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Polícia

Assassinato da médica Milena Gottardi completa 1 ano

A família de Milena falou sobre a saudade da médica. A fé tem sustentado a família

Redação Folha Vitória
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Há um ano, um crime que chocaria os capixabas. A médica Milena Gottardi Tonini Frasson foi assassinada quando saía de um plantão no Hospital das Clínicas, em Vitória. Seis pessoas foram acusadas de envolvimento no crime. 

Para a família, além da saudade, resta a justiça. "Sinto que ela está comigo a todo o momento. Onde eu vou, tenho o retrato dela", disse a mãe de Milena, Zilca Maria Gottardi, de 72 anos.

Irmão e mãe de Milena

Todos os seis homens, que já são réus no processo sobre o crime, estão presos aguardando a decisão judicial. Eles já passaram por audiência de instrução no fórum criminal de Vitória, em abril. Em agosto, o juiz responsável pelo caso decidiu que os acusados vão à juri popular. O julgamento, no entanto, ainda não tem data. Só será marcado depois da análise dos recursos movidos pelos réus.

O tio das filhas de Milena disse que não quer que as meninas vejam o pai. "A gente não gostaria que elas fossem a um presídio e passassem por todo o constrangimento para ver uma pessoa que mudou completamente a vida delas", disse Douglas Gottardi Tonini.

Posicionamento dos advogados

>> Advogado de Hilário: a reportagem da TV Vitória não conseguiu contato na manhã desta quinta-feira (13).

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>> Advogado de Dionathas e Bruno: em relação ao Dionathas, o processo está na fase de recurso. A defesa pede a exclusão da qualificadora do feminicídio, pois segundo o advogado, o cliente não assassinou a médica por ela ser mulher, e sim pela promessa de pagamento. Ele disse que o acusado é consciente da responsabilidade do crime e quer continuar contribuindo para a resolução do caso.

Segundo a defesa de Bruno, ele não tem envolvimento com o crime e apenas teria emprestado a moto para o cunhado, que efetuou os disparos contra Milena, uma semana antes do crime. Segundo ele, a defesa recorreu ao STJ, em Brasília, pois não há indícios de autoria e, por isso, Bruno deveria estar em liberdade.

>>Advogado do Valcir: informou que não está mais com o caso.

>> Advogado do Hermenegildo: Hermenegildo foi pronunciado pelo Ministério Público. O juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória. A defesa recorreu da decisão e acredita que a mesma será modificada. Durante a instrução processual a participação de Hermenegildo não ficou comprovada. 

Relembre o caso

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Na época, o crime ganhou grande repercussão no Espírito Santo. Milena atuava como pediatra oncológica no Hospital das Clínicas, em Maruípe, na capital. Quando saía do plantão, acompanhada de uma amiga, na tarde do dia 14 de setembro de 2017, a médica foi abordada por um homem armado, que chegou a anunciar um assalto.

Milena e a amiga chegaram a entregar os pertences ao suposto assaltante. Quando elas se dirigiam ao carro, o criminoso atirou três vezes em direção à pediatra, atingindo a mesma na cabeça e na perna, e fugindo posteriormente. A médica foi socorrida e internada em um hospital particular, mas morreu no dia seguinte.

A ação da Polícia Civil (PC) foi rápida. Dois dias após o crime, a primeira dupla de suspeitos de envolvimento no caso foram detidos: Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do crime, e Bruno Rodrigues Broero, apontado pela polícia como o responsável por conseguir a moto utilizada por Dionathas no dia do assassinato. A prisão aconteceu enquanto o corpo de Milena era sepultado em Fundão, cidade natal da médica e onde reside grande parte da família.

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A prisão da dupla serviu como o início do desvendamento do crime, o que provou que a pediatra não havia sido vítima de latrocínio, mas sim, um crime encomendado. O que faltava, era chegar aos mentores do assassinato.

Em busca das provas necessárias, a Polícia Civil conseguiu na Justiça que as investigações do caso corressem sob sigilo. Isso porque o principal suspeito de encomendar a morte de Milena era o ex-marido dela, o policial civil Hilário Antônio Fiorot Frasson, que atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PC, Guilherme Daré. A ideia da Secretaria de Estado da Justiça (Sesp) era impedir que ele tivesse acesso às provas obtidas pela Delegacia Especializada em Homicídios Contra a Mulher (DHPM), que conduzia o inquérito.

