Capixaba vence câncer três vezes e incentiva mulheres: "Não tenha medo, lute!"
Durante o Outubro Rosa, o Folha Vitória conta a história de mulheres que enfrentaram ou enfrentam a doença
Receber a notícia de um diagnóstico de câncer de mama não é fácil. O processo pode ser lento e doloroso. Porém, as histórias de mulheres que superaram essa etapa são inspiradoras — mas imagine só o desgaste de passar por essa luta por mais de uma vez.
O Folha Vitória traz agora o relato de uma capixaba que enfrentou o câncer por três vezes. Creuzinete Acelino Alcantara, de 54 anos, conta como a doença mudou a sua vida. Atualmente, ela participa de ações para ajudar outras mulheres.
"Com a mesma força que venci o primeiro, eu vou vencer o segundo", disse.
Ela teve o diagnóstico do primeiro câncer de mama em 2014. Em 2015, passou pelo tratamento e cirurgia, incluindo a reconstrução da mama.
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Creuzinete seguiu a sua vida normalmente, se cuidou esteticamente, quando no mesmo mês de outubro de 2016, pareceu estar revivendo o ano de 2014.
"Coincidentemente ou não, depois que eu coloquei prótese, depois estava tudo certinho, em 2016, na campanha de Outubro Rosa, eu achei outro nódulo embaixo da onde eu tinha a prótese", contou.
A segunda descoberta foi após um autoexame, assistindo a um programa de televisão. "Eu fui achando que tinha algo errado com o meu corpo. Fiz o autoexame, vi que tinha algo errado, fui ao posto e, com muito sacrifício, consegui convencer o médico que aquilo não fazia parte de mim", contou a dona de casa.
De acordo com Nethe, como gosta de ser chamada, o segundo diagnóstico foi um baque maior. "Quando se tem o primeiro, você tem a certeza de que não tem metástase. Na segunda, eu estava um pouco cansada, porém, falei: 'Com a mesma força que venci o primeiro, eu vou vencer o segundo'".
A caminhada de Creuzinete não parou por aí. Ela teve um terceiro diagnóstico de câncer maligno, no braço, em 2018. Mesmo assim, ela não desistiu e enfrentou o desafio do tratamento até o fim. Atualmente, Creuzinete está bem e celebra suas vitórias.
Filhas foram as primeiras a receber notícia
O suporte emocional da família e amigos foi essencial para vencer a batalha. Porém, a situação mais difícil para Creuzinete foi contar que estava com câncer para as duas filhas.
Ela esperou quatro meses para noticiar, mas mesmo assim não teve forças e quem contou foi uma amiga.
"Elas foram na primeira consulta da mastologista comigo e de lá começamos a caminhar juntas. Mas as pessoas têm o seu dia a dia, tem que tocar a sua vida, é cansativo", relatou.
A autoestima como mulher
Manter a autoestima com as consequências dos tratamentos por quem encara a doença é mais um desafio. Para Nethe, foi uma fase difícil de aceitação e uma das situações mais difíceis de enfrentar, porque trabalhava no ramo da beleza.
"Quando eu me vi sem seios, deu um baque e eu segurei, porque você que tem que passar força para a família, eles têm que acreditar que você vai vencer. Porque se você desanima, eles também desanimam. Você tem que pensar mais neles do que em você", ressaltou.
Além disso, na questão da beleza, o ganho de peso durante o tratamento foi duro de encarar. "De início você ganha uns 20 kg, porque a medicação te incha, o ganho de peso, para mim, foi o pior", ressaltou.
Ao buscar meios para manter a vaidade em dia, Nethe conheceu um projeto na Associação do Câncer, onde existem muitos voluntários que são muito importantes, pois, segundo ela, sua vida financeira parou durante o tratamento.
"Eu era empresária, tinha uma empresa e, de repente, me vi sem nada. Então, às vezes você não tem um dinheiro para ir a um salão, se cuidar. Dentre desses voluntários, nós tivemos uma tatuadora, e eu tive a ideia de transformar a cicatriz em uma arte, onde era a cicatriz, eu tatuei as duas mamas"
A tatuagem foi um ato fundamental em continuar se sentindo mais bonita depois da retirada das mamas.
"Hoje eu tenho o maior orgulho das minhas tatuagens, as minhas filhas tem o maior orgulho. Quando eu dei a notícia do segundo câncer, eu recebi a notícia que teria uma neta. Eu me agarrei nisso, que queria ver a minha neta, e hoje ela é o meu xodó. Toda que a vejo, eu falo que é a minha superação", disse.
Apesar recorrer meios para manter a vaidade, Nethe, relatou que teve um bloqueio para se relacionar amorosamente após a cura. Ela explicou que durante o processo, estava separada, então, não havia um companheiro por perto.
"Se eu já estivesse com um companheiro era uma coisa, ele teria acompanhado o processo ou não, porque muitos maridos abandonam. A gente tem muitos relatos de mulheres que os maridos abandonam, mas, no meu caso, eu tive um bloqueio depois", falou.
Agora isso mudou. Ela afirma que não tem mais barreiras em começar uma relação afetiva. "Hoje não, eu acho que a pessoa tem que me aceitar do jeito que eu sou, porque eu tenho muito mais qualidades do que uma mama. Hoje meus seios são muito bonitos, eu amo minha mama", ressaltou.
A vida após os diagnósticos
Questionada como vive e o que viveu após os diagnósticos, ela revelou que tudo mudou. Ela passou a valorizar pequenas coisas como: um modelo de sutiã, um centímetro do cabelo e até um banho.
"Tudo passa, tudo é passageiro e tudo está na nossa mente. As pessoas mesmo falam que eu falei tudo muito na esportiva, eu sempre disse: 'o câncer está em mim, então, ele tem que me obedecer' e eu botei isso na minha cabeça, com muita fé em Deus, Deus sempre disse que era para a cura e não para a morte", destacou.
Ela ressaltou o grande apoio da imprensa, pois reúnem mulheres em tratamento e outras que já venceram o câncer em eventos direcionados com essa rede de apoio.
"Um dia como este aqui (Evento Você é Única) é importante porque são pessoas que vivem o que você passou. A gente se sente mulher, a gente se sente bonita, um dia da gente", disse.
Por vivenciar esses momentos na vida, hoje, Creuzinete, atua em projetos que apoiam mulheres com câncer e incentivam a conscientização para outras mulheres.
"Hoje eu abraço essa causa assim, compromisso nenhum me tira desse foco, porque o autoexame é tudo. Graças ao diagnóstico cedo eu estou aqui, meu tratamento mesmo sendo longo, foi mais fácil, poderia ter sido muito pior. Talvez eu nem estaria aqui se eu não tivesse feito o autoexame, o autoexame é tudo", destacou.
"Façam o autoexame e caso tenha um diagnóstico, não tenha medo, lute, porque você é única", finalizou.
*Texto de Gabriela Vasconcellos, aluna de Jornalismo da 1ª Residência da Rede Vitória, sob supervisão de Iures Wagmaker