Santa Casa: Polícia aponta três esquemas de corrupção e seis funcionários são investigados
Além de desviar quantias em espécie do caixa do hospital filantrópico, ex-gerente de Recursos Humanos concedia gratificações e horas extras irregulares a funcionários e contratava pessoas que não exerciam atividade na instituição
A Polícia Civil apontou três esquemas de corrupção comandados por um ex-funcionário da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, que atuava como gerente do setor de Recursos Humanos da instituição.
Os desvios chegam a R$ 1 milhão e o Folha Vitória publicou em primeira mão na última sexta-feira a informação sobre a prisão do ex-funcionário. Nesta segunda-feira (27) o delegado Janderson Lube, titular da Delegacia de Combate à Corrupção (Decor), detalhou a chamada "Operação RH".
Na última sexta-feira (24), o suspeito foi preso em seu sítio, de alto padrão, no distrito de Soído de Baixo, em Marechal Floriano, e encaminhado para o Centro de Triagem de Viana. Há indícios de que a propriedade foi adquirida por meio dos recursos desviados.
A Polícia Civil não divulgou o nome do suspeito preso mas a reportagem constatou que se trata de Jasiel Souza Câmara. A Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) confirmou que ele está detido em Viana. Ele foi preso por suspeita de estelionato e falsidade ideológica.
Segundo Lube, a dinâmica dos desvios era semelhante. No primeiro esquema de fraude, que começou em setembro de 2019, o suspeito concedia altas gratificações e pagamentos de horas extras a alguns de seus colegas de trabalho.
Tudo era feito em acordo com seis funcionários do hospital filantrópico. "Após receberem essas gratificações, essas pessoas repassavam parte dessas quantias para o investigado", explica. Segundo o delegado, eles serão investigados.
Esquema com funcionários fantasmas contemplava pagamentos de até R$ 80 mil
A outra modalidade de desvio feito pelo então gerente de RH era a contratação de funcionários considerados fantasmas e que teve início em março, com a pandemia de coronavírus.
Durou até setembro de 2020, quando a direção da Santa Casa identificou a irregularidade e demitiu o acusado. Os valores desse esquema com esses funcionários chegava a R$ 80 mil.
Essas sete pessoas constavam na folha de pagamento da instituição mas não exerciam atividade alguma no hospital. Assim como no caso dos funcionários, esses contratados devolviam parte de seus salários para o suspeito.
"Não havia uma quantia determinada a ser repassada mas podia girar em torno de 80% a 90%", aponta o delegado.
"Houve também um pagamento de R$ 70 mil repassado a um funcionário fantasma, que foi registrado como se fosse um pagamento de um terreno, que o gerente de RH queria comprar", descreve Lube.
Em geral, os contratados não eram da área médica. Para encontrar candidatos com perfil "adequado" para a fraude, ele contava com a ajuda de um comparsa, que também ficava com parte dos salários e repassava para o suspeito. O comparsa, segundo a polícia, segue foragido.
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De acordo com o delegado, o ex-gerente também é apontado num terceiro esquema: ele é autor de desvio de dinheiro em espécie do caixa do hospital, atuando nessa fraude de janeiro de 2019 a agosto de 2020.
Após a prisão, Câmara teve os bens bloqueados. Lube reforçou que todos os participantes dos esquemas (tanto os funcionários quanto os trabalhadores "laranjas") serão investigados por estelionato, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
No momento da prisão, o ex-gerente confessou sobre a contratação de funcionários fantasmas e de algumas gratificações que concedeu a colegas de serviço. "Mas vamos continuar investigando nesta semana para mais esclarecimentos", prometeu.
O QUE DIZ A SANTA CASA DE VITÓRIA
A Santa Casa de Misericórdia de Vitória foi procurada para saber se os funcionários mencionados pelo delegado ainda fazem parte de seu quadro de trabalhadores. Assim que a resposta for enviada, a matéria será atualizada.
Na última sexta-feira (24), a instituição havia se posicionado que "foram constatadas pela direção inconsistências na gerência de faturamento, sendo enviada à autoridade da polícia judiciária todos os documentos disponíveis para apuração dos fatos".
O outro lado
A reportagem não conseguiu contato com a defesa do ex-gerente de Recursos Humanos.
A Polícia Civil informou que a investigação segue em andamento e os investigados serão ouvidos no decorrer do inquérito policial.