Hilário foi preso uma semana após o assassinato da médica, no dia 21 de setembro. A prisão aconteceu na Chefatura de Polícia Civil e encaminhado para um anexo da Delegacia de Novo México, em Vila Velha. É nesse local onde ficam os policiais civis que são presos.

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No mesmo dia, poucas horas antes, o pai de Hilário também foi preso. Esperidião Carlos Frasson foi apontado como o outro mandante do crime e Valcir da Silva Dias, acusado de ser um dos intermediadores do assassinato. Outro intermediador apontado pela polícia foi Hermenegildo Palauro Filho, o 'Judinho', preso no dia 25 de setembro.

Os seis suspeitos de envolvimento no assassinato da médica foram autuados pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito referente ao crime no dia 18 de outubro. De acordo com o titular da DHPM, delegado Janderson Lube, eles podem pegar até 30 anos de prisão, em caso de condenação. O ex-marido da médica ainda responde a um processo administrativo, dentro da PC, que pode resultar na expulsão da corporação.

A conclusão da polícia foi de que Hilário e Esperidião encomendaram o assassinato de Milena por não aceitarem o fim do casamento entre ela e o policial civil. Para isso, eles teriam contratado Valcir e Hermenegildo para dar suporte ao crime e encontrar um executor.

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Ainda segundo a polícia, Dionathas Alves foi o escolhido para executar o "serviço" - como os envolvidos se referiam ao assassinato da médica. Para isso, ele receberia uma recompensa de R$ 2 mil. Dionathas teria usado uma moto, roubada pelo cunhado Bruno, para seguir de Fundão até Vitória e matar Milena.

O veículo foi apreendido em uma fazenda em Fundão, no mesmo dia em que Dionathas e Bruno foram presos. O executor do assassinato disse à polícia que o crime foi planejado durante cerca de 25 dias.

O inquérito, no entanto, aponta que o planejamento do assassinato começou pelo menos dois meses antes do crime. Segundo as investigações, os seis acusados de envolvimento na morte de Milena Gottardi trocaram 1.230 ligações e formaram uma rede de comunicação antes e após o crime. Depoimentos de quatro suspeitos de envolvimento do crime detalharam como foi o planejamento do assassinato da médica.

Ameaças

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Durante as investigações, a polícia também teve acesso a uma carta escrita pela médica em março deste ano e que foi registrada em cartório pela própria médica. No início de outubro, a polícia confirmou que a carta havia sido escrita por Milena. No documento, Milena relatou que sofria ameaças por parte de Hilário e que temia pela integridade física dela e das duas filhas do casal.

>> Leia a íntegra da carta escrita por Milena Gottardi

No texto da carta, Milena também deixava claro o desejo de que as duas meninas ficassem sob os cuidados dos seus familiares. No dia 26 de setembro, o irmão da médica conseguiu a guarda provisória das crianças. No mesmo dia, o irmão de Milena, ao lado da mãe, recebeu a imprensa e disse que Hilário costumava apresentar dupla personalidade, ou seja, em alguns momentos estava muito feliz e, em outros, bastante fechado, sem sequer conversar com os familiares.

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Em outubro, foi divulgado um áudio gravado por Milena dias antes de morrer, em que ela relata o medo que sentia e as ameaças realizadas pelo ex-marido. Na gravação, a médica faz um pedido de socorro aos sogros.

Separação

Em depoimento à polícia, Hilário Frasson chegou a afirmar que a separação dele e Milena acontecia de forma consensual. No entanto, mensagens e ligações trocadas entre o policial e o irmão da médica, dias antes do assassinato acontecer, indicavam que o processo não estava acontecendo de maneira tão tranquila assim. Em um dos diálogos, Hilário deixou claro que fazia questão de manter o relacionamento e chegou a afirmar que pretendia procurar um psiquiatra e até deixaria de beber.

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De acordo com o inquérito, na mesma conversa, ele disse ao cunhado: "vou deixar ela comandar literalmente a minha vida. Vale a pena tudo para manter nossa família". Nesse período Milena já estava decidida a pedir o divórcio em maio. A partir desse momento, Hilário teria começado a influenciar as duas famílias para impedir o processo de separação. Em abril, a médica conseguiu na Justiça uma liminar que o obrigava a sair da casa em que ele morava com a família.

Em um vídeo gravado pelo policial civil, dias antes da morte de Milena, ele apareceu dentro do carro, bastante emocionado, pedindo a família de volta. No fundo tocava a música "The Scientist", da banda Coldplay, cuja letra fala sobre separação.

