Estudos apontam importância dos estímulos nos primeiros anos de vida
Com uma rotina cada vez mais intensa, os adultos acabam negligenciando os cuidados e deixando as crianças cada vez mais presas à tecnologia
Os seis primeiros anos de vida são os mais importantes no desenvolvimento das crianças, e os cuidados precisam começar já na gravidez. A chamada primeira infância abrange os primeiros seis anos completos, ou 72 meses de vida da criança, conforme define o Marco Legal da Primeira Infância.
Além do pré-natal, é preciso considerar os aspectos psicossociais da gestação. Apenas 48% dos brasileiros reconhece a necessidade de o bebê receber carinho dos pais e familiares ainda na barriga. Apenas 24% dizem ser necessário conversar com o bebê, 16% lembram da importância de a mãe receber apoio da família e 14% de ela aceitar a gravidez.
Algumas atividades, que podem ser praticadas ainda na gestação, são consideradas estimulantes para a crianças. Ler ou cantar para o bebê durante a gravidez pode ajudar na construção do vínculo entre mãe e bebê mesmo antes do nascimento.
Por volta da 25ª semana de gestação, o bebê é capaz de ouvir os ruídos do organismo da mãe, bem como sua voz e outros sons do ambiente externo. A partir desse período, a criança já tem potencial para estabelecer comunicação e acumular memórias afetivas.
Depois do nascimento, muita coisa se transforma no cérebro dos bebês. Estudos revelam que a evolução do cérebro acontece a uma velocidade incrível nesse período, principalmente quando a criança recebe estímulos que vêm das interações com os pais, parentes e outras crianças.
É durante a primeira infância que o cérebro mais precisa de estímulos. Isso porque 90% das conexões cerebrais são estabelecidas até os 6 anos. As interações sociais são fatores determinantes para estimular a atividade cerebral. Por isso, se a criança for negligenciada, o potencial de aprender e se desenvolver é reduzido.
A importância do estímulo
Apesar de reconhecer que o carinho dos adultos é importante tem influência o temperamento da criança, apenas 12% da população considera o afeto importante para o desenvolvimento. A pediatra Iria Giacomin explicou que os pais precisam criar alternativas para estimular as crianças.
“A parte de brincadeiras e jogos, ter atividades fora de casa, ao ar livre e contato com os pais e outras crianças é muito importante para o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. Vemos crianças com o emocional cada vez mais prejudicado hoje em dia pelo uso excessivo dos equipamentos eletrônicos. Praticar atividades em conjunto com os familiares ajuda no aprendizado e no desenvolvimento das crianças”, explicou.
Com uma rotina cada vez mais intensa, os adultos acabam negligenciando os cuidados e deixando as crianças cada vez mais presas à tecnologia. “As crianças estão reféns das telas, os pais trabalham o dia todo, chegam cansados e não têm paciência de estimular. Além de não criar o vínculo, influencia no futuro”, disse a pediatra.
De acordo com dados da OMS, atualmente 350 milhões de pessoas em todo mundo estão diagnosticados com depressão. Cerca de 1% a 2% dos atingidos são crianças. A pediatra explicou que esse pode ser um reflexo da falta de estímulos adequados na primeira infância, além da superexposição às tecnologias. “Vemos cada vez mais crianças com depressão e déficit de atenção, por exemplo. Isso acontece porque elas recebem estímulos fortes o tempo inteiro. Hoje vivemos a era do tablet e do celular e isso vai repercutir na frente”, explicou Iria.
Para evitar problemas como esses, a especialista alerta para a importância de dedicar um tempinho diário aos pequenos. “É preciso dedicar um pouquinho de tempo, precisamos ser adultos que estimulam as crianças. Aqui no Estado somos privilegiados, temos muitos espaços ao ar livre para aproveitar com as crianças”, finalizou.
Marco Legal da Primeira Infância
Direito ao brincar, ao cuidado de profissionais qualificados em primeira infância, a ter mãe, pai e/ou cuidador em casa nos primeiros meses de vida, a ser prioridade nas políticas públicas. Essas são algumas das garantias asseguradas pelo Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257).
A legislação, que completou três anos no dia 8 de março deste ano, é resultado de um amplo processo participativo que reuniu sociedade civil, governo, especialistas, universidades e diversos outros atores. Ao longo de cinco anos, essa articulação organizou debates e audiências públicas em diferentes regiões do país para a construção de uma proposta que foi sancionada em 2016.
