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“Amor transforma”: um olhar sobre crianças que ganharam um lar após adoção no ES

No Dia das Crianças, mais de 100 crianças esperam na fila de adoção no Espírito Santo. Algumas histórias de adoção foram compartilhadas ao Folha Vitória

Maria Clara Leitão

Redação Folha Vitória
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Foto: reprodução pixabay
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Adotar, no dicionário, é descrita como o termo jurídico que significa “escolher legalmente como filho”. Para além da burocracia, adotar é um ato de amor e afeto incondicional que transformará vidas de crianças e adolescentes. 

Mas, em pleno Dia das Crianças, comemorado neste sábado (12), muitas crianças ainda não conseguiram a oportunidade de encontrar uma família e permanecem na fila da adoção no Espírito Santo.

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Segundo dados do Sistema Nacional de Acolhimento (SNA) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), atualmente no Espírito Santo estão disponíveis para adoção 116 crianças e adolescentes com idades entre zero até 18 anos. Já o número de pretendentes é de 728.

Entretanto, apesar do número de famílias interessadas ser até 7 vezes maior que o de crianças disponíveis, o perfil não é compatível com o que buscam os interessados. 

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De acordo com muitos especialistas na área, “a conta não fecha”. Isso acontece porque, das famílias inscritas no sistema de adoção, mais de 71% não querem adotar crianças com deficiência; a maioria não aceita crianças acima de 6 anos e não querem irmãos.

Em entrevista ao Folha Vitória, o coordenador da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja), Helerson Elias Silva, descreve que os maiores fatores que dificultam a adoção são a idade - a partir dos 06 anos -, doenças e grupos de irmãos. 

“Infelizmente, em muitos casos é comum que esses fatores aparecem juntos e isso dificulta a adoção de determinadas crianças. Com isso, esses valores acabam pesando na hora de escolher esses perfis sendo deixados mais de lado”, narra Helerson.

Espera se transforma em amor 

No meio a tanta espera e desilusão, o amor vence e se torna uma grande felicidade para as crianças que conseguiram superar os obstáculos de uma adoção.

Entre elas, os profissionais narram a história de dois irmãos, de 10 e 11 anos, que quebraram barreiras e foram para a adoção internacional na Itália. Mesmo com a pouca idade, as crianças possuíam envolvimentos com furtos.

Foto: Maria Clara Leitão | Folha Vitória
“Eles já tinham mais de 30 passagens pela polícia, tudo por furto, entravam em comércios dos bairros. Foram até mesmo capa de jornal, mas, sabíamos que furtavam para comer”, descreve Helerson.
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Durante o processo de adoção, todas as informações sobre o passado das crianças são repassadas para as possíveis famílias. Nada foi escondido dos pretendentes e, por isso, não foram encontradas “famílias compatíveis” no Brasil.

“Mas um casal italiano, com bom poder aquisitivo, se dispôs a adotar. Na adoção internacional, eles são obrigados a passar no mínimo 30 dias no Brasil. Estávamos acompanhando, eram bagunceiros, mas nada, além disso”, narra o coordenador.

E o poder do amor quebrou até mesmo as barreiras do oceano, os tabus, preconceitos e deu uma nova chance na vida dos pequenos brasileiros.

“Na adoção internacional, temos que receber por dois anos um relatório do país de origem a cada seis meses, com fotos e o que os psicólogos. Recebemos foto dos meninos fazendo primeira comunhão, passeando pela Europa ou seja, estão excelentes”, explica Helerson.

Outra história de sucesso, é a de uma criança, com síndrome fetal alcoólica, causada pelo consumo de álcool durante a gestação, que nasceu enquanto a mãe estava reclusa em uma prisão. 

“Depois do acolhimento, ele chegou para a gente com quatro anos, tentamos de tudo, internacionalmente, chegamos a quase 30 visitas de pessoas interessadas. Infelizmente, temos que contar todos os detalhes da vida e o que a criança faz. No final, ela foi adotada. E é incrível a mudança de comportamento depois da adoção”, destaca. 

“Atravessei o mar inteiro para ter você”, lembra psicólogo 

Durante a conversa com a reportagem do Folha Vitória, o psicólogo e a assistente social também lembraram a história de um casal de italianos que adotaram um menino, de 5 anos. 

Mas, como muitas crianças, ele “testava a paciência dos pais”, principalmente no período obrigatório em que o estrangeiro deve ficar no Brasil. 

"Ele havia sido muito espancado pelo pai, mas foi adotado por um italiano. Um dia me chamaram, porque ficamos 24 horas disponíveis e o menino estava 'colocando a casa abaixo'. Era uma criança que dava muito trabalho, ninguém queria adotar, por isso foi para a adoção internacional", descreve o psicólogo. 
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Durante o atendimento, o psicólogo localizou a criança “jogando e quebrando objetos da casa”. “Falei que ele estava sendo testado. O menino havia sido rejeitada por todos, com qual garantia ele não seria abandonado novamente?”. 

Diante da “energia destrutiva”, o pai adotivo conseguiu conter a criança com um gesto de amor que ficará marcado para sempre na memória do psicólogo. 

"A criança estava toda enérgica, o pai pegou e falou assim, misturando o italiano e português, um negócio muito bonito: 'eu atravessei o mar inteiro para vir te pegar aqui e não importa o que você fizer, você vai comigo, porque eu te amo'", lembra emocionado. 

