Esquadrão com 15 membros tinha como alvo o jornalista saudita Jamal Khasoggi
Guardas reais, oficiais do serviço de inteligência, soldados e um especialista em autópsia, todos sauditas, formavam o grupo de 15 membros que tinha como alvo o jornalista Jamal Khasoggi. As informações foram relatadas pela mídia da Turquia, nestaquinta-feira, 11. Khashoggi era colaborador do jornal americano Washington Post e sumiu no dia 2, enquanto visitava o Consulado da Arábia Saudita em Istambul.
Os detalhes reportados, juntamente com comentários diretos do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, parecem estar focados em pressionar a Arábia Saudita a revelar o que aconteceu com Khashoggi. Gradualmente, a mídia do país vem publicando vazamentos sobre o caso, que provavelmente vêm do serviço de segurança nacional. A pressão é gradual para não prejudicar os investimentos do reino na Turquia, além de evitar desequilíbrio entre os dois países em outros assuntos.
Em Washington, parlamentares americanos têm feito críticas crescentes à duradoura aliança de segurança entre Arábia Saudita e EUA. Ainda assim, o presidente Donald Trump expressou reservas quanto a suspender as vendas de armas americanas em razão do desaparecimento.
Oficiais turcos dizem temer que o reino tenha matado e desmembrado Khashoggi, sem oferecer evidências do porquê acreditam nisso. Ojornalista contribuía com colunas para o Post, nas quais havia esporadicamente críticas ao príncipe saudita Mohammed bin Salman.
Antes de se calar nos últimos dias, a Arábia Saudita afirmou que a alegação de que o colunista teria sido sequestrado ou machucado era infundada. No entanto, também não ofereceram evidências de que o escritor simplesmente saiu do consulado e desapareceu. Sua noiva, Hatice Cengiz, estava esperando por ele do lado de fora da instalação.
Esquadrão do assassinato
O primeiro avião, com nove sauditas, chegou de Riad por volta das 3h30 no dia 2 de outubro - data do sumiço de Khashoggi. O veículo privado incluía um indivíduo descrito como oficial forense, de acordo com o jornal Sabah. Um oficial da Turquia, que se manifestouem condição de anonimato à agência Associated Press, descreveu o homem como um "especialista em autópsia".
Os outros seis membros voaram em aviões comerciais, segundo lista obtida pelo Sabah, que também publicou seus nomes e fotos. A mídia local os descreveu como militares e oficiais de inteligência, bem como "guardas reais".
Próximo do horário em que o jornalista entrou no consulado, uma outra aeronave privada foi de Riad a Istambul. Um vídeo divulgado pela mídia estatal da Turquia mostrava que alguns veículos, com placas diplomáticas licenciadas, deixaram o consulado e dirigiram por cerca de 2 quilômetros até a residência do cônsul, duas horas após Khashoggi ter visitado o órgão.
O jornal Hurriyet e outros veículos alegaram que os 28 membros que trabalhavam no consulado receberam o dia de folga, em razão de uma "reunião de diplomatas" que aconteceria no local. As notícias não citaram fonte e também não deram confirmação oficial.
Às 7 da manhã, 6 dos 15 sauditas partiram num avião recém-chegado em direção ao Cairo, onde ficaram pela noite até voltarem a Riad, segundo o Sabah e outros jornais. Às 11 da manhã, outros sete sairam em uma segunda aeronave privada com destino a Dubai, nos Emirados Árabes, e similarmente pernoitaram por lá e retornaram a Riad no dia seguinte, segundo relatos. Os dois faltantes voaram comercialmente, também de acordo com o Sabah.
Erdogan foi citado pela mídia turca nesta quinta-feira, 11, enquanto viajava com jornalistas de volta a seu país após uma visita à Hungria. "Nós não podemos nos manter calados diante de tamanho incidente".
"Como é possível que um consulado, uma embaixada, não tenha um sistema de câmeras de segurança? É possível que o consulado saudita onde o incidente ocorreu não tivesse isso?", questionou o presidente da Turquia. "Se um pássaro voasse, se um mosquito aparecesse, esses sistemas teriam gravado e (acredito) que eles (os sauditas) teriam os mais avançados sistemas".