Após dez anos de silêncio, Suzane Von Richthofen confessa a Gugu: "Tive culpa e estou pagando"
A equipe do programa do Gugu viajou 150 km até a Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. A entrevista é a primeira que concede em dez anos
Após uma década, Suzane Von Richthofen quebrou o silêncio e conversou com Gugu Liberato. Em uma reportagem exclusiva, exibida na última quarta-feira (25), na estreia do programa do Gugu, na Rede Record, ela abriu o jogo sobre o crime que marcou sua vida para sempre.
A equipe do programa do Gugu viajou 150 km até a Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. A entrevista é a primeira que ela dá em dez anos.
A produção passou por forte revista, assim como seus equipamentos. Suzane matou os pais, Manfred e Marizia, em outubro de 2002, com a ajuda do namorado, Daniel Cravinhos e o irmão dele, Cristian.
Suzane diz que é muito vaidosa, mesmo na cadeia. "Mesmo aqui, eu acho que a vaidade faz parte de mim. A mulher tem que se cuidar em qualquer lugar. Sempre fui vaidosa. Aqui não dá para ter muita vaidade, mas dá para fazer as unhas, pintar, alguma maquiagem. Mas não tem muito recurso, umas fazem nas outras, mas não tem muito recurso.
Ela também falou de seus sonhos e planos. "Acho que são mais sonhos do que planos, porque estou em regime fechado e tem todo um trâmite para eu ir embora. Tenho vontade de trabalhar, voltar a estudar, tenho sonhos sim, planos. Fazia faculdade de direito, mas agora eu faria administração. Na cadeia, aprendi a costurar, então eu tenho vontade de colocar isso em prática lá fora".
Presa há tanto tempo, ela diz que ainda sofre. "Se eu falar que não estou sofrendo, estou mentindo, não é fácil estar aqui. Mas quero ter a chance de recomeçar. A Justiça me deu uma sentença e eu vou cumprir. Mas eu quero ter a chance de voltar a trabalhar".
A menina, que vivia cercada por itens de luxo, precisa se contentar com uma paródia da vida que um dia levou. "Ganho salário de R$ 600 e pouco. O dinheiro não vem para a minha mão. Materiais de higiene, necessidades, algumas coisas de comer, chocolate. Vem uma folha com todos os itens, o dinheiro vai para um fundo, e eu posso comprar as coisas para me manter aqui.
Suzane contou que sabe de pouco e que descobre as informações pela mídia. "Aqui, pouca coisa chega até mim. Muita coisa do que eu sei, sei pela própria televisão".
Ela não vê o irmão desde 2006. Eles não se encontram desde o último julgamento. "Há um tempo ele entrou em contato por telefone, com o advogado na época, e manifestou interesse de vir aqui. Agora, não sei até que ponto é isso ou não é. Em relação a ele, Deus sabe do meu coração o bem que desejo a ele".
No dia do crime, Suzane disse que contou tudo ao irmão. "Eu pedi perdão para ele. Eu contei tudo para ele, tudo o que tinha acontecido e sabe o que ele me falou? Su, eu perdi meu pai, minha mãe, meu melhor amigo, porque ele tinha o Daniel como melhor amigo. Eu não quero perder minha irmã. Eu te perdoo, vou ficar com você".
Porém, as visitas pararam. "Eu sei que o meu irmão sofreu para caramba. A única coisa que eu sei é que ele dá aula em uma universidade. Se aqui dentro eu sofri, imagina ele lá fora. Quando o nome é reconhecido. Eu sei que causei muito mal e queria que ele pudesse me perdoar e estar presente", afirma.
Mostrando-se arrependida, Suzane revelou sentir muita falta do irmão. Olhando para a câmera, mandou uma mensagem. "Eu te amo. Deus sabe o quanto eu te amo. Eu quero uma reaproximação, reconciliação. É um sonho estar de novo com meu irmão. Ele faz falta, sinto saudades. Mas eu não sei como ele é hoje, nem fisicamente. Quando o vi era um adolescente, ele tinha 15 anos e hoje tem 27. Ele já é um homem".
Gugu questionou o que aconteceu no dia em que Suzane perdeu os pais.