Projeto estimula adoção no ES

Foto: Divulgação/TJES

Para auxiliar nas adoções, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) criou um projeto de busca ativa para incentivar a adoção tardia, batizado de “Esperando por Você”.

Segundo a assistente social da Ceja, Nathalia Pelegrini, todas as crianças ou adolescentes que participam do projeto tiveram as buscas no Sistema Nacional de Adoção encerradas sem sucesso. 

Foto: Maria Clara Leitão | Folha Vitória
“Foram buscas tanto nacionais quanto internacionais. Os principais perfis dos participantes desse projeto são os mais difíceis de serem adotados: grupo de irmãos, adolescentes, portadores de alguma doença, ou deficiência. A gente dá visibilidade e voz para essas crianças na campanha”, descreve a asssistente social. 

Até o momento, já foram registradas no projeto: 105 participantes; 44 crianças já estão com as novas famílias; 03 em aproximação com as famílias e 25 aguaram um núcleo familiar.

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Na divulgação, são utilizadas imagens das crianças para serem apresentadas ao público, mostrando atividades que preferem e o um pouco de características pessoais. A reportagem do Folha Vitória transcreveu alguns dos vídeos para preservar a imagem das crianças: 

“Gosto de brincar de pique-esconde, e assistir séries e filmes. Meu maior sonho é ter uma família que me dê muito carinho e amor”- Felipe, 14 anos
"Oi, meu nome é Maria Vitória, tenho 14 anos, eu gosto de ir ao shopping com meus amigos e eu quero ser dançarina!"- Maria Vitória, 14 anos
"Meu nome é Isaqueu, tenho 10 anos, eu gosto muito de pintar, futebol, brincar com as pessoas. Gosto muito de comer macarrão, feijão, salada"- Isaqueu, 10 anos

“Gosto de cartas, futebol e videogame. Adoraria ter uma mãe carinhosa"- Sebastião, 14 anos. 

Como funciona a integração no projeto?

Antes de integrar no projeto, é marcada uma reunião com a criança e o adolescente. Todas as crianças concordaram em participar do projeto, foram autorizadas pelos magistrados responsáveis, coordenadores das instituições de acolhimento e guardiões.

“Durante essa reunião, a gente conversa com elas, explica o que é essa campanha, que a imagem dela vai ser veiculada, às vezes ela está na escola e o colega vai ver. Somente divulgamos a imagem quando a própria criança autoriza. Também escutamos para ver quais são os desejos”, descreve a psicóloga.

Além disso, também é explicado para as crianças sobre as diversas configurações familiares presentes na atualidade. “Já tiveram adolescentes que pedem um pai e uma mãe, tudo isso é conversado, pois pela campanha recebemos pretendentes dos mais variados modelos ao redor do país”.

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Saiba o passo a passo de como adotar uma criança no ES

1º passo: procure o Fórum ou Vara da Infância e Juventude de sua cidade, levando os seguintes documentos:

> Cópias autenticadas da certidão de nascimento, casamento ou declaração de união estável;

> Carteira de Identidade (RG);

> Cadastro de Pessoa Física (CPF);

> Comprovante de renda;

> Comprovante de residência;

> Atestado de sanidade mental;

> Certidão negativa de distribuição cível emitida no site do TJES;

> Certidão de antecedentes criminais, emitida pela Secretaria Estadual de Segurança Pública;

Ao apresentar os documentos, é necessário preencher o formulário de requerimento para habilitação à adoção, conforme modelo disponibilizado no cartório, e protocolar no local indicado.

2º passo: os documentos serão analisados e enviados ao Ministério Público para aprovação.

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3º passo: se aprovados, os interessados passam por uma entrevista psicossocial de uma equipe técnica multidisciplinar do Poder Judiciário, composta por profissionais de psicologia e serviço social. Nesta fase também é feita uma visita domiciliar.

4º passo: os interessados passam por um programa de preparação para adoção ou um curso. A etapa é obrigatória e a participação é um pré-requisito legal previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECRIAD).

5º passo: a partir dos relatórios da equipe técnica multidisciplinar do Poder Judiciário, comprovação de participação no curso de preparação e também do parecer do Ministério Público, um juiz vai habilitar a adoção ou não dos interessados.

6º passo: os dados dos interessados são inseridos no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA).

7º passo: a família é procurada quando uma criança ou adolescente corresponde ao que foi definido na busca. Segundo o TJES, é respeitada a ordem de classificação nos cadastros.

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Será apresentado o histórico de vida da criança/adolescente ao postulante e, se houver interesse e será permitida uma aproximação delas.

8º passo: depois dessa fase, a família começa o processo de adoção. Caso julgue procedente, o juiz concede a guarda provisória da criança.

Com isso, a criança passa a morar com a família, dando início ao estágio de convivência, no qual a aproximação e a vinculação entre os membros da família são acompanhadas e orientadas pela equipe técnica do Poder Judiciário.

9º passo: o tempo do estágio de convivência é determinado pelo juiz e depende das condições de adaptação e vinculação socioafetiva da criança e de toda a família.

Quando o prazo determinado para esse estágio termina, o juiz profere a sentença de adoção, sendo confeccionado um novo registro de nascimento, já com o sobrenome da nova família. Com isso, a criança ou adolescente passa a ter todos os direitos de um filho.



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