"Dava para escutar crianças chorando e gritando", diz estudante que estava em escola invadida
Família diz que o jovem que invadiu a escola teria problemas psicológicos graves e estaria passando por um período de depressão
Os momentos de estudo e aprendizado se tornaram instantes de medo. Na última sexta-feira (19), os alunos, professores e funcionários da Escola Eber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, em Vitória, foram surpreendidos com a invasão de Henrique Lira Trad, de 18 anos, que portava várias armas.
Em entrevista exclusiva ao Balanço Geral ES, da TV Vitória/RecordTV, uma aluna de 9 anos contou que durante a invasão à escola, o rapaz, ex-aluno da unidade, tentou invadir a sala em que ela estava.
A menina lembra que quando tudo começou, uma ajudante da escola foi até a sala dela e pediu para que fechassem as portas.
"A nossa professora achou que fosse uma coisa da obra da escola, mas depois a gente percebeu que algo de estranho estava acontecendo. Minha professora logo pegou a mesa dela, mas a gente teve ideia de pegar o armário e colocar na porta", contou a aluna.
Após invadir a escola, o invasor tentou entrar em algumas salas e o desespero foi generalizado.
"O cara tentou abrir a porta e começou a chutar. Ele chegou perto da nossa sala e a gente ficava com medo. Minha sala é perto das crianças pequenas, então dava para escutar um monte de criança chorando e gritando", lembrou a menina.
Por aplicativos de mensagens, uma professora tentava acalmar pais e responsáveis e enviava áudios dizendo que as crianças estavam bem e protegidas. Após o susto, o alívio de reencontrar a família.
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"A professora falou que já tinham apreendido o cara. Nós abrimos as portas e alguns pais foram à sala para pegar as crianças. No meu caso, tive que descer para meu responsável me pegar. Meu avô me buscou e me deixou mais segura", disse.
O pai da menina contou que soube da notícia por telefone e ficou desnorteado.
"Minha esposa me ligou e me avisou que tinha um rapaz armado na escola e era para eu ir para lá. Eu estava em Jardim Camburi, no meu trabalho e fui correndo. Quando cheguei, a polícia já estava no local e foram liberando as crianças. Eu não encontrei minha filha, pois já haviam pegado ela. Eu fiquei desesperado, mas depois descobri que ela já estava em casa", relembra.
O invasor disse para a polícia que é ex-aluno da instituição. Nas redes sociais, um perfil, com o exato nome de Henrique, aparece disponível. Com poucos seguidores, na biografia o recado originalmente escrito em inglês é traduzido como "Fui forçado a criar isso. A única informação que terá de mim: sou épico. Nova Era".
O login caodechazes, tem o significado original de "caçador de caos". Apesar de não ter nenhuma publicação e ser trancada, a página chama a atenção. Henrique teve acesso à escola armado com arco e flechas, facas e bombas. Segundo relatos de testemunhas, ele atirou contra uma professora e crianças, mas ninguém ficou gravemente ferido.
"A primeira coisa que vem na cabeça são os atentados em outros Estados, com acidentes fatais e várias crianças morrendo. A preocupação com minha filha, crianças indefesas estavam naquela escola", afirma o pai.
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A família de Henrique preferiu não dar entrevistas nesse momento. Por telefone, um tio disse que o jovem já apresentava problemas psicológicos graves e estaria enfrentando uma depressão. Segundo ele, no ataque, o jovem não tinha a intenção de matar ninguém, mas de ser morto em um possível confronto com a polícia.
A defesa de Henrique alega que ele tem problemas com depressão e pensamentos suicidas e que isso teria sido avaliado na audiência de custódia. Henrique foi atendido no Hospital Psiquiátrico, mas até o momento não foi considerado inimputável pela Justiça, ou seja, não está isento do crime por motivo de doença mental e foi novamente levado à prisão neste fim de semana.
Na escola, os últimos dias têm sido de muitas reuniões e mudanças na segurança do lugar, que foi reforçada de acordo com a prefeitura. Ainda assim, os pais estão preocupados.
Para a psicóloga Anne Daltro, avaliar o comportamento de um amigo ou parente que se mostre depressivo, isolado e anti-social é fundamental.
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"Alguns sintomas que podemos perceber que apontam sinais e sintomas de desequilíbrio são: isolamento social, não querer sair de casa, não querer ir em outros lugares, uma falta de expectativa para o futuro, tanto em relação à semana que vem ou daqui a alguns anos. Essa pessoa pode estar aparentando estar triste. São sinais que precisamos ficar alerta", explicou.
Nos últimos dias, a estudante tem dado mais atenção ao irmão e à família, porque por alguns instantes pensou que não fosse vê-los mais. A rotina de estudos e brincadeiras de crianças como ela foi interrompida por um fato que ela não vai esquecer.
*Reportagem de Nathália Munhão, da TV Vitória/Record TV