O jornalista questionou como era a relação com a mãe, Marizia. "Minha mãe era muito de sentar, conversar, ela era uma pessoa presente. Maravilhosa. Eu não tenho nada para falar dela, só coisas boas. Tanto que as minhas lembranças são doces. Tenho saudade da minha família, meu irmão, saudade de toda uma vida que eu tinha que hoje é completamente diferente".
Suzane disse que ainda sonha com ela. "Sonho com minha mãe, bastante. Mais com ela do que com o meu pai. Em lugares de campo, num sítio, no mato. Lugares tranquilos, ela sempre presente. Era como se ela estivesse me protegendo do meu lado".
A última lembrança que a detenta tem da mãe é dela indo para o consultório trabalhar. Marizia era psiquiatra. O relacionamento com Daniel começou quando ela tinha 15 anos. Suzane disse que foi a mãe que os apresentou.
Gugu perguntou se a tragédia começou no dia que ela conheceu Daniel. Suzane concordou. "Minha mãe não gostava dele. No começo, sim, como amigo, instrutor, mas não como meu namorado, não como alguém para fazer parte da minha vida. Quando o relacionamento começou a ficar sério, ela passou a conhecê-lo. Quem era o Daniel, a vida dele em si. E ela passou a não gostar mais. Começou a cortar o relacionamento. Eu namorava escondido com ele".
Com Daniel, Suzane dizia se sentir livre. "Minha casa era toda certinha, hora de almoçar, jantar, dormir, todo mundo junto, só podia sair sexta e sábado. Tudo certinho. Toda regrada. Ele me apresentou uma vida completamente diferente, não tinha hora para chegar, sair. Uma vida do 'tudo pode'. Que vida boa, poder tudo.. qualquer coisa, livre, leve e solto. De repente conheci uma vida que era livre. Ao lado dele, me sentia livre. Mas era mentira. Eu não era livre. E hoje eu sei que tenho que ter responsabilidade de acordo com a liberdade. Não queria saber das consequências. Queria viver com a liberdade".
Suzane disse que sentiu confiança em Gugu Liberato para falar sobre o assunto. "Nossa, Gugu, esse é um tema que até hoje não consigo falar direito. Tive que falar para a Justiça, e para imprensa nenhuma consegui falar sobre isso. Mas para você, que é uma pessoa de confiança, do bem, eu vou contar. É um dia que eu nunca mais vou esquecer. Aquela Suzane de 12 anos atrás não existe mais. Aquele dia eu estraguei a vida do meu irmão, dos meus pais, da família de uma forma que não tem mais volta. Se pudesse, eu queria fazer diferente, mas não tenho como voltar, mudar tudo o que aconteceu".
Ela também falou sobre seu comportamento. "Eu não conseguia pensar em nada, no depois. Eu acho que era inconsequente. Sabe quando você não acredita no que está acontecendo? Que parece que não é com você. Quando você vive uma coisa, mas não está vivendo de verdade? Talvez um estado de choque. Ei, é minha vida, minha mãe, meu pai, sou eu que estou aqui. Um turbilhão dentro de mim".
Após ter admitido consumir drogas, Suzane disse que elas podem ter influenciado em seu comportamento. Porém, arrependida, disse que se não tivesse conhecido Daniel seria tudo diferente.
"Pode ser sim. Consumia drogas, maconha. Com certeza a droga tira você do seu equilíbrio, centro, eixo. Mas não posso falar que a culpa é toda deles, porque quando um não quer, dois não fazem. Eu me arrependo de conhecer eles, acho que minha história seria diferente. Eu tive culpa também e estou pagando por isso".
Ela também negou ter sido a mentora de todo o esquema. "
Suzane contou o que falaria para os pais se estivessem vivos. "Perdão. Vocês sempre tiveram razão, quando a minha mãe me dizia que ele iria me levar para o buraco, eu não acreditava. Você tinha razão, me perdoa. Eu achava que sabia tudo, e eu não sabia nada. Ela sempre esteve certa. Iria pedir que me perdoassem, abraçá-los, eles fazem falta".
A segunda parte da entrevista será exibida nesta quinta-feira (26) e conta com a participação de Sandrão, companheira de Suzane.
Com informações do Portal R7
Suzane von Richthofen assume ter planejado crime e faz revelações a Gugu. Assista: