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Geral

Excesso de celular compromete recuperação de dependentes

Além das substâncias químicas e comportamentais, a dependência digital desponta como um obstáculo moderno, frequentemente ignorado

Kayra Miranda

Redação Folha Vitória
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Foto: Freepik
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Com a crescente onipresença dos dispositivos digitais, o vício em celulares tem se tornado uma realidade que ultrapassa as barreiras do entretenimento, afetando também processos de recuperação em comunidades terapêuticas. 

Além das substâncias químicas e comportamentais, a dependência digital desponta como um obstáculo moderno, frequentemente ignorado, que interfere na adaptação ao tratamento de diversos vícios, incluindo drogas e álcool.

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Para entender como a tecnologia impacta o ambiente de recuperação, o Folha Vitória conversou com especialistas e coordenadores de comunidades terapêuticas como a Fazenda da Esperança e a Comunidade Edificar, que possuem abordagem restritiva quanto ao uso de celulares em seus programas.

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Como o vício em celular afeta o cérebro e o comportamento

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A psicóloga Renata Lage explica que o uso contínuo do celular ativa os circuitos de recompensa do cérebro, liberando dopamina — neurotransmissor relacionado ao prazer. 

“Esse estímulo constante imita os efeitos de substâncias que causam dependência, criando uma nova fonte de prazer, o que pode comprometer a recuperação”, diz. 

Isso ocorre porque, ao buscar o prazer instantâneo, o cérebro se condiciona a responder aos estímulos rápidos das notificações e atualizações das redes sociais, reforçando padrões compulsivos que são também característicos das dependências químicas.

Esse fenômeno foi discutido em detalhes com Paula Martins, gerente executiva do Instituto Americo Buaiz (IAB), que apoia instituições como a Fazenda da Esperança e a Comunidade Edificar. Segundo ela, a promoção da saúde mental nas comunidades terapêuticas é essencial.

"Essas instituições atuam de forma gratuita, sem uso de medicações, focando processos de autoconhecimento e quebra de comportamentos compulsivos", explica.

Comunidades terapêuticas e as barreiras da dependência digital

Foto: Reprodução / Instagram

A restrição ao uso de celulares é uma prática comum em comunidades terapêuticas. Rafael José da Silva, coordenador da Fazenda da Esperança Nossa Senhora da Conceição, afirma que, para muitos usuários de substâncias, a ausência do celular é menos impactante, já que, por vezes, eles venderam seus dispositivos para sustentar o vício. 

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Porém, para dependentes digitais ou viciados em jogos, essa restrição representa um desafio adicional. “Eles enfrentam um processo semelhante ao dos dependentes de drogas ao interromper abruptamente o que proporciona prazer e distração. O corte do celular é um momento crítico de adaptação”, ressalta Silva.

Já Gisele Mesquita, assistente social da Comunidade Edificar, destaca que a ausência do celular é fundamental para o foco no tratamento.

“Eles ainda mantêm contato com familiares e amigos por meio de ligações e visitas em horários pré-estabelecidos. A abstinência digital ajuda a evitar que percam o foco no tratamento e permite que eles vivenciem o momento presente”, explica Gisele. 

Além disso, a comunidade Edificar promove atividades como laborterapia e rodas de conversa, que atuam no reforço das interações interpessoais sem a necessidade de dispositivos tecnológicos.

Dependência digital como comportamento compulsivo

Renata Lage argumenta que o vício em celulares e redes sociais compartilha características com dependências químicas e jogos de azar. 

“Assim como substâncias e apostas, o celular oferece gratificação rápida. Cada notificação ou curtida estimula o cérebro a liberar dopamina, levando ao uso compulsivo do dispositivo”, explica a psicóloga. 

Dessa forma, as necessidades e desejos dos dependentes digitais se assemelham ao comportamento de quem busca drogas ou álcool para obter alívio ou prazer, dificultando o processo de abstinência.

Sinais e sintomas

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Especialistas apontam sinais específicos que se sobrepõem entre a dependência digital e outras compulsões, dificultando o tratamento. 

Esses sinais incluem a incapacidade de se desconectar, aumento da tolerância ao uso, compulsão pelo dispositivo e sintomas de abstinência — comportamentos que também aparecem em dependências químicas. 

“Quando o cérebro já está condicionado a uma dependência, ele pode substituir uma compulsão por outra. Por isso, é importante tratar a dependência digital como parte do tratamento integral”, enfatiza Renata Lage.

O caminho para a recuperação

As comunidades terapêuticas que apoiam pessoas na recuperação de vícios precisam adaptar seus métodos para incluir a abstinência de dispositivos digitais e promover habilidades de autocontrole e enfrentamento.

Hoje, a Comunidade Terapêutica Edificar auxilia 41 homens e 9 mulheres na recuperação contra o vício através de um atendimento multidisciplinar (psicanalista, assistente social, atendente espiritual, entre outros) e atividades diversas, como panificação, jardinagem, etc.

Com capacidade para até 50 acolhimentos, hoje a Fazenda Esperança acolhe 44 pessoas que buscam tratamento contra a dependência e sua plena recuperação. Lá, é oferecido um ambiente protegido e seguro para que os assistidos trabalhem a saúde mental visando a reinserção na sociedade.

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