"Temos certeza que teremos a vitória", diz mãe de Milena Gottardi sobre julgamento
Família de médica assassinada se prepara para acompanhar o júri, que começa na próxima segunda (23). Irmão da médica irá depor no lugar da mãe
A mãe da médica Milena Gottardi, que foi assassinada em setembro de 2017, falou sobre a expectativa para o júri popular dos seis acusados, que começa na próxima segunda-feira (23), no Fórum Criminal de Vitória.
Durante coletiva na manhã desta sexta-feira (20), Zilca Maria Gottardi destacou que a família já aguarda por esse momento há muito tempo e agora, tudo que eles querem é justiça.
"Todos nós estamos com uma expectativa muito grande, porque vai acontecer aquilo que nós queríamos que acontecesse há mais tempo. É muito difícil, mas a gente sente que está chegando a justiça e é isso que nós queremos: muita justiça. Minha filha não volta mais, mas está sempre no nosso coração. Nós temos certeza que vamos ter, realmente, a vitória. Temos muita fé que vamos conseguir", afirmou.
O julgamento do caso começa na próxima segunda-feira (23) e a previsão é que o mesmo dure, pelo menos, uma semana. Os seis réus serão julgados e 29 testemunhas serão ouvidas.
A mãe de Milena ainda relatou que o passar do tempo gerou incertezas e tristezas. A mãe da médica se agarra na fé para buscar forças e manter o coração aliviado.
"Muito desânimo, tristeza geral em nossa família. Nós ficamos sem chão, ficamos sem nada. Recebemos muito apoio de amigos, de pessoas que a gente nem tem amizade, ou que nem não conhecia. Perder um filho é perder tudo na vida. Não tem mais a razão de viver, fica muito difícil. Minha família toda sempre muito junta, então é por isso que estamos chegando até aqui. ´Pedindo a Deus força e tentando se acalmar, lembrando todos os dias, porque a gente deita e acorda e Milena está pertinho de nós. Agora estamos tentando aliviar o coração, ficando mais calmo, para descansar um pouco", disse.
Filhas da médica ainda sentem falta da mãe
Dona Zilca também falou da relação das crianças com a história de tudo que ocorreu com a mãe. As meninas, com 13 e 6 anos, estão sob guarda do tio, Douglas Gottardi, irmão de Milena.
"Dá aquele aperto de ver as crianças tão sofridas. Elas estão sentindo falta de mãe, porque mãe é tudo. É uma dor que não tem fim, só quem perde que sabe. A maior, com essa modernidade, ela mesmo pesquisa. A gente fala alguma coisa, mas ela já sabe. A pequena, de 6 anos, não. Ela já está perguntando porque ela ouve algumas coisas. É um momento muito difícil", afirmou.
Segundo o tio das meninas, há uma preocupação sobre como elas vão lidar com isso futuramente. Ele afirmou que já se prepara para falar com a mais nova, mas a adolescente já sente ansiedade com relação ao assunto.
"Com a Alice, mais velha, eu tenho medo. Há dias, na escola, ela teve uma crise de ansiedade e falou com a diretora e com a psicóloga que estava com medo de ter que voltar a morar com o pai, caso ele deixe a prisão. A menor, está na época de começar a questionar como a mãe morreu e porque o pai está preso. A gente tenta controlar para não falar a verdade, mas está chegando a hora dela saber o que aconteceu. Creio que após a condenação vou ter que levar ela ao psicólogo para que ela saiba de tudo", afirmou.
Espera por julgamento foi período de medos
Douglas ainda relatou que os quatro anos de espera pelo julgamento do caso foi um período de medos e incertezas. Para ele, a prisão dos réus é siônimo de tranquilidade para a família.
"Toda vez que pediam um habeas corpus, vinha o medo de eles saírem de lá, saber se realmente a justiça iria acontecer, se não ia ser passado em branco o que aconteceu. A cada coisa que ia acontecendo, nós ficávamos preocupados e voltava aquele sentimento de 'será que realmente vai ter justiça e vão pagar pelo que fizeram?'. É algo que enquanto não acontece o juri, volta todo dia".
