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Cientistas desvendam mistério do 'bisão de Higgs'

Estadão Conteudo

Redação Folha Vitória
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São Paulo - Uma misteriosa espécie pré-histórica de bisões intrigava os cientistas há anos: certos sinais genéticos de fósseis desses animais mostravam que eles eram totalmente diferentes de qualquer outra espécie de bisão - moderna ou extinta. Um novo estudo finalmente desvendou o mistério da espécie que ficou conhecida pelos cientistas como "bisão de Higgs", em alusão ao bóson de Higgs, partícula cuja existência era prevista pelos físicos desde a década de 1960, mas só foi confirmada em 2012.

A pesquisa revelou que o "bisão de Higgs" teve origem há 120 mil anos, a partir da hibridização entre duas espécies extintas: o auroque, ancestral dos bovinos modernos e o bisão da estepe, que viveu na Era do Gelo na Europa e na América do Norte. Além disso, o estudo concluiu que o "bisão de Higgs" foi o ancestral do bisão-europeu moderno, cuja origem até hoje era considerada incerta.

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De acordo com os autores do estudo, as pinturas rupestres da Era do Gelo, que retratam bisões em inúmeras cavernas na Europa, são coerentes com a descoberta e mostram, ao longo do tempo, modificações na aparência dos animais que coincidem com o aparecimento do bisão-europeu. Em outras palavras, os artistas pré-históricos documentaram a evolução do bisão.

Liderado por cientistas da Universidade de Adelaide, na Austrália, o estudo foi publicado nesta terça-feira, 18, na revista Nature Communications. Para chegar a suas conclusões, os cientistas combinaram análises de DNA antigo e análises de pinturas rupestres.

"Descobrir que a hibridização levou a uma espécie completamente nova foi uma verdadeira surpresa, já que isso não acontece normalmente com mamíferos", disse o autor principal do estudo, Alan Cooper, diretor do Centro Australiano de DNA Antigo, da universidade australiana.

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"Os sinais genéticos encontrados em ossos de bisões antigos eram muito estranhos, mas ninguém tinha muita certeza se essa espécie existia de fato - então nos referíamos a ela como 'bisão de Higgs'", explicou Cooper.

Registros fósseis apontavam que na pré-história havia duas formas principais de bovinos na Europa: os auroques, extintos no século 17, e o bisão da estepe. Mas as origens do bisão-europeu - que têm história evolutiva bastante distinta do bisão-americano -, eram bastante obscuras graças à falta de registros fósseis. Até agora, a única certeza sobre o bisão-europeu era que ele surgiu subitamente há cerca de 11,7 mil anos, logo após o desaparecimento do bisão da estepe.

Alternância

Os cientistas liderados por Cooper analisaram o genoma antigo extraído dos ossos e dentes de 64 bisões em quatro cavernas na Europa, nos Urais e no Cáucaso, a fim de rastrear a história genética desses animais. Os sinais genéticos encontrados nesses fósseis eram totalmente diferentes dos encontrados no bisão-europeu e em qualquer outra espécie conhecida.

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Fazendo datação dos fósseis com radiocarbono, os cientistas mostraram que o "bisão de Higgs" dominou a Europa por milhares de anos, mas essa predominância era alternada, ao longo do tempo, com o bisão da estepe - que até agora era considerada a única espécie de bisão presente na Europa no fim da Era do Gelo.

"Os ossos datados revelaram que nossa nova espécie e o bisão da estepe revezaram a dominância na Europa por várias vezes, variando de acordo com alterações ambientais causadas por mudanças climáticas", disse o autor principal do estudo, Julien Soubrier, da Universidade de Adelaide. "Quando fomos perguntar a opinião de pesquisadores que estudam a arte em cavernas na França, eles nos disseram que, de fato, havia duas formas distintas de representação de bisões nas cavernas, durante a Era do Gelo. A idade dessas pinturas se encaixa perfeitamente com a alternância das duas espécies. Nunca tínhamos imaginado que os artistas das cavernas tinham deixado para nós úteis retratos de ambas as espécies."

Retratos

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Nas cavernas, as pinturas mais antigas, com mais de 18 mil anos, retratam os bisões com longos chifres e a parte dianteira proeminente - uma aparência semelhante à do bisão-americano, que descende do bisão da estepe. Em pinturas mais recentes - de 12 mil a 17 mil anos -, o animal é retratado com chifres curtos e costas pequenas, como o bisão-europeu moderno.

"Assim que se formou, a nova espécie híbrida parece ter sido bem-sucedida em encontrar um nicho na paisagem e conseguiu assim se manter geneticamente", disse Cooper. Segundo ele, o "bisão de Higgs" predominou em períodos mais frios, em paisagens que se assemelhavam à tundra.

Segundo Cooper, o "bisão de Higgs" é o ancestral do bisão-europeu, mas parece ser uma espécie totalmente nova, porque o animal moderno sofreu consideráveis modificações em tempos recentes. "No entanto, o bisão-europeu moderno parece bem distinto geneticamente, porque essa espécie passou por um gargalo genético muito estreito, que quase os levou à extinção: apenas 12 indivíduos existiam na década de 1920."

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Beth Shapiro, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz - que também participou do novo estudo -, foi a primeira cientista a detectar o "bisão de Higgs", em sua pesquisa de doutorado orientada por Cooper na Universidade de Oxford (Reino Unido), em 2001. "Quinze anos depois, é ótimo finalmente desvendar a história inteira. Foi com certeza um longo caminho, com um surpreendente número de reviravoltas", afirmou Beth.

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