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Três em cada quatro venezuelanos vivem na extrema pobreza, aponta relatório

Estadão Conteudo

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Três em cada quatro venezuelanos vivem em situação de extrema pobreza, em meio a uma longa crise econômica agravada pela pandemia da covid-19 e pela escassez de combustível, afirmou um relatório apresentado nesta quarta-feira, 5. Segundo a Pesquisa Nacional de Condições de Vida 2021, coordenada pela Universidade Católica Andrés Bello (UCAB), 94,5% da população venezuelana é pobre e 76,6% está abaixo da linha da extrema pobreza, vivendo com menos de 1,2 dólar por dia.

O relatório - que é divulgado anualmente e foi baseado em entrevistas com 14 mil famílias feitas entre fevereiro e abril - mostra como o agravamento da pobreza na Venezuela no ano passado esteve relacionado à crise de abastecimento de combustíveis e à redução da mobilidade, devido às restrições pandêmicas. A pobreza no país, que sofre com a hiperinflação e está em seu oitavo ano de recessão, aumentou 91,5% entre 2019 e 2020, e a extrema pobreza, 67,7%.

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"Atingimos o teto da pobreza", disse o sociólogo Luis Pedro España na apresentação da pesquisa, que estima a população da Venezuela em 28,7 milhões de habitantes, depois que mais de 5 milhões emigraram desde 2014.

Esses números estão longe dos divulgados pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que afirmou, em sua prestação de contas à Assembleia Nacional, que 17% da população vivia na pobreza em 2020, e apenas 4% na extrema pobreza.

Um dos dados mais preocupantes da pesquisa é o desemprego, que atinge 8,1 milhões de venezuelanos (30,3% da população). Desse total, 3,6 milhões são de desalentados que pararam de buscar trabalho e 1,5 milhão de mulheres com filhos que não podem trabalhar porque têm que cuidar deles.

O especialista fala em "crise de mobilidade" devido às quarentenas e à falta de gasolina decorrente do colapso da indústria petrolífera. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo, mas a má gestão e as sanções dos Estados Unidos, intensificadas desde 2019, afetaram duramente o setor.

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Apenas 50% dos venezuelanos em idade produtiva são ativos, de acordo com a pesquisa, cerca de 7,6 milhões. As mulheres são as mais afetadas, com apenas um terço das trabalhadoras em atividade. Entre 2014 e 2021, o emprego formal foi reduzido em 21,8%, o que significa 4,4 milhões de empregos a menos, 70% deles no setor público e 30% no setor privado. Somente no ano passado, 1,3 milhão de empregos desapareceram, o que levou um em cada dois trabalhadores a trabalhar por conta própria.

"Por que na Venezuela as pessoas estão parando de trabalhar?", questionou España. "Porque os custos para isso começam a ser maiores do que a remuneração que você vai receber."

O salário mínimo, complementado por um vale alimentação obrigatório, mal ultrapassa o equivalente a US$ 2 mensais. Este valor, porém, não é mais uma referência no setor privado, onde a renda média gira em torno de US$ 50, segundo pesquisas privadas. Por outro lado, 10% dos venezuelanos concentram 40% da renda nacional.

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Ainda assim, afirma o sociólogo, o problema da Venezuela hoje não é a desigualdade, mas a paralisação da produção e a queda abismal da receita do país, de US$ 90 bilhões em 2012 para US$ 5 bilhões em 2020, hoje obtidos principalmente com as exportações privadas não petrolíferas, evidência do fim da economia baseada no petróleo.

"Se distribuíssemos de forma equitativa toda a renda entre as famílias, a média per capita seria de US$ 30 por venezuelano por mês, ou seja, US$ 1 por pessoa por dia, cenário em que todos seríamos extremamente pobres", acrescenta.

O governo Maduro desenvolveu uma política de transferência direta de crédito por meio de títulos em bolívares. No caso de famílias em extrema pobreza, a renda chega a US$ 36 por mês e as contribuições do governo ultrapassam US$ 50, de modo que essas pessoas são totalmente dependentes dos títulos. Ainda assim, essas alocações precisariam ser aumentadas mais de 30 vezes para tirar essas famílias da pobreza extrema.

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Diante do colapso, 86,5% das famílias recebem ajuda do governo e 20%, remessas de parentes no exterior. Mas a pandemia atingiu também esses envios: 11% das famílias que contavam com essa renda em 2020 pararam de recebê-la e 22% sofreram sua redução.

O impacto da pandemia na educação também é evidente. Dos 11 milhões de pessoas em idade escolar (3 a 24 anos), apenas 65% estão matriculadas em centros educacionais de diferentes níveis de ensino, uma queda de 5% em relação a 2020, destacou Anitza Freitez, coordenadora do estudo.

O porcentual entre os potenciais alunos universitários - pessoas de 18 a 24 anos - mal chega a 17%. Noventa por cento dos que estudam o fizeram remotamente nos últimos meses devido à covid-19, afetados por falhas em serviços públicos como eletricidade e conexão, e 70% relatam necessidades de melhorias no acesso à internet. (Com agências internacionais)

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