"O júri, que vai começar, é uma forma de encerrar esse medo e acabar essa incerteza. Esperamos tanto para termos mais sossego e paz. Sabemos que vai ser condenados, mas pode ser que daqui uns dias vão ser soltos. Mas quanto mais tempo ficarem presos, a gente fica mais tranquilo", completou Douglas.
Acusação espera rigorosa condenação
O advogado que representa a família, Renan Sales, disse que todas as provas são favoráveis para que haja uma condenação dos réus.
"A constituição prevê uma pena respectiva para cada um de acordo com a conduta e pode ser que tenhamos penas diferentes. Em razão de todas as provas adquiridas no inquérito, não temos dúvidas de que os seis serão rigorosamente punidos. ´Temos desde provas testemunhais e técnicas. A condenação é a medida que se impõe", afirmou.
Sobre o e-mail supostamente enviado por Milena ao então marido, divulgado recentemente pela defesa, Sales disse que, por estratégia, não iria comentar sobre o assunto, mas estão preparados para isso.
"Durante todo o processo, os réus se utilizaram de várias medidas para que esse júri não acontecesse, para que o juiz fosse afastado, para que fosse retirado de Vitória. Para mim, essa é mais uma medida dessas. Vamos ter total condição de afastar a tese deste e-mail", disse.
O outro lado
Segundo o advogado da defesa de Hilário, Rodrigo Bandeira de Mello, ele está sofrendo alienação parental e tem por objetivo restaurar o relacionamento com as filhas.
"Respeitamos muito a dor da família da Milena e nos solidarizamos muito com ela. Esse fato é uma grande tragédia na vida de todos. Hilário amava e ama a Milena até hoje. As maiores dores na vida dele são a perda da Milena e do relacionamento com as filhas. Vamos aclarar todo o ocorrido no momento oportuno, durante o julgamento e perante o júri popular", declarou o advogado.
Médica foi morta quando saía de um plantão
O assassinato de Milena Gottardi aconteceu na tarde do dia 14 de setembro de 2017 e ganhou grande repercussão no Espírito Santo. A vítima atuava como pediatra oncológica no Hospital das Clínicas, em Maruípe, Vitória.
Quando saía de um plantão, acompanhada de uma amiga, a médica foi abordada, no estacionamento do hospital, por um homem armado, que chegou a anunciar um assalto.
Milena e a amiga chegaram a entregar os pertences ao suposto assaltante. Quando elas se dirigiam ao carro, o criminoso atirou três vezes em direção à pediatra, atingindo a mesma na cabeça e na perna, e fugindo posteriormente. A médica foi socorrida e internada em um hospital, mas morreu no dia seguinte.
A Polícia Civil agiu rápido e, dois dias após a médica ser baleada, dois suspeitos de envolvimento no crime foram detidos: Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do crime, e Bruno Rodrigues Broetto, apontado pela polícia como o responsável por conseguir a moto utilizada por Dionathas no dia do assassinato.
A prisão dos suspeitos aconteceu praticamente ao mesmo tempo em que o corpo de Milena era sepultado em Fundão, município onde a médica nasceu e foi criada e onde grande parte de sua família ainda mora.
Com a prisão da dupla, a polícia começou a desvendar o crime e provar que Milena não havia sido vítima de um latrocínio — como fez parecer o autor dos disparos — mas sim de um crime de mando. Faltava, no entanto, chegar aos mentores do assassinato.
Para conseguir as provas necessárias, a Polícia Civil conseguiu, junto à Justiça, que as investigações corressem sob sigilo. Isso porque o principal suspeito de encomendar a morte de Milena era o ex-marido dela, o então policial civil Hilário Antônio Fiorot Frasson, que atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PC, Guilherme Daré.
A ideia da Secretaria de Estado da Justiça (Sesp) era justamente impedir que Hilário tivesse acesso às provas obtidas pela Delegacia Especializada em Homicídios Contra a Mulher (DHPM), que conduzia o inquérito.
A prisão de Hilário aconteceu no dia 21 de setembro, exatamente uma semana depois do assassinato de Milena. Ele foi preso na Chefatura da Polícia Civil e encaminhado para um anexo da Delegacia de Novo México, em Vila Velha, onde ficam os policiais civis que são presos.