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Bebê teve pescoço supostamente perfurado por unha de médica; entenda o que é violência obstétrica

Família denuncia hospital e relata maus-tratos durante parto; especialistas alertam sobre os danos à saúde mental das mães

Redação Folha Vitória

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audima
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Foto: Reprodução
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Uma denúncia grave de violência obstétrica está sendo investigada após a morte de um recém-nascido durante o parto no Hospital Maternidade Estadual Albert Sabin, em Salvador, Bahia. 

A mãe, Liliane Ribeiro, acusa a equipe médica de má conduta, alegando que o bebê sofreu uma lesão fatal no pescoço causada por uma unha da médica que realizava o procedimento. Além disso, relata que foi obrigada a passar por um parto normal contra as recomendações de uma cesariana e que foi maltratada pela equipe de saúde durante o processo.

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O caso, agora nas mãos da Polícia Civil, abriu discussões não apenas sobre a natureza da assistência oferecida às gestantes, mas também sobre a violência obstétrica e os impactos psicológicos que ela pode provocar. 

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A investigação, que deve ser concluída em até 30 dias, inclui diligências e perícias solicitadas pela família, que rejeita a alegação de morte fetal e defende que houve uma falha médica que levou à tragédia.

A DENÚNCIA E AS ALEGAÇÕES DA FAMÍLIA

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Liliane Ribeiro relatou que, durante o trabalho de parto, a equipe médica agiu de forma agressiva e desrespeitosa. Segundo ela, foi forçada a tentar um parto normal, apesar de existirem recomendações para uma cesariana, que teria sido mais segura para ela e para o bebê. 

Durante o procedimento, Liliane afirmou ter sido verbalmente agredida, sendo pressionada a "fazer força" sob a ameaça de ser "rasgada até o talo". Em outro momento, uma das pessoas da equipe teria dito que ela parasse de "presepada" — uma expressão que reforça o desprezo e o julgamento sobre a dor que Liliane estava enfrentando.

O cenário descrito pela mãe revela um atendimento negligente e hostil em um dos momentos mais vulneráveis da vida de uma mulher. Liliane também declarou que percebeu uma lesão no pescoço do bebê, supostamente causada pela médica durante a tentativa de extrair o recém-nascido. 

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A família, desconsolada, solicitou a realização de uma necropsia e contesta a versão de que houve uma morte fetal, alegando que a criança teria sido vítima de um erro médico fatal.

Foto: Divulgação / Pexel

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: O QUE É

O caso em questão trouxe à tona discussões sobre a violência obstétrica, uma realidade que muitas mulheres enfrentam no Brasil e em todo o mundo, mas que frequentemente permanece invisível ou subnotificada. A violência obstétrica pode ser definida como qualquer forma de abuso, negligência ou desrespeito contra a mulher durante o atendimento pré-natal, no parto ou no pós-parto.

Essa violência pode ocorrer de várias formas, incluindo a imposição de procedimentos sem o consentimento da mulher, negligência no cuidado, tratamentos desumanos e a negação dos direitos e escolhas da gestante. 

São situações que reduzem a mulher a uma paciente passiva, desconsiderando sua autonomia e seu papel no processo de parto, que deveria ser de protagonismo e respeito.

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TIPOS DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

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Imposição de Procedimentos Sem Consentimento: A realização de intervenções como episiotomia, manobra de Kristeller (pressão no abdômen da mulher para acelerar o parto) ou uso de fórceps sem explicação prévia e consentimento informado da paciente é um exemplo claro dessa prática.

Desrespeito à autonomia da mulher: Quando as preferências da gestante em relação ao parto são ignoradas ou desconsideradas. Isso inclui, por exemplo, quando a mulher solicita uma cesariana por razões médicas ou emocionais e é forçada a um parto normal.

Tratamento desumano e desrespeitoso: Palavras agressivas, gritos, ou mesmo negligência em momentos críticos. Comentários como os mencionados por Liliane — como “rasgada até o talo” e “parar de presepada” — são atitudes inaceitáveis e classificadas como violência verbal e psicológica.

Negligência no atendimento: Falta de cuidado e demora em responder às necessidades da gestante durante o parto, o que pode resultar em riscos sérios para mãe e bebê.

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Falta de privacidade e intimidade: A ausência de privacidade durante o parto, a presença desnecessária de pessoas no ambiente, ou a exposição da mulher sem justificação.

Foto: Divulgação

IMPACTOS PSICOLÓGICOS

A neuropsicóloga Dra. Karliny U. explica que a violência obstétrica pode deixar marcas psicológicas profundas e permanentes. Este tipo de violência transforma um momento muitas vezes ansiado e cheio de expectativas em um evento traumático, afetando a saúde mental das mulheres a curto e longo prazo.

"Esse tipo de situação pode causar um Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), que se manifesta geralmente por sintomas como pesadelos, crises de ansiedade, lembranças intrusivas e dificuldade para lidar com o ocorrido. Além disso, pode prejudicar o relacionamento da mãe com o bebê, principalmente quando há dificuldade em formar o vínculo emocional logo após o nascimento", explica Dra. Karliny.

Ela também menciona a Depressão Pós-Parto, um dos problemas mais comuns decorrentes da violência obstétrica. 

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Esse transtorno pode se manifestar em mulheres que se sentiram desrespeitadas ou incapazes durante o parto, e acaba interferindo no vínculo mãe-bebê, podendo até levar ao afastamento emocional, sentimento de culpa e fracasso, ou até mesmo dificuldades para cuidar adequadamente do bebê.

A ansiedade também é um problema comum, agravada por lembranças do trauma sofrido. A percepção de que o parto, um momento tão marcante, ocorreu de maneira desumanizada e agressiva pode levar a mulheres a desenvolverem fobia de futuros atendimentos médicos e até evitarem novas gestações por medo de reviverem experiências semelhantes.

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Foto: Freepik

O QUE PODE SER FEITO NESSES CASOS?

Uma parte importante do combate à violência obstétrica é a conscientização, tanto de profissionais de saúde quanto das gestantes e seus familiares. A implementação de protocolos que garantam a humanização do parto, a informação clara e o consentimento das mulheres para cada procedimento são passos essenciais.

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É fundamental que os hospitais e centros de saúde capacitem suas equipes para atuarem com respeito, empatia e foco na segurança e bem-estar da paciente. Programas de treinamento sobre direitos das mulheres e atendimento humanizado podem reduzir casos de violência e criar um ambiente mais acolhedor.

Para as gestantes, conhecer seus direitos e ter apoio durante o parto pode fazer uma grande diferença. A presença de um acompanhante, garantida por lei, ajuda a evitar abusos e oferece suporte emocional. Além disso, a busca por um plano de parto, documento em que a mulher registra suas preferências para o momento do nascimento, pode servir como guia para que as escolhas da mãe sejam respeitadas.

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