O papel da escola na escolha de uma profissão
Diretora pedagógica da Escola Monteiro, Penha Tótola fala sobre como contribuir para que adolescentes e jovens exercitem o autoconhecimento que levará a compreensão de habilidades e competências fundamentais na escolha de uma carreira.
Diretora pedagógica da Escola Monteiro, Penha Tótola fala sobre como contribuir para que adolescentes e jovens exercitem o autoconhecimento que levará a compreensão de habilidades e competências fundamentais na escolha de uma carreira. O fato da escola ter se antecipado e iniciado a disciplina Projeto de Vida, que só em 2022 passa a fazer parte do currículo, é um diferencial da instituição, que busca trabalhar em prol de uma formação mais ampla, que resulte em profissionais bem-sucedidos, cidadãos conscientes e pessoas mais felizes e dispostas a contribuir na construção de um mundo melhor para todos.
Hoje, qual o papel da escola na orientação pela escolha de uma profissão?
Penha Tótola (pedagoga e diretora da Escola Monteiro): A escola é o lugar onde a criança e o adolescente têm o acesso formal a diversas áreas do conhecimento. O que buscamos como escola, alinhando as mudanças previstas na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) às práticas cotidianas que materializam a essência da nossa forma de educar e formar, é fortalecer a autonomia dos alunos para contribuir no desenvolvimento de suas habilidades e competências.
O autoconhecimento, o acesso à diversidade, a oportunidade de vivenciar o conhecimento para além da teoria apontam caminhos sobre que profissão seguir.
Tudo isso se torna uma experiência prática com a disciplina de Projeto de Vida, que tem o objetivo de levar o aluno a se conhecer melhor, definir suas áreas de interesse e, assim, ajudar na orientação vocacional, favorecendo a construção de um plano de carreira.
Numa consistente união entre teoria e prática, o estudante começa a traçar seu caminho profissional de uma forma orientada, que leva em conta sua individualidade e suas capacidades, além de estimular o desenvolvimento de atributos como criatividade, organização e clareza, diferenciais em qualquer área de atuação.
Refletir sobre essas escolhas é um processo que ocorre cada vez mais cedo nas escolas? Por que isso acontece?
Na Monteiro, a reflexão, o pensar por si mesmo, o protagonismo e autonomia são valores presentes desde a criação da escola há mais de 50 anos, ainda como uma “escolinha de artes”, e seguem presentes do 1º ano do fundamental a 3ª série do ensino médio, respeitando fases e etapas. Refletir, questionar e ampliar o olhar sobre o mundo permitem enxergar novas possibilidades.
Não se trata de fazer uma escolha definitiva – até porque nenhuma escolha precisa ser definitiva – na infância, no início da adolescência ou mesmo na idade adulta. Trata-se de começar cedo a construção desse caminho que levará a uma escolha mais consciente e natural, diminuindo a pressão e o peso que não trazem ganhos nem em resultado nem em realização pessoal. Ou seja, não é sobre “pressionar” mais cedo, o que é algo bem prejudicial. Ao contrário, é dar leveza a um processo que deve ser construído etapa por etapa.
Mudar de ideia em relação a profissão antes de entrar na faculdade é normal? Como os jovens devem lidar com isso? E as famílias?
A mudança é algo que faz parte da vida e não deve ser encarada como “anormalidade”. Neste caso, é ainda mais significativo porque existe uma pressão social pra que essa escolha seja feita antes da hora. A criança mal aprendeu a ler e já tem gente perguntando o que ela quer ser quando crescer.
Mesmo que seja uma brincadeira, há toda uma carga cultural e social que, muitas vezes, dificulta enxergar com clareza o que se quer. Acredito que os jovens devem estar abertos ao processo de desenvolvimento de suas competências e habilidades, com apoio da escola e das famílias. Devem também ser tolerantes com os próprios “erros” ou com escolhas que deixam de fazer sentido.
A família deve ensinar sobre responsabilidade, compromisso, valorização da educação e do conhecimento, mas também deve ser lugar de acolhimento para o adolescente e o jovem que precisam de apoio, num momento tão importante.
Qual área crianças, adolescentes e jovens estão escolhendo mais como profissão? Por que isso acontece? A escolha das profissões muda de uma geração para outra?
