Justiça libera da prisão advogado suspeito de atuar como 'pombo-correio' do tráfico
Davi Dickson e outros nove advogados foram presos no dia 04 de novembro durante uma operação deflagrada pelo Ministério Público do Espírito Santo
O advogado Davi Dickson Meroto Lamas Pereira, preso em novembro de 2022 por suspeita de atuação como pombo-correio do tráfico em presídios do Espírito Santo, teve habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça na última semana.
De acordo com o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Davi transmitia ordens ilícitas (mensagens de conteúdo criminoso) entre os integrantes da facção Primeiro Comando de Vitória (PCV).
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Na decisão que concedeu a liberdade para o advogado, o ministro Reynaldo Soares da Fonseca destacou que o "paciente é acusado de valer-se das suas prerrogativas de advogado para transmitir mensagens e ordens ilícitas entre os líderes da facção presos e os integrantes em liberdade, ou seja, não participa das principais e mais graves atividades ilícitas promovidas pela organização criminosa, notadamente o tráfico de drogas e a distribuição de armas nas comunidades".
Operação prendeu 10 advogados
Davi Dickson e outros nove advogados foram presos no dia 04 de novembro durante uma operação deflagrada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
Realizada por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a investigação aponta que 11 advogados atuavam como "pombo-correio" de traficantes, alguns deles ligados ao Primeiro Comando de Vitória (PCV). Um dos suspeitos não foi localizado durante a operação.
O pedido de prisão preventiva foi solicitado pelo MPES e atendido pelo juiz Carlos Henrique Rios do Amaral Filho, da 1º Vara Criminal de Viana.
O documento obtido pelo jornalismo da Rede Vitória aponta que, por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, foi possível identificar que a relação dos advogados investigados com alguns criminosos "ultrapassa o vínculo meramente profissional".
Segundo o documento, os advogados investigados criaram, em julho de 2021, um grupo no WhatsApp, chamado de "Advogados Unidos", para facilitar a comunicação.
"Constata-se que o intuito desse grupo era facilitar a comunicação entre os advogados que visitavam internos do sistema prisional pertencentes ao mesmo grupo criminoso alvo da Operação Armistício e que também poderiam ser investigados pelo Ministério Público", descreve o documento.
O grupo foi criado após a Operação Armistício, realizada em 19 de julho, em que advogados investigados pela mesma conduta foram presos. Em uma das mensagens enviadas no grupo "Advogados Unidos", um dos investigados presos nesta sexta-feira chegou a questionar se os membros do grupo seriam os próximos alvos do MPES.
Quem são e qual o papel tinham os advogados investigados
A decisão em que determinou a prisão dos suspeitos detalha o envolvimento que cada suspeito teria. As informações foram levantadas durante a investigação do Ministério Público do Espírito Santo.
Veja a seguir o papel de cada advogado apontado pelo MPES:
MARCO AURÉLIO DE SOUZA RODRIGUES: Ele tinha, segundo o Ministério Público, atuação de destaque no setor jurídico da facção PCV. Marco teria sido recrutado para atuar na transmissão de recados no interesse do grupo criminoso, funcionando como mensageiro entre os faccionados que estavam nas unidades prisionais e em liberdade ou foragidos, viabilizando a gestão das atividades criminosas da facção, mais especificamente para o tráfico de drogas. Marco não foi localizado nesta sexta-feira e, por isso, continua solto.
DIEGO DO AMARAL LEAL: De acordo com o MPES, além de prestar serviços jurídicos, Diego repassava informações privilegiadas sobre atividades criminais do grupo criminoso, entretanto, o principal motivo que levou a sua contratação por parte dos líderes do PCV é sua disposição de introduzir recados no interesse da facção, chegando a promover atendimento na Penitenciária Federal de Porto Velho, onde se encontram reclusos as lideranças do PCV que estão no sistema penitenciário federal.
DANIEL FERREIRA DE SOUZA: Segundo o Ministério Público, sua função era transmitir os recados no interesse da organização criminosa PCV. Os investigadores chegaram a essa conclusão após analisar os dados extraídos do aparelho celular do denunciado.
MATEUS CANIZIO MARINHO DE OLIVEIRA: Ele participava, segundo o MPES, das comunicações entre os integrantes soltos e presos, auxiliando e beneficiando as atividades ilícitas do PCV.
DAVI DICKSON MEROTO LAMAS PEREIRA: De acordo com o MPES, transmitia ordens ilícitas (mensagens de conteúdo criminoso) entre os integrantes da facção PCV.
MAILA HERING: Ela foi recrutada pela facção, segundo as investigações, para a transmissão de recados no interesse da organização criminosa entre membros que se encontram presos e faccionados que permanecem em liberdade.
THATIANE DOS SANTOS SILVA: Segundo o Ministério Público, ela participava de forma ativa das comunicações entre os integrantes soltos e presos, auxiliando e beneficiando as atividades criminosas do PCV, registrando que no desempenho de funções dessa natureza, viabiliza a gestão das atividades criminosas da facção, com especial destaque para o tráfico de drogas.
MAYCON NEVES REBONATO: Aderiu ao setor jurídico do PCV valendo-se da sua posição de advogado, para atuar como mensageiro entre os membros da organização criminosa e os faccionados que permanecem em liberdade ou que estão foragidos, aponta a denuncia apresentada pelo MPES no pedido da prisão.
BÁRBARA MARCARINI VON RANDOW: De acordo com a acusação, ela teria aderido ao projeto de viabilizar a transmissão de conteúdo criminoso para alguns faccionados do PCV que estão presos nos presídios capixabas.
GUILHERME NUNES MORAES: Tinha como função, segundo o MPES, transmitir recados entre criminosos, viabilizando a gestão das atividades criminosas da facção, com especial destaque para o tráfico de drogas e emprego de armas.
ESTER MORAIS DIAS: O MPES aponta que, com base nas investigações, Ester atuaria na transmissão de recados no interesse do PCV por meio de “catuques” — bilhetes/cartas escritos geralmente a próprio punho por presos ou mesmo narrados por presos e escritos por advogados — encaminhados durante a troca de mensagens entre os advogados.