Fria ou quente? Saiba como usar a luz certa para deixar a casa aconchegante
A iluminação dos ambientes deixou de ser apenas uma questão estética; agora, é essencial para a saúde e o bem-estar, influenciando nosso humor e qualidade de vida
O que traz aconchego para um lar? São espaços bem planejados, móveis confortáveis e de qualidade ou eletrodomésticos de última geração? A combinação de todos esses itens é muito importante, mas ainda falta um detalhe que, normalmente, é deixado em segundo plano: a iluminação.
Foi-se o tempo em que ela era vista apenas como um elemento decorativo. Com a alta demanda por ambientes que promovam qualidade de vida, a iluminação se tornou um fator importante que vai além da estética, impactando diretamente a saúde e o bem-estar.
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Mais do que criar um ambiente visualmente atraente, a luz – tanto natural quanto artificial – pode impactar o humor, a produtividade, o sono e até mesmo influenciar no processo de tomada decisão.
Uma pesquisa da Universidade de Toronto revela que os humanos experimentam emoções de maneira mais intensa em ambientes bem iluminados.
Por outro lado, a exposição prolongada a espaços escuros e fechados durante o dia pode contribuir para o desenvolvimento de condições como a depressão sazonal.
A neurologista Soo Yang Lee afirma que, para entender os efeitos da luz no corpo humano, é fundamental compreender o ciclo circadiano, o relógio biológico que regula os padrões de sono e vigília.
Segundo ela, a melatonina, hormônio responsável pelo sono, é regulada pela luz, tanto natural quanto artificial. Sendo assim, o excesso de luz à noite, incluindo de telas e iluminação intensa, retarda sua produção, prejudicando o sono de crianças e adultos.
“A melatonina é crucial para regular o ciclo circadiano e vigília, e é ativado pela luz, tanto a luz natural quanto a artificial. Então quando você ilumina demais o ambiente a noite, você retarda a produção dessa melatonina. Para as crianças, por exemplo, o problema não é somente as telas, também tem relação com a iluminação da casa. Quanto mais iluminado, pior para ela ter um sono mais precoce e mais eficiente. Isso vale para os adultos também”, afirma a neurologista.
A especialista ressalta a importância de utilizar a iluminação indireta ao decorar a casa, para que se tenha uma luz mais intensa apenas em horários e momentos específicos. Durante o dia, de acordo com ela, a luz natural também é essencial para a produção de vitamina D.
“Isso é muito importante para a saúde mental e do próprio corpo como um todo. Essa questão da luz natural também faz muito bem, durante o dia por conta da produção de vitamina D e, principalmente, para os idosos. Por isso que muitos idosos que ficam internados em UTIs e hospitais fechados, eles entram em delírio, porque o cérebro não entende mais o que é dia e noite, então é fundamental principalmente nessa faixa etária”, explica.
Luz fria x luz quente: qual a diferença?
A principal diferença entre a luz fria e a luz quente está na temperatura de cor, medida em Kelvins (K), que influencia a tonalidade e a sensação que a iluminação transmite.
Luz quente: Tem de 2700K a 3000K, possui tonalidade amarelada, criando um ambiente mais aconchegante, acolhedor e relaxante.
Como usar? É ideal para áreas como salas de estar, quartos e espaços de convívio, onde o objetivo é promover conforto e descanso. Essa iluminação é perfeita para momentos de descontração e para criar um lar que acolhe.
Luz fria: tem de 5000K a 6500K, possui uma tonalidade branca ou azulada, sendo mais estimulante e energizante.
Como usar? É indicada para ambientes que exigem concentração e atenção, como escritórios, cozinhas e áreas de trabalho. Essa iluminação favorece o foco e a produtividade, tornando-a ideal para atividades que requerem mais energia e dinamismo.
Luz certa: como criar ambientes mais aconchegantes
A arquiteta Tatiana Pradal explica que a iluminação, principalmente em imóveis de alto padrão, não é feita somente para iluminar. Ela compõe todo o projeto e, além de funcional, também agrega valor ao espaço.
“Ele tem que ficar esteticamente bonito e também agradável para quem vai usar. Essa que é a tendência. Hoje temos novos tipos de luminárias que vamos adequando para esse novo conceito. Não temos mais nenhum tipo de luminária incandescente, por exemplo, todas são de LED e elas evoluíram muito”, explica.
Atualmente, segundo a arquiteta, o LED consegue reproduzir todos os tipos de lâmpadas, como a dicróica, que era muito popular há alguns anos.
“Antigamente, as pessoas enchiam a casa de dicróicas e reclamavam do calor excessivo, o que realmente acontecia, além do alto consumo de energia. Hoje, o LED evoluiu tanto que essas lâmpadas estão disponíveis em versões LED, com uma reprodução de cor muito superior, sem aquecer e com um consumo de energia muito menor”, afirma Tatiana.
Em projetos mais modernos, a iluminação é pensada para imitar o ritmo da luz natural ao longo do dia e promover o bem-estar. A arquiteta reforça que a luz branca não é natural; a natural seria a luz amarela, que se assemelha à luz do dia, do sol.
“Em uma casa, a luz amarela é ideal para todos os cômodos, por ser mais aconchegante e proporcionar uma sensação de bem-estar. A luz branca, por outro lado, é mais estimulante e costuma ser usada em hospitais, escritórios ou fábricas, onde se busca estado de alerta. Em casa, o foco é o relaxamento, não o estímulo”, conclui.
Iluminação funcional e criativa em imóveis de luxo
A arquiteta Karol Simonassi, responsável pelo projeto decorado do Una Residence —o mais alto edifício de Vitória, localizado na Ilha de Monte Belo — conta como a iluminação pode transformar espaços.
Com um olhar atento para o que há de mais novo, ela revela estratégias para criar ambientes bonitos, acolhedores e funcionais.
“Quando é um jantar, algo mais intimista, por exemplo, as arandelas e iluminações indiretas podem aparecer mais, o que dá um efeito uniforme no ambiente. Essa iluminação indireta é embutida dentro da marcenaria, não é focada. Aqui nesse decorado, por exemplo, a mesa já é muito grande e eu não queria chamar muita atenção para um pendente muito grande, então usei dois pendentes”, conta.
Karol explica a iluminação não precisa ser óbvia ou convencional. É possível explorar diferentes maneiras de criar um ambiente acolhedor, usando a criatividade para brincar com as luzes e alcançar um resultado agradável e convidativo.
“Gosto de colocar na cozinha, pontualmente, uma luz branca, e o restante eu gosto de seguir o branco quente. Casa é para ficar em família, relaxar, trazer esse aconchego depois de um dia de trabalho, então o branco quente traz isso para dentro do ambiente. A cozinha também é um lugar para relaxar, de receber pessoas, então podemos colocar uma luz branca embutida na marcenaria, em cima da bancada”, explica Karol.
A arquiteta destaca também que, ao contrário do passado, quando a iluminação era limitada a um único ponto, hoje existe uma ampla variedade de opções, como pendentes e arandelas. Além de embelezar o ambiente, esse diversidade proporciona uma iluminação mais uniforme.
"Hoje o conceito mudou muito de antigamente, que era somente um ponto iluminando o ambiente. Agora temos uma diversidade de iluminações bonitas, que antes não tínhamos, então isso facilita e traz uma beleza para o ambiente. Quando eu coloco iluminação em vários pontos do ambiente, eu consigo ter uma uniformidade, trazendo mais funcionalidade e aconchego para o cliente", conclui.