acontece e acaba levando ela ao óbito", destacou a delegada.

Feminicídio no ES

De acordo com as estatísticas criminais da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), foram registrados 29 feminicídios no Espírito Santo somente este ano, de janeiro a novembro. Para as mulheres capixabas que decidiram denunciar os agressores, foram mais de 4 mil medidas protetivas expedidas pela Justiça somente no primeiro semestre. Conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, dos casos de feminicídio no Brasil, entre 2017 e 2019, 65,6% desses crimes ocorreram dentro de casa.

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"Uma relação sempre tem que ser baseada no respeito. Então, quando a gente já começa numa relação a perceber que falta o respeito, um xingamento já é considerado um crime, um empurrão. Então é importante a gente ficar sempre atento a esses sinais de relacionamento abusivo e procurar a ajuda da polícia o mais rápido possível", alertou Meira.

Nos últimos cinco dias, pelo menos três mulheres foram assassinadas no Espírito Santo. Na quinta-feira (05), a camareira Genaína Gomes dos Santos, de 34 anos, foi morta a facadas na frente do filho de 14 anos, no bairro Oriente, em Cariacica. O principal suspeito do crime, segundo a polícia, é o próprio marido, que continua foragido. A mãe de Genaína disse que perdeu outra filha também vítima de feminicídio.

No último final de semana, Cristina Melo Rosário, de 32 anos, foi esfaqueada até a morte. O suspeito do crime, o funcionário público Eduardo Cruz, também matou a companheira na frente dos filhos, segundo a polícia. Ele foi preso e permanece no Centro de Triagem de Viana.

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Outra mulher morta de forma brutal é Huanna Bastos. Ela foi esfaqueada e o marido dela, Charles Nery, de 32 anos, é o principal suspeito do assassinato, segundo a polícia. O crime aconteceu em Cachoeiro do Itapemirim, no sul do estado. A polícia foi acionada e Charles foi preso logo após o crime. Ele segue no Centro de Detenção Provisória do município.

"O feminicídio se tornou um crime hediondo e a pena máxima dele é de 30 anos. É importante ele ter sido colocado como hediondo, pois o autor do crime sofre todas as sanções que estão lá, de regime inicial de cumprimento de pena. E também que seja possível mais transparência em saber o que está acontecendo e por que essa mulher foi morta", destacou Michele Meira.

Com informações da repórter Milena Martins, da TV Vitória/Record TV

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