No inquérito consta ainda que Hilário fez pesquisas em sites de pornografia após a morte da médica. Comportamento que, segundo as investigações "não condiz com um homem enlutado, o qual demonstrou nas mensagens ao longo dos meses, ao se apresentar apaixonado e disposto a mudanças para resgatar sua família". À reportagem da TV Vitória/Record TV, o tio de Milena, José Geraldo Gottardi,

disse que a sobrinha e Hilário iriam oficializar a separação no dia 15 de setembro, mas Milena foi morta no dia anterior.

>> Leia mais notícias sobre o caso Milena Gottardi:

Denúncia

O inquérito da Polícia Civil foi encaminhado para o Ministério Público Estadual (MPES), que, no dia 27 de outubro, denunciou os seis indiciados à Justiça. A denúncia foi aceita no dia 1º de novembro pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches, que decretou a prisão preventiva dos seis acusados - que até então cumpriam prisão temporária.

Também no final de outubro,

o ex-marido da médica deixou a Delegacia de Novo México para ir a uma consulta com um dentista, na Praia da Canto, em Vitória. Hilário foi conduzido para a consulta sem algemas e em uma viatura descaracterizada da Polícia Civil. Além disso, o acusado seguia à frente dos policiais que o escoltavam e acionou o interfone do consultório, dando a impressão de que estava em total liberdade.

Após o fato, o juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória determinou que a direção da Delegacia de Novo México apresentasse um relatório circunstanciado sobre a saída de Hilário da unidade prisional. Também por causa desse fato, Marcos Pereira Sanches determinou, no dia 8 de novembro, que o policial civil fosse transferido da Delegacia de Novo México para o Complexo Penitenciário de Viana, onde Hilário permanece preso. O magistrado considerou que a delegacia não apresentava a segurança necessária para manter o acusado preso.

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A defesa de Hilário Frasson chegou a entrar com um pedido de habeas corpus, solicitando que o policial civil voltasse a cumprir a prisão preventiva na Delegacia de Novo México. No entanto, o desembargador Adalto Dias Tristão negou o pedido e determinou que Hilário continuasse no presídio de Viana.

Ligação de dentro da prisão

A reportagem da TV Vitória/Record TV teve acesso ainda a um documento

que comprovou que foi realizado um telefonema de dentro da Delegacia de Novo México, para um agendamento no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em nome de Hilário Frasson. A ligação, que foi feita por meio de um telefone fixo da delegacia, aconteceu no dia 6 de novembro e o atendimento foi agendado para o dia 8 do mesmo mês, na sede do INSS, em Monte Belo, Vitória.

A Polícia Civil chegou a dizer que a direção da Delegacia de Novo México negou o pedido feito por Hilário para buscar atendimento no INSS. No entanto, com a comprovação de que o agendamento havia sido feito de dentro da unidade policial, a corporação admitiu uma possível irregularidade e informou que iria apurar o fato.

Também durante o período em que ficou preso na Delegacia de Novo México, Hilário conseguiu solicitar que um conhecido fosse até o apartamento de Milena para pegar alguns documentos. O pedido foi feito durante uma visita feita por esse indivíduo ao policial. Dias depois, o homem foi ao prédio onde a médica morava e se identificou ao porteiro como eletricista. No entanto, como ele não possuía as chaves do imóvel, sua entrada não foi autorizada.

Julgamento

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As primeiras audiências de instrução referentes ao julgamento dos acusados de envolvimento no assassinato de Milena Gottardi já foram marcadas. Mais de 50 testemunhas serão ouvidas nessa primeira etapa, que ocorrerá entre os dias 16 e 31 deste mês.

Segundo decisão do juiz Marcos Pereira Sanches, nos dias 16 e 17 prestarão depoimento as testemunhas arroladas pelo Ministério Público Estadual (MPES). No dia 30 serão realizadas audiências, onde serão ouvidas as testemunhas arroladas pelas defesas de Hilário e Esperidião Frasson, acusados de serem os mandantes do assassinato de Milena. Já no dia 31 serão ouvidas as testemunhas apontadas pelas defesas de Valcir da Silva Dias e de Hermenegildo Palauro Filho, o 'Judinho', apontados como intermediários do crime.

As primeiras audiências começam na próxima terça-feira (16). Ao todo, foram convocadas 51 testemunhas no processo de julgamento do caso. Treze delas pela defesa de Hilário. No primeiro dia do julgamento, das 19 pessoas convocadas pela acusação, nove começam a ser ouvidas pelo juiz responsável. A primeira testemunha a depor será o delegado Janderson Lube, que esteve à frente das investigações.

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