Chinês morto no ES foi vítima de quadrilha da Bahia que fazia sequestros-relâmpago
De acordo com as investigações, a intenção da organização criminosa era sequestrar o comerciante e, a partir daí, conseguir extorquir dinheiro dele
O comerciante chinês Weiming Li, de 48 anos, morto durante um assalto no dia 10 de julho, em Laranjeiras, na Serra, foi vítima de uma quadrilha baiana especializada em sequestros-relâmpagos.
A informação foi divulgada pela Polícia Civil nesta terça-feira (31), que concluiu o inquérito a respeito do latrocínio — roubo seguido de morte — que vitimou o chinês.
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"Percebemos que se tratava de uma quadrilha especializada em sequestro, mas da Bahia, querendo se instalar no Espírito Santo. Todos são baianos", disse o delegado Gianno Trindade, chefe da Divisão Patrimonial (DRCCP) e titular da Delegacia de Segurança Patrimonial (DSP).
De acordo com as investigações, a intenção da quadrilha era sequestrar o comerciante e, a partir daí, conseguir extorquir dinheiro dele. No entanto, a vítima teria reagido à abordagem e acabou morrendo com um tiro no abdômen.
"Depois de alguns presos e algumas confissões, conseguimos ter a certeza que a intenção inicial deles era executar um sequestro-relâmpago, colocar a vítima dentro do carro e, a partir daí então, extorqui-la para que ela fizesse transferências via pix", afirmou Gianno Trindade.
Segundo a polícia, cinco pessoas têm envolvimento com a morte do comerciante chinês. Desse total, três estão presos e dois seguem foragidos.
A polícia começou a desvendar o caso a partir da localização do motorista do veículo utilizado pelos criminosos. Ele foi preso na cidade de Itabuna, no Sul da Bahia, no dia 16 de agosto.
Em depoimento, Davi Santos Riba disse inicialmente que havia recebido R$ 1,5 mil para fazer uma corrida, de um dia para o outro, entre a cidade baiana e a Serra. No entanto, a polícia não acreditou na história.
"Por meio das ferramentas de inteligência, nós conseguimos rastrear esse carro. Ele retorna para a Bahia, para a cidade de Itabuna, e aí a gente, em contato com a Delegacia de Repressão aos Crimes Patrimoniais de Itabuna, conseguiu levantar não o proprietário, porque não se tratou do proprietário, mas quem estava na posse daquele carro no dia fatídico. Pedimos a prisão e uma equipe do Deic (Departamento Especializado de Investigações Criminais), na primeira fase da operação Pequim, conseguiu prender esse motorista", contou Trindade.
Também durante o depoimento, o motorista falou à polícia sobre a participação de dois irmãos gêmeos no crime.
Trata-se de Carlos Jokta de Oliveira, que foi preso em Feu Rosa, na Serra, e o irmão dele, Daniel Jokta de Oliveira, apontado pela polícia como o autor do disparo que matou o comerciante. Daniel segue foragido.
As investigações sobre o caso chegaram até o nome de Yonan Bonfim Santana, também conhecido como Bino ou Binho. Ele é apontado como o mentor intelectual do crime e também está sendo procurado pela polícia.
"O mentor intelectual, que hoje nós sabemos se tratar do Bino, também está envolvido com outro caso recente aqui no Espírito Santo. Foi o sequestro de uma mulher em Aracruz, que chegou a ficar em cárcere privado. Ele foi solucionado por outra unidade aqui do Espírito Santo, que é a DAS", frisou Gianno Trindade.
As investigações descobriram que um quinto elemento foi o responsável por fornecer aos criminosos informações privilegiadas sobre o comerciante chinês. Trata-se de José Carlos Souza, o Zezinho, funcionário de um primo de Weiming Li.
Segundo a polícia, ele sabia de todos os passos da vítima e foi preso no trabalho, em Laranjeiras, na Serra. Os policiais descobriram que Zezinho morava no mesmo sobrado que Bino e os dois irmãos gêmeos, em Feu Rosa.
"Ele chegou a falar que a vítima saía com malotes de dinheiro e que seria um alvo fácil para a execução do crime. Com exceção do José Carlos, que nega participação, os outros — o motorista e o executor — confessaram o crime", disse o delegado.
Comerciante teve R$ 600 mil roubados de conta bancária
Além do crime de latrocínio que vitimou Weiming Li, a Polícia Civil concluiu um outro inquérito, aberto cerca de 20 dias depois, envolvendo a mesma vítima. Dessa vez, a investigação procurou desvendar um crime de roubo.
Isso porque a polícia descobriu que a conta bancária do comerciante chinês era movimentada, mesmo depois de sua morte.
As investigações chegaram até um hacker de 28 anos, que teve acesso às informações do chinês e conseguiu chegar até sua conta bancária, por meio da deep web.
A polícia disse ainda que o hacker agiu juntamente com a gerente de um banco, uma mulher de 39 anos. Segundo as investigações, os dois começaram a tirar dinheiro da conta da vítima. Ao todo, foram roubados cerca de R$ 600 mil.
De acordo com a polícia, o dinheiro foi enviado para a conta de dois comerciantes, ambos de 24 anos. As investigações descobriram que essa quadrilha agia em Linhares, no Norte do Espírito Santo.
"Identificamos o indivíduo que teria recebido esse dinheiro. No primeiro momento, nós achamos que ele teria participação juntamente com a associação criminosa. Porém, quando fomos interrogá-los, nós descobrimos que se tratava de um hacker que teria acesso à deep web. Ou seja, ele pesquisava certidões de óbitos de pessoas e, com o CPF, descobria onde essa pessoa tinha conta bancária", explicou o delegado Gabriel Monteiro, chefe do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic).
O delegado disse ainda que todos os quatro assumiram, em depoimento, participação no crime de roubo. Afirmou também que o banco pode ser responsabilizado pelo ocorrido.
Confira o vídeo em que delegado explica como chinês foi roubado depois de morto:
A polícia preferiu não divulgar o nome da instituição financeira e, por isso, não foi possível entrar em contato com a empresa.
"A gerente de banco, com outros dois indivíduos, que foram as pessoas que lavaram esse dinheiro, já estão qualificados. Eles já foram indiciados e vão responder pelo crime de lavagem de dinheiro, associação criminosa e furto qualificado. E a gerente, além desses crimes, vai responder por violação de sigilo funcional", frisou Monteiro.
Relembre o caso
Imagens de câmeras de segurança da região registraram o momento em que o comerciante foi baleado. Elas mostram o carro de Weiming Li estacionado em uma rua do bairro.
Logo atrás, também estacionado, está um carro branco. Dentro dele estavam o motorista e outras duas pessoas. Um quarto rapaz estava do lado de fora.
Assim que o comerciante se aproxima do carro, ele é rendido por dois rapazes, que saem do banco traseiro do veículo branco, e por outro que aguardava do lado de fora. Veja as imagens:
Os criminosos pegaram o celular e a carteira do comerciante e, antes da fuga, atiraram no homem. Em seguida, os três homens entram no carro branco e o grupo foge.
Testemunhas acionaram a polícia. Quando os militares chegaram, perceberam a gravidade do quadro do homem, que havia sido baleado no abdômen.
O comerciante foi levado imediatamente para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
O que chama atenção no caso é que os criminosos ficam aguardando a vítima. Segundo a polícia, eles ficaram cerca de 30 minutos no local. Outras pessoas chegaram a passar na rua, mas não foram abordadas.
*Com informações do repórter Caio Dias, da TV Vitória/Record TV