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Time, comida, pet: 'prontuário afetivo' aproxima pacientes e equipes de saúde em Salvador

Estadão Conteudo

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Você está internado no hospital e, de repente, alguém da equipe de saúde pergunta sobre suas músicas preferidas. Depois, quer saber sobre seu time do coração e sua comida favorita. "Você tem um animal de estimação?", continua.

No Hospital Estadual 2 de Julho, em Salvador, essas e outras perguntas integram o chamado "prontuário afetivo", criado para aproximar funcionários e pacientes e, na medida do possível, tornar o ambiente mais familiar.

O novo prontuário fica grudado na cama do paciente. Ao entrarem no quarto, os membros da equipe multiprofissional leem o documento e usam as informações durante o atendimento na unidade, administrada pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia e integrante do Sistema Único de Saúde (SUS).

"Eu ainda não encontrei nenhum profissional que seja fechado a ponto de não aderir ao questionário e não puxar alguma brincadeira", diz Jaqueline Amorim, integrante da equipe de psicologia.

'Ela não ria'

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Tudo começou em outubro, mês em alusão aos cuidados paliativos. Havia no hospital uma senhora que "não ria". Às vezes, conta Jaqueline, ela levava a paciente para admirar a Baía de Todos os Santos da sacada do prédio, mas, por mais que parecesse estar feliz, a mulher não sorria.

"Um belo dia, ela me disse: ‘Não posso sorrir porque estou sem meus dentes’. Arrumamos uma chapa (dentadura) e ela passou a andar sempre sorrindo", lembra a psicóloga. "Esse cuidado faz toda a diferença", avalia.

A partir daí, a equipe de psicologia buscou uma forma de se aproximar dos pacientes em cuidados paliativos e, com o tempo, expandiu a proposta. Hoje, o prontuário afetivo é usado em todas as áreas do hospital com longa internação.

"O internamento se torna uma experiência mais acolhedora e humanizada, em que o paciente é reconhecido por sua singularidade", destaca a coordenadora de psicologia do hospital, Ana Carla Nunes.

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Para ela, o prontuário afetivo permite que cada paciente seja visto além de sua patologia e esse senso de individualidade e de pertencimento é fundamental para o bem estar mental, o que ajuda na cura da mazela física.

Toda a família

Um dos prontuários preenchidos desde então é o de Renata Brandão de Oliveira, de 27 anos. Ela é mãe de Aylla, que tem quatro meses de vida e passou dois deles internada por bronquiolite.

A mulher é natural de Irecê, cidade a 480 km de Salvador, e viajou sozinha com a bebê, deixando o marido com a outra filha, de três anos. Jaqueline conseguiu fotos da família reunida e colou na cabeceira da cama, ao lado do prontuário.

"Ela também me contou que era devota de Santo Expedito, então achei uma imagem dele criança e trouxe para ela", conta a psicóloga. "A gente se sente importante, acolhida, cuidada. Eu falava: ‘Gente, esse hospital é diferenciado’", afirma Renata, rindo.

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Um dos espaços a preencher no formulário é o de "pessoas queridas", um pouco abaixo do local para "minha família" e logo acima do "trabalho com". Por ele a equipe fica sabendo, por exemplo, quem foi a visita do dia e se o paciente realmente gosta dessa pessoa.

"Algumas pessoas têm filhos adotivos ou 'mãe de consideração', que não constam no prontuário normal. É bem melhor quando conseguimos identificar (esses laços), até para liberar o acesso", explica Ana Clara.

Quando o paciente ainda não entende o que acontece à sua volta, o prontuário é feito para o acompanhante, como ocorreu com Aylla e Renata. Porém, se a equipe julga que o paciente consegue compreender o que ocorre ao seu redor, ele é o foco das perguntas, mesmo que estas sejam respondidas com a ajuda de um familiar.

É o que acontece, por exemplo, com pacientes da unidade de terapia intensiva (UTI). "Alguns estudos mostram que o paciente consegue ouvir, então chegamos chamando pelo apelido, cantamos uma música que ele goste, conversamos, mesmo sabendo que não vamos ter resposta", afirma Jéssica.

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A intenção, diz Ana Clara, é diminuir o sofrimento tanto do paciente quanto do familiar. "São pessoas que ficam dias aqui, muitas vezes sem família em Salvador, e precisam dessa interação para ter ânimo nessa luta."

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