Não diria que há uma área específica mais escolhida. As escolhas são bem pulverizadas, até porque estimulamos nossos alunos a levar em conta habilidades e competências, e isso abre um universo bem amplo. Há escolhas mais “tradicionais” e outras ligadas a atividades que surgiram mais recentemente, como é o caso dos games e apps na área de tecnologia. Além disso, surgem profissões dentro das profissões: o aluno que quer fazer Engenharia Mecânica, de Computação ou Elétrica para trabalhar com Robótica, com aviação. Ou trocou a Medicina pela Biomedicina porque pretende ser um pesquisador na área. É claro que as possibilidades mudam de uma geração para a outra, e o tempo histórico também faz diferença. Surgem novas formas de trabalhar, de produzir, mas há espaço para o desenvolvimento em diversas áreas. O que buscamos é que o aluno se olhe e perceba o que trará mais realização e felicidade.
O que, geralmente, influencia na escolha da profissão? Quais as orientações para os jovens nesse momento?
É importante ressaltar que essa escolha não deve se basear numa “influência” sem aprofundamento. Desde cedo, mas especialmente na disciplina de Projeto de Vida, a partir da 1ª série do ensino médio, é importante trabalhar atividades que levam o aluno a identificar suas aspirações profissionais e pessoais, refletindo sobre o que gosta e sobre o que deseja para sua vida. Assim, a partir da 2ª série, os estudantes são estimulados a escolher uma trilha de conhecimento para se dedicar de forma mais aprofundada.
A dica para os jovens é aproveitar a evolução do processo de ensino para se ouvir, para conversar com profissionais da área, para se aprofundar, para viver experiências, para abrir canais de diálogo familiares, e não transformar a escolha em um fim em si mesma. Ele deve pensá-la como parte de um projeto mais amplo, como a disciplina diz, um projeto de vida.
Quais as dicas para as famílias nesse momento de escolha dos filhos? Como ajudar, sem interferir?
A formação da criança, do adolescente e do jovem é papel da família. Mas a escolha profissional que ele fará não deve ser do pai, da mãe ou de algum familiar ou amigo. A família deve atuar como parceira da escola e se abrir para o diálogo. O jovem pode ser questionado, mas de uma forma que estimule o pensar por si mesmo, a criticidade e o reconhecimento dos seus valores e perspectivas.
Quais as possibilidades uma determinada profissão oferece? O quanto você precisa se dedicar? Como está o mercado, a oferta de emprego, as oportunidades de empreendedorismo e o patamar de remuneração são perguntas sempre cabíveis porque podem influenciar na qualidade de vida e no bem-estar de um indivíduo. Mas as questões que mais importam é se isso faz sentido pra você, se “conversa” com suas habilidades e gostos e se te colocará numa trajetória de construção de felicidade e realização. São perguntas que devem feitas pelo próprio jovem e estimuladas pela escola e pela família de formas diversas.
Saiba mais sobre o novo ensino médio e a disciplina de Projeto de Vida
“O novo ensino médio já é uma realidade na Escola Monteiro, antes mesmo de se tornar uma obrigatoriedade formal. Em 2020, mesmo num ano tão desafiador marcado pela pandemia, começamos a oferecer a disciplina de Projeto de Vida. A disciplina veio com o objetivo de contribuir para o autoconhecimento do aluno, levando à construção de um plano de carreira, unindo teoria e prática, como sempre acontece na nossa forma de pensar e fazer educação”, afirma o coordenador do ensino médio da Escola Monteiro, Elio Serrano.
Segundo ele, a ideia é levar em conta as áreas de interesse dos alunos, criando, a partir da grade curricular, nossas possibilidades: entrevistas com psicólogos, interação com profissionais em atuação no mercado e elaboração de projetos práticos.
“No ano passado, as propostas envolveram do desenvolvimento do protótipo de uma bicicleta elétrica até a produção de vídeos sobre doenças sexualmente transmissíveis, para citar dois exemplos. Este ano, trabalhamos temas relacionados à presença das baleias jubarte no litoral capixaba; a construção de autobiografias, desenvolvendo a escrita e trabalhando o autoconhecimento; entre outros temas”, explica.
Para o coordenador, metodologias de desenvolvimento de projeto, produção de artigos para publicação e apresentação pública dos trabalhos estão previstos e fazem parte do processo inicial de formação de profissionais mais preparados, completos, criativos e felizes com suas escolhas.
“Oferecemos a disciplina com a proposta de despertar o aluno para um processo de autoconhecimento e orientação vocacional, em áreas de seu interesse, favorecendo a construção de um plano de carreira. Assim, o estudante começa a traçar seu caminho profissional de uma forma orientada, que leva em conta sua individualidade e capacidade cognitiva, além de estimular o desenvolvimento de atributos como criatividade, organização e clareza, diferenciais em qualquer área de atuação e fundamentais nos novos tempos”, considera.