A pergunta “quem sou eu?” sempre esteve presente na história da humanidade e envolve aspectos filosóficos, físicos, éticos e sociais. Apesar disso, o caminho rumo ao autoconhecimento nem sempre é fácil e “natural”.

Conhecer a si mesmo é tarefa que exige tempo, esforço, vontade e escuta ativa, interna e externamente. Mas existe um momento certo para iniciar essa jornada? Ou uma idade mais adequada? Como se deve imaginar, a resposta é não.

E mais: pesquisas indicam que é possível começar ainda na infância, sem o peso que costuma permear processos do mundo adulto.

A prova são as práticas de ioga, meditação e mindfullness – que trabalha o conceito da atenção plena - com crianças, e os importantes resultados obtidos em relação a questões preocupantes dos nossos tempos como ansiedade, depressão, hiperatividade e dificuldade de concentração.

Na Escola Monteiro, por exemplo, as aulas de ioga já fazem há alguns anos parte da grade curricular de todas as séries, do ensino fundamental ao médio. Este ano, a instituição também está desenvolvendo um projeto de pesquisa, em parceria com uma médica e com pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para aplicar a prática do mindfullness, estudando os resultados obtidos como um projeto de pesquisa.

Além disso, o autoconhecimento sempre esteve presente no projeto pedagógico, ganhando o dia a dia das salas de aula desde as primeiras séries do ensino fundamental 1, quando os alunos têm entre seis e sete anos.

De acordo com a psicopedagoga e coordenadora dos 1º e 2º anos da Escola Monteiro, Tatiani Svacina, a temática trabalhada pelos 1º anos do ensino fundamental, em processo de alfabetização, é exatamente essa: o Projeto “Quem Sou eu?”, que envolve atividades em diversas disciplinas e habilidades, da língua portuguesa ao inglês, passando por matemática e ciências.

Como parte do projeto, as turmas das professoras Penha Oliveira e Karla Muruce começaram a fazer um álbum de figurinhas sobre si mesmos e sobre a turma, com direito a linha do tempo e uma “visita” à história que construíram ao longo de seus primeiros anos de vida.

“Percebemos que as crianças se envolvem e se sentem motivadas quando falam de si e da própria história. E ninguém tem dúvida de que o autoconhecimento é fundamental para o desenvolvimento de todo indivíduo seja na área pessoal ou profissional”, considera Tatiani.

Ao mesmo tempo em que “mergulham” de forma lúdica e divertida nesse olhar para si e para o outro, os alunos são estimulados por meio do Projeto Bem-Estar a seguir no processo de autoconhecimento, a partir de práticas relacionadas a hábitos saudáveis e de autocuidado. “Desenvolvemos um trabalho com foco nos sentidos, na parte física e na saúde integral. São propostas correlacionadas que se desenrolam ao longo de todo o ano letivo e que serão apresentadas para a comunidade escolar e visitantes durante a Feira Integrada, que acontece no dia 5 de novembro, e mobiliza toda a escola em apresentações práticas e criativas, que consolidam e marcam o fechamento do ciclo de cada ano letivo”, explica.

Os alunos levarão para o evento, além de uma exposição dos trabalhos realizados, um Labirinto Sensorial, que ocupará uma sala de aula da escola e convidará os familiares e visitantes a estabelecer um contato próximo com seus cinco sentidos. Andar descalço em tapetes de diferentes texturas e experimentar sons, sabores e cheiros estão entre as propostas.

Já no 2º ano do ensino fundamental os alunos trabalharam, entre outros livros, um clássico da literatura infantil - “Novas duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz”, de Ruth Rocha”, em um projeto coordenado pelas professoras Mabele Freitas e Tatiana Pissaia.

Além de incentivar a leitura e trabalhar a linguagem, o projeto literário permite uma abordagem que também leva em conta a saúde emocional e o bem-estar: eles transferem a proposta do livro para o ambiente escolar, apontando o que traz felicidade no dia a dia.

Dentro dessa lógica, está também o autocuidado. Esses mesmos alunos também participam do projeto “Quem planta cuidado, colhe saúde”, iniciativa interdisciplinar que leva a discussão sobre o que a terra nos oferece e como podemos – e devemos - retribuir por meio do respeito e da sustentabilidade.

Projeto de Vida

Diretora pedagógica da Escola Monteiro, Penha Tótola complementa que esse estímulo ao autoconhecimento é um valor da escola, que segue presente ao longo de toda a trajetória escolar. As mudanças que culminaram na criação da disciplina de Projeto de Vida como parte da grade do ensino médio em todas as escolas do País, determinadas pelo Ministério da Educação, foram antecipadas pela Monteiro e iniciadas em 2020, antes da obrigatoriedade, indo além e incluindo também séries do ensino fundamental 2.

“Já trabalhávamos com disciplinas eletivas que permitiam ao aluno do ensino médio a vivência, a experiência prática e o aprofundamento em áreas do seu interesse como uma forma de tornar as escolhas mais fluidas, que surgiriam como resultado de um processo que vem sendo construído de forma gradual e contínua até se configurar num Projeto de Vida, mesmo antes da existência da disciplina em si”, afirma.

Penha explica que a disciplina Projeto de Vida encontra consonância em todo o trabalho prévio realizado pela Monteiro. “Oferecemos a disciplina com a proposta de despertar o aluno para um processo de autoconhecimento e orientação vocacional, em áreas de seu interesse, favorecendo a construção de um plano de carreira. Assim, o estudante começa a traçar seu caminho profissional de uma forma orientada, que leva em conta sua individualidade e capacidade cognitiva, além de estimular o desenvolvimento de atributos como criatividade, organização e clareza, diferenciais em qualquer área de atuação e fundamentais nos novos tempos”, considera.

O coordenador do ensino médio da Monteiro Elio Serrano complementa, explicando que a proposta da matéria é levar em conta as áreas de interesse dos alunos, criando, a partir da grade curricular, novas possibilidades: entrevistas com psicólogos, interação com profissionais em atuação no mercado e elaboração de projetos práticos.

“Os alunos desenvolveram do protótipo de uma bicicleta elétrica até a produção de vídeos sobre doenças sexualmente transmissíveis, para citar dois exemplos. Também já trabalhamos temas relacionados à presença das baleias jubarte no litoral capixaba; a construção de autobiografias, desenvolvendo a escrita e trabalhando o autoconhecimento; entre outros temas”, explica.

Para o coordenador, metodologias de desenvolvimento de projeto, produção de artigos para publicação e apresentação pública dos trabalhos estão previstos e fazem parte do processo inicial de formação de profissionais mais preparados, completos, criativos e felizes com suas escolhas.