Rapaz morto dentro de ônibus em Vitoria venceu o câncer e sonhava ser engenheiro
De acordo com parentes de Cleverton Oliveira Cabral, a maior paixão de sua vida era a filha de apenas dois anos. Familiares acreditam que ele sentia que não teria muito tempo com a criança
O fiscal de loja Cleverton Oliveira Cabral, de 29 anos, que morreu após um policial à paisana reagir a uma tentativa de assalto a um coletivo do sistema Transcol, na última quarta-feira (02), sonhava ser engenheiro. Cleverton era considerado pela família um vitorioso, pois venceu o câncer duas vezes, mas perdeu a vida para a violência urbana.
De acordo com Ediene Soares Terra de Oliveira, tia de Cleverton, a vida do jovem foi marcada pela luta pela vida. Ainda criança, aos sete anos de idade, a família descobriu que o menino tinha leucemia. Assim que a doença foi diagnosticada, o tratamento foi iniciado. Cleverton foi um sobrevivente.
“Do grupo de crianças que iniciou o tratamento contra a doença junto com ele, apenas meu sobrinho sobreviveu. Apesar de ter sido curado, teve sempre a saúde frágil, mas isso não o impedia de trabalhar muito e ser uma pessoa honesta e responsável. Mas, no ano 2000, a doença voltou. Foi um baque. Mas ele fez todo o tratamento e foi curado definitivamente. Ele era vitorioso. Era um guerreiro sobrevivente”, afirmou emocionada.
Por conta da doença, a vida escolar de Cleverton ficou comprometida. Ele estudou, fez curso técnico de eletricista e queria fazer faculdade.
“Ele queria ser engenheiro desta área que ele já tinha facilidade e aprendido. Mas, por causa da doença que voltou há 16 anos, ele teve ficou muito debilitado e também teve muito gasto por conta do tratamento. Mas o sonho de fazer uma faculdade estava ali, dentro dele. Um dia ele iria realizar, mas o tiro levou embora essa possibilidade”.
Ainda de acordo com a tia de Cleverton, a maior paixão da vida do fiscal de loja era a filha de apenas dois anos. Ele cuidava diariamente da filha e, por conta disso, não queria que a menina fosse para uma creche.
“Parecia que ele sabia que não teria muito tempo com a filha e queria aproveitar todos os momentos com ela. Apesar da gente falar que ela deveria ir para uma creche ou uma escolinha, ele não aceitava. Ele queria cuidar da filha. Ele era um pai amável, bem presente e, além dos cuidados diários com a criança, era um carinho só os dois”, disse.
Afastado
O policial à paisana que matou um passageiro do Transcol ao reagir a um assalto, na noite última quarta-feira (02), foi afastado de suas funções. A informação foi confirmada pelo subcomandante da Polícia Militar, coronel Ilton Borges, durante coletiva de imprensa.
Insegurança em coletivos
A segunda morte trágica ocorrida em ônibus, em apenas duas semanas, reacende a discussão sobre segurança em coletivos na Grande Vitória. Para o presidente do Sindirodoviários, Edson Bastos, a violência dentro dos ônibus precisa ser vista como prioridade.
"[Os assaltos] Acabam sendo por atacado, pegam todo mundo de uma vez. A gente sabe que a sociedade já anda em pânico, então muitas vezes o cara chega com uma arma de brinquedo e já impera o medo e ele leva o celular de todo mundo, leva os objetos e vai embora. E a punição é muito branda, quando esse cara é preso", protestou.
Na semana passada, uma reunião entre rodoviários, empresas e Governo do Estado colocou em pauta soluções para oferecer mais segurança nos coletivos. A principal proposta do Sindirodoviarios foi um aplicativo, disponível para toda a sociedade.
"Um app que a gente até poderia chamar de botão de pânico, com a vantagem de que, com esse botão de pânico, ninguém ia saber quem estaria acionando ele no momento. A gente tem medo que esse botão fique só com o cobrador e o motorista, mas nesse caso ficaria com toda a sociedade, que se cadastraria diretamente no Ciodes, com o smartphone, e num simples toque desse aplicativo, a policia poderia saber que está tendo transtorno no ônibus, assalto, confusão, e ia direcionar a viatura mais próxima para abordar aquele ônibus", disse Edson Bastos.
As roletas gigantes também voltaram à pauta. Elas foram testadas em 2012. Na época, Ceturb e GVBus afirmaram que 90% dos assaltos dentro de coletivos eram cometidos por pessoas que pulavam a roleta. Cerca de 100 mil pessoas pulavam as roletas todos os meses e hoje a Ceturb calcula a mesma quantidade de saltadores.
No entanto, as catracas, que vão até o teto, nunca foram efetivamente implantadas. Depois da última reunião, a GVBus, que representa as empresas de transporte público, afirmou, por nota, que aguarda determinação da Ceturb, que representa o governo, para começar a instalação.