Após três anos, a legislação acumula avanços, aprendizados e desafios naquilo a que se propõe: garantir o desenvolvimento integral de crianças de zero a seis anos. Com a nova legislação, foi estabelecida ainda a divisão igualitária de direitos e responsabilidades entre pais, mães e responsáveis, além da atenção especial a mães que optam por entregar seus filhos à adoção e gestantes em detenção.
Com a publicação da lei, o Brasil se tornou o primeiro país da América Latina a reconhecer a importância da primeira fase da vida. O Unicef considera o Marco Legal um avanço na legislação comparável à criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O Marco Legal também reforça a importância do atendimento domiciliar, especialmente para crianças de famílias em condições de vulnerabilidade social. E esta é uma das bases do Programa Criança Feliz, lançado em agosto de 2016 pelo governo federal. Diversos estudos científicos têm comprovado que os seis primeiros anos de vida da criança, incluindo a gestação, são cruciais para o desenvolvimento humano.
Cursos e oficinas
Você está trabalhando demais e falta tempo para brincar com o seu filho? Há sempre uma forma de estar mais perto das crianças. É bom para você, melhor ainda para os pequenos. O que as crianças vivenciam nos primeiros seis anos de vida, tem reflexos para sempre. Por isso, um projeto realizado neste mês em que é celebrado o 'dia das crianças' busca estimular pais, educadores e outros profissionais que lidam diretamente com os pequenos a transformar brincadeiras em fontes de estímulo e desenvolvimento.
A programação faz parte do projeto Vale Cuidar, que será realizado entre os dias 4 e 26 de outubro, com oficinas, cursos e seminários gratuitos. Os encontros serão no Parque Botânico Vale, em Vitória, e no Colégio São José, em Vila Velha. Os conteúdos são relacionados com a primeira infância. Essa é também uma oportunidade para resgatar brincadeiras tradicionais, que contribuem para fortalecer o vínculo com a família.
Confira a programação
Inscrições: devem ser feitas pelo e-mail [email protected]. É importante informar a atividade que deseja participar, nome completo, área de atuação, e-mail e telefone de contato.
Oficina de Sensibilização "Um Novo Olhar sobre o Brincar"
Data: No dia 5 de outubro a oficina será realizada no Parque Botânico Vale, em Jardim Camburi, Vitória, das 14h às 17h
Conteúdo: legislação sobre o direito de brincar, oportunidades lúdicas para sensibilizar e encorajar os participantes a multiplicarem suas experiências, a fim de ampliar o repertório de brincadeiras em seus espaços de atuação
Curso Mediadores do Brincar
Local: Colégio São José, Centro, Vila Velha, das 14h às 17h e EMEF Alvaro de Castro, em Jardim da Penha, das 18h30 às 21h30
Pré-requisito: participação em uma turma da oficina 'Um novo olhar sobre o brincar", que será realizada nos dias 4 e 5
Datas:
07/10 Gerenciando riscos: brincar ao ar livre e na perspectiva da criança
08/10 - Igualdade de oportunidades para brincar
09/10 - A arte em movimento: oficina de brincandança
10/10 - Brincar e o imaginário infantil: oficina de contação de histórias
11/10 - Políticas Públicas e o planejamento do Dia do Brincar
12/10* - Realização do Dia do Brincar em local a ser definido, troca de experiências e encerramento
Seminário Marco Legal da Primeira Infância
Data: 18 de outubro, das 9h às 16h, no Parque Botânico Vale, em Jardim Camburi, Vitória. No dia 19, o seminário será realizado no Colégio São José, no Centro de Vila Velha, das 9h às 16h
PROGRAMAÇÃO:
8h30 às 9h - Credenciamento
9h às 9h30 - Abertura e apresentação dos convidados
9h30 às 10h15 - "A importância do brincar", Janine Dodge, IPA Brasil.
10h15 às 11h - "Os benefícios do brincar na natureza: aspectos de saúde", Evelyn Eisensteisn, Sociedade Brasileira de Pediatria e Rede Nacional Primeira Infância
11h às 11h45 - "Pacto Nacional Pela Primeira Infância: uma grande oportunidade", Ivania Ghesti, Assessora da Secretaria Nacional de Assistência Social
11h45 às 12h - Diálogo com a plateia (mediação IPA Brasil)
12h às 13h30 - Almoço
13h30 às 15h30 - Ciclo de oficinas lúdicas ( escolha no momento do credenciamento): Oficina I - Redescoberta de brincadeiras tradicionais / Oficina II - Brincandança / Oficina III - Contação de histórias / Oficina IV - Brincar com Música
15h30 às 16h - encerramento e troca de experiências com a plateia