Recuperação judicial no agro segue em alta
Dados da Serasa Experian mostram que número de solicitações este ano é seis vezes maior que o mesmo período do ano passado. Especialista ressalta efetividade da medida para garantir a manutenção de postos de trabalho
O número de produtores rurais que ingressaram com pedidos na Justiça de recuperação judicial no primeiro trimestre deste ano foi 6 vezes maior do que o registrado no mesmo período de 2023. É o que apontam os dados coletados e disponibilizados pela Serasa Experian nesta semana. O indicador destaca que de janeiro a março de 2024 foram protocolados 106 pedidos, quase o mesmo montante registrado no ano passado inteiro, quando foram apresentadas 127 solicitações.
A explicação para a crise no setor, conforme a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), é a de que o ano de 2024 tem sido marcado por uma série de obstáculos para o agronegócio, incluindo a volatilidade dos preços das commodities, condições climáticas adversas e a crescente pressão dos custos operacionais. Essas questões têm levado muitos produtores rurais a buscar a recuperação judicial como uma solução viável para superar crises financeiras e evitar a falência.
“Como já havíamos previsto, se confirmou um crescimento acentuado no número de pedidos de recuperação judicial, o que mostra a manutenção das dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais já há algum tempo. Eles estavam em uma situação delicada e as novas dificuldades só agravaram a situação, fazendo com que o número de novos processos aumentasse exponencialmente”, pontua o advogado Marco Aurélio Mestre Medeiros, especializado em recuperações judiciais ligadas ao agro.
Na avaliação do jurista, a recuperação judicial para os produtores rurais tem sido um excelente instrumento para manter a atividade econômica. “Se antes o produtor vendia suas propriedades, seus equipamentos, perdia todo o seu patrimônio adquirido ao longo de gerações, agora ele tem uma oportunidade de reestruturar suas dívidas, reequilibrar suas contas e se manter em atividade”, ressalta Medeiros.
Mato Grosso liderou os pedidos de recuperação judicial, aponta a Serasa Experian, com 53 solicitações no primeiro trimestre. O estado foi seguido por Goiás, com 16 pedidos, e o Paraná, com 12.
Para Medeiros, a dificuldade de acesso ao crédito e a falta de liquidez fazem com que pequenos e médios produtores sejam os mais afetados pela crise. “Além deles, precisamos lembrar dos arrendatários, que não possuem propriedade, e viram seus investimentos virarem prejuízos por conta da volatilidade enfrentada pelo setor atualmente”.
Obstáculos e projeções
Além de uma quebra de safra que,
Diante de todo este cenário, Medeiros acredita que o número de pedidos de recuperação judicial apontará para o crescimento no número de pedidos no segundo trimestre. “Não há nenhum indicativo de que haja uma reversão do quadro a curto prazo. Não estamos passando por uma crise generalizada, mas uma parcela do setor atravessa um problema atualmente que só é possível vencer com a recuperação judicial”, finaliza o advogado.