Entidades de caminhoneiros negam boatos sobre nova paralisação
Áudios de WhatsApp anunciam greve 'mais organizada'. Presidentes de federações afirmam que negociações devem se dar com próximo governo
Ana Luísa Vieira, do R7
Ao contrário do que sugerem uma nota e arquivos de áudio que circulam no WhatsApp e redes sociais, líderes de diferentes entidades de caminhoneiros negam uma nova paralisação da categoria para este domingo (2) ou na próxima segunda-feira (3).
"Quem diz que vai haver uma outra greve definitivamente não quer o bem do setor", pondera Claudinei Pelegrini, presidente da Fecam (Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Estado de São Paulo), em entrevista ao R7.
Os avisos compartilhados nas redes sociais dizem que devem se iniciar "novas paralisações a partir das 0h de domingo e, desta vez, bem mais organizadas e ordeiras". Os autores dos comentários ainda completam que "não vai rodar nada — nem carro pequeno e nem ônibus".
Segundo Pelegrini, que negociou as reivindicações da classe junto ao governo federal durante a greve que parou o país no último mês de maio, os arquivos compartilhados nas redes datam de três meses atrás e foram "ressuscitados" por mal-intencionados.
"São áudios de intervencionistas. Nós não discutimos mais com o governo Temer, que está terminando. Se houver qualquer debate, será com o próximo presidente", diz. "O que nós não podemos aceitar é que, num momento importante como este, em que observamos verdadeiras mudanças no setor do transporte de cargas, pessoas alheias à nossa área usem os caminhoneiros como massa de manobra para pressionar os políticos", reforça o presidente da Fecam.
O presidente da Fenacat (Federação Nacional das Associações de Caminhoneiros e Transportadores), Luiz Carlos Neves, concorda que a possibilidade de greve é remota: "Eu também recebi esses arquivos, mas não existe nada de concreto. Há discordâncias dentro da categoria e eu não acho que esse seja o momento de parar. O Temer sancionou as leis em relação àquilo que foi reivindicado".
Reivindicações de maio
No dia 27 de agosto, o presidente Michel Temer converteu em lei as medidas provisórias do pacote de ações negociadas com caminhoneiros em maio. A primeira delas estabelece a isenção de de pedágio para os "eixos suspensos" — como são chamadas as rodas das carretas que não tocam no chão quando o caminhão está vazio. Antes, o benefício valia apenas nas rodovias federais. Agora, passa a vigorar também nas vias estaduais, distritais e municipais, inclusive as concedidas.
“Um caminhão que vai do interior de São Paulo até Santos hoje economiza cerca de R$ 3 mil só pelos eixos erguidos. Isso é o valor da parcela de um caminhão novo”, diz Pelegrini.
O líder da Fecam completa ainda que foi sancionada também a Política de Frete Mínimo para o Transporte Rodoviário de Cargas: o texto cria as regras para que a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) defina o piso mínimo dos fretes, levando em conta fatores como os custos referentes ao óleo diesel, pedágios e especificidades das cargas.
“Em dezembro, essa tabela de frete vai ser reajustada novamente. Além disso, continuamos com 46 centavos de desconto no litro do óleo diesel. Nossa pauta já foi atendida. Qualquer negociação deve ser feita com o próximo governo. Agora, é importante que a ANTT acompanhe a aplicação das medidas em convênio com agências de fiscalização estaduais de todo o país", aponta Pelegrini.
Empecilhos na fiscalização
De acordo com Luiz Carlos Neves, da Fenacat, os caminhoneiros planejam se reunir em Brasília, na frente da ANTT, no próximo dia 12 de setembro. "A ideia é justamente falar sobre a tabela do frete. É difícil dizer com certeza se o piso está sendo cumprido porque isso, hoje, depende muito do caminhoneiro", diz.
Para Neves, uma paralisação às vésperas das eleições seria inviável: "Estamos em compasso de espera para ver o que a ANTT vai aplicar. A decisão de parar agora não ajudaria em nada porque esse governo está no fim. Seria imprudente fazer uma greve. Quem é que ia resolver as negociações depois?", finaliza.