Pombos do tráfico: Justiça libera da prisão advogada com câncer
Com a nova decisão, foi revogada a prisão preventiva da advogada que teria participação como pombo-correio do tráfico em presídios do Espírito Santo
Após decisão que soltou o advogado Davi Dickson Meroto Lamas Pereira, a Justiça também reconsiderou decisão de habeas corpus em favor da suspeita Maila Hering nesta quarta-feira (25). Com isso, foi revogada a prisão preventiva da advogada, que teria participação como pombo-correio do tráfico em presídios do Espírito Santo.
A decisão anterior, de mantê-la presa, já havia sido alvo de atenção, já que a ré demonstrou comprovação de que sofre com um mioma uterino, que é um tipo de tumor. Um laudo apresentado ao processo demonstra que ela teve um sangramento uterino, que geralmente é controlado com medicamentos orais e/ou injetáveis.
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Apesar disso, durante a audiência de custódia, em 9 de novembro do ano passado, a acusada e sua defesa foram questionadas sobre a medicação e não souberam dizer o nome, limitando-se a falar que a equipe médica da Unidade Prisional usava Paracetamol de 500mg de 8 em 8 horas. Confira trecho da decisão:
“Em que pesem os argumentos trazidos aos autos pela acusada e sua defesa, verifico que não foi demonstrado que o estabelecimento prisional não possui condições de proporcionar o tratamento adequado à acusada”.
Com novo entendimento, a decisão do desembargador Ubiratan Almeida Azevedo, apontou que “a prova dos autos é conducente à concessão do pedido de reconsideração de liminar, por ser a paciente portadora de suposta neoplasia benigna do útero (mioma), ou seja, câncer, carecendo, no momento, de vigilância médica necessária à manutenção da sua saúde”.
O que diz a defesa de Maila?
Em vídeo enviado à equipe de jornalismo da TV Vitória/Record TV, os advogados Fabio Marçal e Gabriela Loss Bahiense, que atuam em defesa de Maila Hering, afirmam que a concessão do habeas corpus foi uma decisão correta.
"Recebemos com tranquilidade a decisão que concede a prisão domiciliar à advogada Maila. Entendemos, inclusive, que processualmente, essa prisão preventiva não deveria nem ter sido decretada. Entendemos que ela era ilegal", apontou Marçal.
"Foi um habeas corpus humanitário decretado devido ao agravamento do estado de saúde da Maila que está com uma suspeita de câncer e já perdeu mais de 14 quilos no mês, está sofrendo sérias hemorragias na prisão. Então a gente entende que a decisão do Tribunal de Justiça foi acertada nesse sentido", disse a advogada Gabriela, ao lado de Fábio Marçal.
Operação prendeu 10 advogados
Davi Dickson, Maila Hering e outros oito advogados foram presos no dia 4 de novembro, durante uma operação deflagrada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
Realizada por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a investigação aponta que 11 advogados atuavam como "pombo-correio" de traficantes, alguns deles ligados ao Primeiro Comando de Vitória (PCV). Um dos suspeitos não foi localizado durante a operação.
O pedido de prisão preventiva foi solicitado pelo MPES e atendido pelo juiz Carlos Henrique Rios do Amaral Filho, da 1º Vara Criminal de Viana.
Interceptações telefônicas autorizadas
O documento obtido pelo jornalismo da Rede Vitória aponta que, por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, foi possível identificar que a relação dos advogados investigados com alguns criminosos "ultrapassa o vínculo meramente profissional".
Segundo o documento, os advogados investigados criaram, em julho de 2021, um grupo no WhatsApp, chamado de "Advogados Unidos", para facilitar a comunicação.
"Constata-se que o intuito desse grupo era facilitar a comunicação entre os advogados que visitavam internos do sistema prisional pertencentes ao mesmo grupo criminoso alvo da Operação Armistício e que também poderiam ser investigados pelo Ministério Público", descreve o documento.
O grupo foi criado após a Operação Armistício, realizada em 19 de julho, em que advogados investigados pela mesma conduta foram presos.
Em uma das mensagens enviadas no grupo "Advogados Unidos", um dos investigados presos chegou a questionar se os membros do grupo seriam os próximos alvos do MPES.