Boato sobre possível assassino de criança faz povo saquear e incendiar casa em Cariacica
Segundo testemunhas, cerca de dez homens pularam o muro e botaram fogo na residência de um morador da região. Polícia, no entanto, diz que ele é inocente
Um morador do bairro Nova Esperança, em Cariacica, teve a casa incendiada e saqueada após um boato circular na região, apontando ele como responsável pelo assassinato do menino Ricardo Coelho Rodrigues, de 7 anos, que morreu após ser baleado no final da tarde de quinta-feira (14).
Vizinhos disseram que o homem, que trabalha como marceneiro, chegou a ter desavenças com o pai do menino há alguns meses, por causa de uma vidraça. A Polícia Militar, no entanto, afirmou que o homem não tem qualquer relação com a morte de Ricardo.
A casa do marceneiro foi invadida, saqueada e incendiada durante a noite de quinta-feira, por volta das 23 horas. Vídeos feitos por vizinhos mostram as chamas no interior da residência, que fica no segundo andar do imóvel. Nem o dono da casa nem seus familiares estavam na residência no momento do ataque.
Segundo testemunhas, cerca de dez homens pularam o muro, reviraram e destruíram vários objetos e ainda botaram fogo em alguns cômodos. Os bombeiros foram acionados e encontraram a casa de cima e a de baixo reviradas. Vários pertences foram danificados e alguns até furtados, inclusive eletrodomésticos.
A equipe de jornalismo da TV Vitória/Record TV esteve na residência, na tarde desta sexta-feira, e presenciou a situação em que ela ficou após o ataque. Na parte de baixo, a sala de estar ficou toda revirada e com o chão sujo de barro.
A cozinha também foi bastante danificada e alguns dos invasores chegaram a urinar no chão do local. Além disso, levaram do local alguns objetos, como fogão e o micro-ondas. Uma máquina de lavar, que fica num cômodo próximo, também foi furtada.
Já o segundo andar do imóvel, onde mora o vizinho que foi alvo da fúria dos invasores, ficou ainda mais destruído. Até uma cama king size, onde ele dormia com a esposa, foi levada pelo grupo.
As maquiagens da esposa dele, que trabalha como maquiadora, também foram furtadas, além de uma televisão que ficava na sala de estar.
Mas o cômodo mais destruído pelos invasores foi aquele onde seria o quarto da bebezinha que o casal espera para o mês que vem. A esposa do marceneiro está grávida de oito meses.
O quarto da criança já estava todo preparado, mas foi completamente destruído, já que acabou sendo o foco do incêndio. O calor do fogo também destruiu o forro do teto da casa.
Homem estava no interior do estado quando menino foi baleado
Na manhã desta sexta-feira (15), a irmã do homem, que mora na casa de baixo, apareceu para a avaliar o estrago. Ela informou que o irmão é marceneiro e está trabalhando no interior do estado.
"Ele conversou comigo e com meu namorado e meu namorado achou melhor que ele não passasse pela rua de cima, que é onde a família mora. Nisso, como ele achou muito ruim essa situação, ele preferiu deixar a casa dele e deixar a esposa dele, que está grávida de oito meses, na casa de familiares, para proteção dela. E ele escolheu trabalhar no interior do estado", contou.
"Ele não estava aqui na Grande Vitória, tanto que ele não ficou sabendo na hora o que aconteceu e nós só conseguimos contato com ele quando estava já queimando a casa, porque o lugar onde ele está não tem sinal. Então quando ele ficou sabendo, ele entrou em desespero, porque ele não sabia o que ele fazia", completou.
PM diz que vizinho é inocente e que criança pode ter sido vítima de tiro acidental
Inicialmente, a suspeita sobre a morte do garoto era que de que o crime havia sido cometido por dois homens de motopp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_05
Ricardo chegou a ser socorrido por familiares e levado para um hospital do município, mas não resistiu e morreu.
Uma nova linha de investigação está sendo considerada para ajudar a esclarecer a morte de Ricardo. De acordo com a Polícia Militar, a suspeita é de que a criança tenha sido atingida por um tiro acidental.
"A investigação está ganhando um novo rumo. Tudo indica que o suspeito não cometeu o crime. Estamos trabalhando a linha de que ocorreu um acidente. O crime aconteceu dentro de casa e vamos preservar as pessoas envolvidas. Percebemos que adiantar as coisas é prejudicial e pode colocar em risco a vida de outras pessoas inocentes", afirmou o major Prado, comandante da 16ª Companha Independente da Polícia Militar.
Os pais do menino, que são comerciantes, estariam trabalhando no andar debaixo do imóvel quando o filho foi baleado. O major acredita que as perfurações causadas pelos disparos indicam que o garoto viu a arma apontada para ele e botou a mão na frente do objeto para se proteger.
"Houve no início a informação que foram três disparos, mas o médico analisou e informou que foi apenas um disparo que vitimou a criança. Tudo indica que a criança viu a arma apontada e estava próxima porque ela colocou a mão na frente", explicou o major, que garantiu que o homem apontado como suposto mandante do crime é inocente.
"Quero destacar que, em princípio, esse rapaz que foram divulgadas as fotos, apontado como suspeito, é inocente. Ele teve sim um problema com a família, mas a princípio ele não é o autor, nem o mandante de nenhum crime de homicídio", disse o major.
Menino vai ser sepultado em Afonso Cláudio
Nesta sexta-feira, a equipe de jornalismo da TV Vitória conversou com uma tia-avó de Ricardo. Ela contou que o menino era muito alegre e considerado arteiro. Disse ainda que tem um filho da mesma idade do sobrinho-neto e, que na época do nascimento da criança, ela chegou a amamentá-lo.
A tia-avó contou ainda que, minutos antes do crime acontecer, ela conversou com o menino, que estava na varanda de casa, jogando aviãozinho de papel no quintal. Por ele estar em um local alto, ela pediu que ele não ficasse pendurado na varanda. Foi aí que o menino entrou em casa e logo depois, ela ouviu os tiros.
O corpo da criança foi liberado do Departamento Médico Legal (DML) de Vitória na manhã desta sexta-feira. Ele será sepultado no munucípio de Afonso Cláudio, na Região Serrana do estado.